Neste ano de 2021, celebramos não somente os 150 anos da Comuna de Paris, o primeiro governo proletário da história, mas também o nascimento da tática da Frente Única Operária, há 100 anos, cujo epicentro foi a Alemanha.
Era, aliás, justamente na Alemanha onde existia o mais forte partido social-democrata do mundo naquele momento, que, no entanto, já havia consumado sua conversão ao reformismo sob a direção de Kautsky e Bernstein. Tal processo, percebido em primeiro lugar por Rosa Luxemburgo, ficou evidente em 1914, quando a maioria parlamentar do SPD votou à favor dos créditos de guerra, gesto que significou uma capitulação explícita à burguesia alemã, portanto uma traição ao socialismo. Com efeito, foi justamente em um contexto de ruptura com os partidos social-democratas em todo o mundo que os PCs surgiram e se organizaram de forma independente.
Tendo sido objeto de árdua polêmica entre os comunistas na aurora da década de 20 do século XX, até ser aprovada em 1922 pela Komintern como tática válida para aqueles PCs imersos em contextos nacionais de hegemonia social-democrata, sua importância é indiscutível, sobretudo sob conjunturas reacionárias como a que vivemos no Brasil. Sobre ela podemos afirmar que foi a única tática que, ao longo dos últimos 100 anos, conseguiu passar na prova da história sempre que esteve em questão a luta contra tentativas de golpes reacionários ou a resistência sob governos de extrema-direita.
Na sequência da I guerra mundial e da revolução russa, o movimento operário europeu protagonizou uma formidável onda de mobilizações políticas que se espraiou por todo o velho continente chegando, de fato, a colocar as burguesias em cheque em muitos países. Foi o caso de países como Finlândia, Polônia, Romênia, Inglaterra, Espanha, Ucrânia, Itália, Áustria, Alemanha, além da própria Rússia.f
Como Lênin chegou a afirmar, a guerra foi parteira de várias revoluções. Por seu lado, o próprio premier da principal nação imperialista naquele momento, Lloyd George, em tom de receio, assim comentou sobre aquela onda revolucionária que varreu a Europa no pós-guerra:
“Toda a Europa está invadida pelo espírito de revolução. Há um profundo sentimento não só de descontentamento, mas de cólera e revolta entre os trabalhadores contra as condições anteriores à guerra. Toda a ordem existente, em seus aspectos políticos, sociais e econômicos, é questionada pela massa da população de um extremo ao outro da Europa” (apud Cahiers du mouvement ouvrier, 2008, p. 70).
Na Itália, país marcado por um contexto de instabilidade política e social na sequência de sua derrotado na guerra, o movimento operário de Turim e Milão encabeçou uma onda de greves com ocupação de fábricas, a exemplo da própria FIAT, ao lado de grandes insurreições agrárias no norte que incendiaram o país. Esse impressionante clima de agitação social de fato determinou uma virada na correlação de forças entre os anos de 1919 e 1920 que ficou conhecido como bienio rosso, ou biênio vermelho.
Na Hungria, nação que havia sido parte do Império Austro-Húngaro e que compôs a tríplice aliança junto com Alemanha e Itália, milhares de comitês populares tomaram conta do país, na sequência da insurreição que destroçou o império e proclamou a República Democrática Húngara. Contudo, nenhum dos problemas questionados pelo povo foi solucionado: fome, hiperinflação, desemprego, concentração de terras, reunificação entre a maioria magiar e os demais grupos étnicos, etc. Com efeito, em março de 1919 os operários tomaram Budapeste e proclamaram o nascimento da República Soviética Húngara, liderada pelo comunista Bela Kun.
A Alemanha, depois de ter assinado sua capitulação na guerra, também entrou em franca ebulição. Em Berlim os deputados socialistas Philipp Scheidemann e Karl Liebknecht proclamaram a república em 9 de novembro de 1919, o que precipitou a fuga do imperador Guilherme II para o exílio na Holanda. Em Bayern, uma das principais fortalezas proletárias do país, foi estabelecida uma república socialista baseada em conselhos de operários e soldados e durante os meses de novembro de 1918 a janeiro de 1919 o país viveu diretamente uma crise revolucionária.
