Nesta quinta-feira (6), o Rio de Janeiro foi manchado de sangue. Um dia após a reunião entre o governador do estado Cláudio Castro e o presidente da República Jair Bolsonaro, a favela do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade, foi palco de uma operação policial que resultou no assassinato de 25 pessoas.
De acordo com informações do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF), esta já é a operação policial mais letal da capital carioca, ultrapassando a do Complexo do Alemão, em 2007, que contabilizou 19 mortes e a de Senador Camará, que ocorreu em 2003 e resultou em 15 assassinatos. A ação ocorreu mesmo com suspensão pelo STF de operações em favelas durante a pandemia, válida desde junho do ano passado.
Imagens da violência
Enquanto o discurso do Governo do Estado e da Polícia Civil era reverberado na imprensa tentando justificar os assassinatos classificando as vítimas como “bandidos”, nas redes sociais circularam durante todo o dia imagens explícitas do cenário de guerra instaurado no Jacarezinho. Sangue por todos os lados, moradores limpando as calçadas manchadas de vermelho, corpos estirados nos chãos.
Apesar das cenas brutais, representantes da Polícia Civil negaram, em entrevista coletiva concedida ainda nesta quinta, que aconteceram execuções no Jacarezinho. Para eles, apenas a morte do policial civil André Farias, baleado na cabeça quando retirava uma barricada, teria sido uma execução. Os 24 demais, apenas classificaram de “criminosos”.
‘Ninguém troca tiro sentado numa cadeira’
Além das imagens que demostraram a brutalidade da ação, durante todo o dia defensores dos direitos humanos percorreram a comunidade e relataram os abusos cometidos.
Tudo parece execução. Um menino morreu sentado numa cadeira. Ninguém troca tiro sentado numa cadeira
“Entramos em umas cinco, seis casas e todas com a mesma dinâmica. Casas arrombadas, tiros, execução. Não tem tiro de troca. Tudo parece execução. Um menino morreu sentado numa cadeira. Ninguém troca tiro sentado numa cadeira. Isso é muito cruel, é barbárie. Entraram no Jacarezinho e mataram 25 pessoas”, relatou o advogado Joel Luiz em vídeo divulgado nas redes sociais.
Entre as violações relatadas está a execução de um homem no quarto de uma menina de oito anos. O assassinato teria ocorrido na presença de uma família inteira e a vítima estaria desarmada. Os relatos são do também advogado Rodrigo Mondego.
Fui no quarto de uma menina de 8 anos e pisei sem querer em massa encefálica humana de uma pessoa executada ali
Parlamentares e organizações cobram resposta do Governo do Rio de Janeiro e da Procuradoria Geral de Justiça do Estado
Além de entidades dos direitos humanos, organizações políticas também cobraram respostas do Governo do Estado do Rio de Janeiro em relação às execuções. Um ofício ao Governador do Rio de Janeiro e ao Procurador Geral de Justiça foi protocolado pela Bancada do PSOL na Câmara, exigindo investigação, perícia local e no Instituto Médico Legal. O documento também é assinado pela bancada do PSOL na ALERJ, pelo líder do partido na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, Tarcísio Motta, e pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).
Não é possível que pessoas negras e faveladas continuem sendo alvo dessa política genocida
“Mais de 25 pessoas foram mortas pelo braço armado do Estado, que segue seu plano genocida. O governador do Rio e o Procurador Geral de Justiça do Estado precisam iniciar uma rigorosa investigação sobre a ação policial e nos dar uma reposta sobre essa barbárie. Não só a nós, mas às famílias, aos moradores, cidadãos e cidadãs do Rio. Não é possível que pessoas negras e faveladas continuem sendo alvo dessa política genocida”, enfatizou a deputada Talíria Petrone, líder do PSOL na Câmara dos Deputados.
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