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CULTURA

O filme Marighella e o silêncio covarde

Douglas Rodrigues Barros*, de São Paulo, SP
Divulgação / Globo Filmes

Marighella é, do ponto de vista do bom cinema, perfeito. Não cede às tentações do drama bufão hollywoodiana, nem de suas pirotecnias. Tenta apresentar as personagens como pessoas comuns, apesar do seu grande destino. Nem os discursos, que poderiam recair no proselitismo kitsch, caem na armadilha do cinema massificado.

A violência é mostrada naquilo que ela é. Na sua nudez muda, silenciosa e conveniente ao Brasil. (Talvez o crítico alemão que tenha dela reclamado, não tenha assistido os kitschs filmes de Von Trier, que faz tempo que perdeu a mão, ou jamais tenha minimamente se interessado por um país que, ainda nessa semana, matou 27 pessoas numa operação policial.)

Fotografia, diálogos e, sobretudo a imagem do desespero pelo silêncio, dão força a composição. O filme vaza em boa hora. Marighella, que viveu na absoluta censura, tem seu filme em 2021 convenientemente censurado, uma censura relativa conforme os interesses da grande mídia. Mas nós o assistimos. É um grande filme. Mostra a permanência da violência que forjou esse país e, por sair numa época dessas, apenas nos desperta para sua atualidade.

Se a palavra é fascista, o silêncio nesse país é reacionário, covarde e monstruoso!

*Doutor em filosofia pela Unifesp.

 

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