Giro conjuntural na virada de décadas e reestabilização do capitalismo europeu
Contudo, o quadro marcado pela situação revolucionária aberta pela guerra mundial e pela revolução russa se exaure ainda no final da década, seja pelo esgotamento das forças em luta, seja diretamente pela derrota destas, o que permitiu uma relativa recuperação da estabilidade econômica e a retomada da ofensiva política pela burguesia na correlação entre as forças sociais daqueles países na década seguinte.
De fato, o biênio vermelho na Itália entrou em declínio e o quadro conjuntural, caracterizado pela ofensiva proletária, se alterou drasticamente com o crescimento do movimento fascista, que realizou uma marcha em Roma no ano de 1922 e impôs a nomeação de Mussolini como primeiro-ministro do país. A república dos conselhos na Hungria teve seu fim em agosto de 1919 quando foi esmagada pela intervenção conjunta dos exércitos romeno e tchecoslovaco. Já a situação revolucionária que havia se aberto na Alemanha se encerrou de maneira dramática com o esmagamento da república socialista de Bayern e com a execução de Rosa Luxemburgo e Karl Liebcknetch por ação da milícia protonazista, Freikorps1.
Na verdade, o próprio Lênin, em fins de 1920, já vinha contendo suas esperanças acerca de um possível desenlace vitorioso daquela onda revolucionária continental, resignando-se com a “diminuição do ritmo da revolução europeia” (apud Mermelstein, 1993, p. 16) e com o consequente isolamento da revolução russa.
Uma nova tática para uma nova conjuntura: a proposta de Paul Levi e Karl Radek
Em princípios de 1921, no contexto de uma nova situação agora marcada pela reestabilização econômica do capitalismo mundial, pela ofensiva burguesa sobre as condições de vida do proletariado e pela forte influência social-democrata sobre o movimento operário, o dirigente do VKPD*, Paul Levi (foto), e o emissário ucraniano da IC na Alemanha, Karl Radek, inauguram uma tática que posteriormente entrará para a história do movimento operário sob a denominação de Frente Única Operária.
Para ambos, estava em questão a adoção de uma tática adequada àquela nova conjuntura e que permitisse ao VKPD uma margem de atuação em um contexto de hegemonia política do SPD. A apreciação de ambos era de que a onda revolucionária do fim da década anterior havia entrado em uma dinâmica de arrefecimento e que, portanto, era necessário preparar o partido alemão para atuar no marco de uma conjuntura defensiva e sem gozar de grande influência no movimento operário, haja visto a influência muito superior da social-democracia. Então, Levi e Radek redigem um documento público lançado à direção e às bases das organizações da esquerda germânica (SPD, USPD e KAPD), bem como ao movimento sindical do país (ADGB, AAUD), convocando a luta comum em torno de bandeiras mínimas: a valorização dos salários e a instituição de medidas econômicas de interesse dos trabalhadores, libertação de presos políticos, dissolução das milícias reacionárias herdadas do esmagamento da revolução de 1919 e a constituição de comitês comuns de defesa por fábricas, distritos, etc. Lançada na imprensa comunista no dia 08/01/1921, em essência a carta aberta dizia o seguinte:
“Ao propor esta base de ação, nós não dissimulamos em nenhum instante , nem a nós mesmos, nem às massas, que as reivindicações que enumeramos não podem acabar com a sua miséria. Sem desistir nem por um momento de continuar a difundir entre as massas operárias a ideia da luta pela ditadura do proletariado como único caminho para a libertação completa, sem renunciar a chamar e a dirigir as massas operárias em cada momento na luta por tal objetivo, o Partido Comunista Unificado está pronto à ação comum com os partidos que se baseiam no proletariado para realizar as medidas indicadas.
