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EDITORIAL

A CPI da Covid tem que terminar em impeachment

Editorial de 16 de abril de 2021
Projeção em prédio em SP. Está escrito: Sem oxigênio, sem vacina, sem governo.
Reprodução / Projetemos

English Version:The COVID Parliamentary Commission of Inquiry must end in impeachment

Depois de mais de 360 mil mortes no Brasil, o Senado finalmente aprovou a CPI da covid-19, que tem como objetivo apurar a atuação do governo federal no combate à pandemia. A decisão ocorreu após a ordem do STF para que Rodrigo Pacheco instalasse a CPI. Enfraquecido, o governo tem apenas o apoio de quatro dos onze membros titulares da Comissão. Esse fato abre possibilidade real de que a investigação possa avançar, revelando provas dos diversos crimes cometidos pelo presidente. Tanto é, que Bolsonaro está visivelmente desesperado com a abertura da CPI, como ficou evidente no áudio gravado pelo senador Jorge Kajuru.

O governo federal fará de tudo para atrasar e melar a Comissão, seja tentando envolver governadores e prefeitos na investigação, para criar confusão e desvio de foco, seja protelando e inviabilizando sempre que possível os trabalhos da CPI. Ou ainda comprando o voto e apoio de parlamentares, com emendas ao orçamento, cargos e obras. Por isso, é papel da esquerda atuar firmemente, dentro e fora do parlamento, para que a investigação cumpra com o seu dever. A CPI precisa abrir caminho ao impeachment do genocida, nada menos.

Há abundantes evidências dos crimes contra a humanidade cometidos por Jair Bolsonaro desde o início da pandemia da covid-19 no Brasil. O governo atuou deliberadamente, por meio uma série de ações e omissões, pela disseminação do vírus no país, buscando alcançar a “imunidade de rebanho”, ou seja, o acelerado e massivo contágio em massa. Bolsonaro estimulou aglomerações e o não uso de máscaras, boicotou medidas de distanciamento social, atrasou a compra de vacinas e fez apologia do uso medicamentos comprovadamente ineficazes no tratamento da covid-19, como a Cloroquina e a Ivermectina.

Há provas que incriminam o governo na catástrofe ocorrida em Manaus em janeiro. Mesmo avisado com antecedência da iminente falta de oxigênio hospitalar no estado do Amazonas, o Ministério da Saúde, então sob a direção de Eduardo Pazuello, nada fez para impedir a tragédia. Do mesmo modo, está comprovado que o governo optou por não assinar contratos de compras de vacina com a devida antecedência, em 2020, o que provocou o irreparável atraso e insuficiência de imunizantes para a população, custando a perda de dezenas de milhares de vidas.

Existem, também, provas de que o governo federal não tomou providências para a compra em quantidade adequada de medicamentos vitais para internação e intubação de pacientes com covid, que estão em falta nos hospitais em todo país. Bolsonaro não comprou o “kit intubação” para abastecer o sistema de saúde, mas ordenou compra e fabricação de cloroquina com dinheiro público.

Portanto, são tantas as evidências de crimes contra vida e a saúde pública cometidos por Bolsonaro que, se a CPI instalada no Senado realizar uma investigação séria, não restará outro caminho possível senão a abertura do processo de impeachment. Mas isso não está garantido. Para que os senadores cumpram com essa obrigação legal e moral nessa investigação, é fundamental que haja pressão e mobilização social fora do parlamento. Os partidos de esquerda, sindicatos, movimentos sociais, e os movimentos negro, feminista e LGBT precisam atuar nesse sentido. As greves sanitárias, atos simbólicos e colagens programadas para este dia 20, assim como as campanhas de solidariedade ativa, são um passo importante nesta mobilização. Bolsonaro tem que pagar pelo crime de genocídio. O impeachment salva vidas.