Nós não dissimulamos aquilo que nos separa de outros partidos e que nos opõem a eles. Ao contrário, nós declaramos: nós não queremos, da parte daquelas organizações às quais nos dirigimos, uma adesão de palavra em relação às bases de ação pelas reivindicações que nós enumeramos.
Nós lhes perguntamos: estão prontos para começar sem demora, em comum conosco, a luta mais implacável por estas reivindicações?
A esta questão clara e sem ambiguidade, nós esperamos uma resposta também clara e inequívoca: a situação exige uma resposta rápida. É por isso que nós esperamos uma resposta até 13 de janeiro de 1921.
Se os partidos e sindicatos aos quais nos dirigimos se recusarem a começar a luta, o VKPD estará obrigado a levá-la só e está convencido de que as massas o seguirão. De hoje em diante, o VKPD se dirige a todas às organizações proletárias do país e às massas agrupadas ao redor delas apelando para que proclamem, nas assembleias, sua vontade de se defenderem juntos contra o capitalismo e a reação, de defender, em comum, seus interesses.” (Die Rote Fahne, 08/01/21 apud Broué, 1971, pp. 294-295)
Na forma desta carta aberta estava ganhando feição a tática da Frente Única Operária. Em um artigo intitulado “A construção da frente única proletária de luta” Radek (foto) ofereceu uma explicação bastante rica para aquela nova tática, assim justificando-a:
“Os operários social-democratas estão cheios de ilusões democráticas. Eles esperam ainda poder melhorar a sua situação no quadro da sociedade capitalista e consideram os comunistas como divisionistas conscientes do movimento operário. Se os comunistas – dizem eles – não tivessem organizado a divisão da classe operária, e se o proletariado tivesse permanecido unido, teria a maioria no parlamento e tudo estaria bem (…). É claro que, nesta situação, nós não podemos contar com movimentos espontâneos, não organizados na Alemanha, a menos que as massas sejam deslocadas por acontecimentos externos. Dez milhões de operários são membros dos sindicatos. Eles têm seus olhos fixos em seus chefes, esperando a palavra de ordem (…). A estratégia comunista deve ser a de convencer as amplas massas dos trabalhadores de que a burocracia sindical e o Partido Social-Democrata, não somente recusam-se a lutar por uma ditadura operária, mas também não lutam pelos interesses quotidianos mais fundamentais da classe operária” (Die Internationale, 1921, n° 1, pp. 1-4, n° 2, pp. 10-16 apud Broué, 1971, p. 295).
No entanto, segundo a pesquisadora Ângela Mendes de Almeida (1987, p. 77) “A carta aberta foi rejeitada por todas as organizações, mas teve muita ressonância nas bases, cujo maior anseio era a unidade da classe operária para a ação”. De fato, as direções reformistas estavam movidas por enorme desconfiança para com o chamado apresentado na Carta, denunciando-a como uma manobra divisionista do VKPD cujo objetivo seria, segundo o SPD, fracionar e quebrar os sindicatos. Já o KAPD, de corte ultra-esquerdista, qualifica a carta como “oportunista, demagógica e geradora de ilusões” (Kommunistische Arbeiter Zeitung, n° 61, 15/01/1921 apud Broué, 1971, p. 296).
Todavia, o chamado encontrou audiência bastante favorável nas bases operárias: trabalhadores do estaleiro AG Vulcan de Stettin; funcionários da fábrica Siemens de Berlim; ferroviários de Munique, Leipzig, Schwerin, Brandebourg e Berlim; metalúrgicos de Dantzig, Leipzig, Halle e Essen; mineiros de Dorstfeld. Em cada assembleia a carta aberta era apresentada, debatida e aprovada, o que permitiu ao VKPD ampliar sua influência entre o proletariado e conquistar uma localização privilegiada nos sindicatos e conselhos de fábricas.
Em particular, a maioria da direção do próprio VKPD, com honrosas exceções como Clara Zetkin, rechaçou a tática de Levi-Radek pois, segundo consideravam, “Propor ações conjuntas ao partido que representava a burguesia no seio da classe operária era equivalente a fazer perigosas concessões ao reformismo, (…)” (Almeida, 1987, p. 78). Tau Golin fornece ainda mais elementos para compreender essa postura dos comunistas alemães:
“Os PCs formaram-se em ríspidos e inconciliáveis processos de ruptura com os social-democratas e socialistas não aderentes à visão estratégica da ditadura do proletariado”, assim, sua prática política se caracterizava por colocar na ordem do dia, sem quaisquer mediações, “a iminência do assalto aos Estados capitalistas” (Golin, 1989, p. 7).
Aliás, o próprio surgimento do VKPD foi o resultado de uma fusão bem recente entre o KPD(S) e a maioria do USPD. Com efeito, o VKPD passou a organizar algo próximo a meio milhão de militantes, o que também serviu para encorajar os dirigentes do VKPD e parte da IC a enxergar a iminência da revolução socialista e da ditadura do proletariado. Tal era o nível de otimismo nos meios comunistas alemães e na própria IC, que coisas do tipo eram frequentemente escritas nas páginas de Die Rote Fahne (A bandeira vermelha), órgão de imprensa do VKPD: “Praticamente em toda a Europa, as forças da classe trabalhadora são hoje tão grandes que a vitória do proletariado apresentaria poucas dificuldades se ela fosse suficientemente preparada para cumprir a sua missão histórica” (apud Broué, 1971, p. 279).
No âmbito da IC, dentre os críticos da tática de Levi-Radek estavam os russos Nikolai Bukharin e o próprio presidente da IC, Grigori Zinoviev, bem como o húngaro Bela Kun. Por outro lado, Lênin e Trotsky simpatizam com a ideia da carta aberta. Dada essa situação, não foi estabelecido nenhum veto sobre a nova tática, mas esta é colocada em suspenso e o debate sobre sua validade e aplicabilidade é remetido ao juízo dos delegados do 3° congresso da IC, que estaria por ocorrer em junho-julho de 1921.
Livorno no centro das atenções do comunismo europeu
Ao mesmo tempo, a maioria dirigente do VKPD foi muito influenciada pelo congresso de Livorno, ocorrido em janeiro de 1921, quando fundou-se o PCI a partir de sua ruptura com o PSI, sendo este processo nitidamente marcado pela aceitação da teoria da ofensiva por parte dos delegados fundadores do PCI.
O PSI era membro do Komintern desde 1920. No momento do seu XVII congresso, realizado na cidade italiana de Livorno, suas fileiras estavam divididas em três alas: os reformistas, dirigida por Filippo Turati, que todavia não chegava a alcançar 9% dos delegados; os maximalistas, dirigida por Giacinto Serrati, que reunia algo bem próximo a 59% dos delegados e, por fim, a ala dos abstencionistas, liderada por Amadeo Bordiga2, cuja representação era de 34% dos delegados.
Bordiga, que se destacou na história da esquerda italiana por suas posições esquerdistas, foi parte da geração comunista que, impressionada pela revolução russa, ignorava os pilares básicos da estratégia leninista, ou seja, a combinação entre flexibilidade tática e rigidez nos princípios, em favor de posicionamentos sectários e ultimatistas. Entre outras coisas, Bordiga defendia a abstenção nos processos eleitorais e estava alinhado aos partidários da Teoria da ofensiva, então bastante em voga. Serrati, contudo, não consentia com a posição de Bordiga, que exigia o expurgo da ala reformista das fileiras do PSI. Diante do impasse, já que a ala de Serratti era indiscutivelmente maior, a ala de Bordiga resolveu abandonar o salão do Teatro Goldoni, local em que os delegados estavam reunidos, e partir para o Teatro São Marco, onde proclamou a fundação do PCI, perfeitamente alinhado com as ideias de Bordiga.
Para o húngaro Mátyás Rákosi (apud Dauvé e Authier, 1976), representante da IC no congresso de Livorno e um dos instigadores do racha da ala Bordiga com o PSI, o que ocorreu em Livorno estava longe de ser um assunto “puramente italiano”. De fato, o congresso em questão se tornou um paradigma para o movimento comunista, sobretudo entre os alemães. Muitos comunistas alemães que, na qualidade de convidados e observadores, assistiram às sessões daquele congresso, passaram a extrair algumas conclusões dali. A principal delas é que era sintomático que o PCI nascesse alicerçado sobre a teoria da ofensiva, pois tal fato seria uma demonstração supostamente inequívoca do crescimento das forças comunistas revolucionárias naquele momento.
Paul Levi, que também esteve naquele Congresso, todavia, defendia uma posição diversa daquela manifestada pela maioria de seus pares alemães. Preocupado com a possibilidade daqueles eventos incidirem na vida interna do VKPD, o comunista alemão em uma carta ao Executivo da Komintern manifestou sua opinião contrária à maneira como se havia fundado o Partido Comunista da Itália (Golin, 1989, p. 13), já que ficaram de fora das fileiras da IC “centenas de milhares de trabalhadores revolucionários que permanecem no PSI, com Serrati, ou abandonam a atividade política. Ainda mais preocupante […]: a bandeira do comunismo na Itália passa para as mãos de notórios esquerdistas como Bordiga” (Broué, 1971, p. 298).
Então, a partir dali consolidaram-se de vez as posições da ala que havia rechaçado a tática da carta aberta de Levi-Radek. Como resultado, a direção do partido fica em mãos de Heinrich Brandler, Walter Stoecker, Paul Böttcher, Paul Frölich, Ernst Meyer e August Thalheimer, depois da renúncia do grupo próximo à Levi, que perdia cada vez mais espaço: Clara Zetkin, Ernst Däumig, Otto Brass, Adolf Hoffmann e Curt Geyer.
Kommunismus: centro instigador da teoria da ofensiva
Em princípios de março, Bela Kun foi deslocado para Berlim. Com a sua chegada o VKPD passa a atuar não mais somente sob orientação da nova direção alemã, mas agora também sob orientação direta daquele que estava entre os principais defensores da chamada teoria da ofensiva e que havia se coberto de honra ao ter dirigido a república soviética húngara.
Para os partidários da teoria da ofensiva, havia uma relação quase mecânica entre crise econômica e reação proletária. E mais ainda. No ponto de vista de seus defensores, ignorava-se o fato de que no ano de 1920 houve um giro na conjuntura geral que colocou os trabalhadores em uma posição defensiva na correlação de forças, portanto, em uma condição desfavorável. Para esta corrente, a despeito das derrotas do fim da década anterior, era tarefa dos partidos comunistas posicionarem-se com o objetivo de forçar as condições a fim de precipitar uma situação revolucionária. Para consumar essa tática, os partidos comunistas deveriam delimitar-se o tempo todo dos partidos reformistas, buscando inclusive incidir na base deles com propaganda revolucionária a fim de produzir deslocamentos à esquerda em seu interior. Qualquer mediação tática fora da luta pela imediata instauração da ditadura proletária, como por exemplo a intervenção dos partidos comunistas nas eleições ou ações unitárias com a social-democracia, era rechaçada.
Tal teoria vinha sendo animada nas páginas da revista Kommunismus3, um órgão de debates teóricos publicado em língua alemã na cidade de Viena e dirigida por um grupo de emigrados húngaros cujo nome principal era o filósofo György Lukács.
Comentando em tom crítico as concepções de Kommunismus, Trotsky levanta uma passagem da revista que constitui toda uma síntese da compreensão dos seus editores sobre aquele momento e as tarefas dali decorrentes. Segundo Kommunismus, “O traço principal do atual período revolucionário é que devemos, tanto nos combates parciais e até aqueles puramente econômicos, tais como as greves, lutar com os instrumentos da batalha final, ou seja, com as armas em mãos” (apud Trotsky, 2016, p. 353). Para Trotsky, diante da influência que estas ideias vinham ganhando entre grande parte dos militantes da IC, era necessário alertar sobre os riscos que elas representavam: “A burguesia não poderia pedir algo melhor! (…) Nestas condições, a teoria de que sempre deve-se tomar a ofensiva e travar batalhas parciais com os métodos da insurreição armada é o mesmo que jogar água no moinho da contrarrevolução” (Trotsky, 2016, pp. 353-354).
Março de 1921: a teoria da ofensiva é posta à prova
No marco da nova direção com Brandler, Stoecker e Thalheimer à frente, sob o auxílio de Kun, o VKPD resolveu partir para a ação. Segundo um apelo lançado por Kun “A Rússia se acha numa situação extraordinariamente difícil. É absolutamente necessário que ela seja apoiada por movimentos no Ocidente e, neste sentido, o partido alemão deve passar imediatamente à ação” (apud Milos Hájek, 1985, p. 184). Assim, o VKPD se lança à ação de março de 1921, uma tentativa de levante armado realizada a frio, portanto de forma artificial:
“A ação foi desatada quando o governo social-democrata da Saxônia, sob o pretexto de controlar as pilhagens da região, anunciou a intenção de ocupá-la através da polícia. O verdadeiro objetivo do Oberpräsident Hörsing era recolher as armas em poder dos operários desde a tentativa de golpe reacionário de Kapp e desmantelar o bastião comunista. Tratava-se, evidentemente, de uma provocação.
O VKPD, intoxicado pela chamada ‘teoria da ofensiva’, que dizia que os comunistas deveriam tomar a iniciativa, ‘forçar o desenvolvimento da situação revolucionária’, para despertar a classe operária e provocar uma mudança decisiva na correlação de forças entre as classes, lançou-se ao combate” (Mermelstein, 1993, p. 16).
A deflagração daquele levante foi acompanhada de um verdadeiro ultimato lançado ao movimento operário e às suas organizações políticas e sindicais. Com efeito, na edição de Die Rote Fahne de 20 de março (apud Broué, 1971, p. 311) é publicado um editorial bombástico cujo título era “Quem não está comigo está contra mim”. Endereçado “aos trabalhadores social-democratas e independentes”, o editorial chamava a socorrer os operários da Alemanha central. Todavia, dois dias antes da publicação deste editorial, já vinha circulando um artigo subscrito por Brandler cujo eixo era a convocação ao armamento geral dos trabalhadores, a pretexto de que o governo social-democrata bávaro nada fazia para desarticular o bando paramilitar local comandado pelo reacionário Georg Escherich. Havia nesta iniciativa de Brandler, um descompasso com o chamado à resistência ante o ataque de Otto Hörsing.
Entre os dias 19 e 20 de março começam a chegar nos distritos mineiros da Saxônia os primeiros contingentes militares. No dia 21, em muitos dos bairros operários ocupados pelas tropas de Hörsing, começa a se desenvolver uma incipiente reação grevista. A regional do VKPD, contudo, sem avaliar a recepção de suas consignas nos meios proletários e nem a evolução dos fatos na região e no país, apela para a cartada máxima: a greve geral em todo o distrito. Entretanto, já no dia seguinte, o chamado se mostra fracassado.
Daí em diante, seguiu-se uma sequência de outros erros e barbaridades ainda piores. O KAPD, que também tomou parte naqueles eventos em um acordo firmado com Bela Kun e receava ficar eclipsado pelo VKPD, deslocou para a região toda sorte de aventureiros inescrupulosos cuja incumbência era organizar provocações a fim de incitar a violência da polícia para, então, incendiar os ânimos e instigar a combatividade dos operários. Em algumas fábricas, ambos os partidos até obtiveram êxito e paralisaram as atividades, contudo, a concorrência entre ambos não permitiu uma ação comum no interior do comando de greve.
O que era para ser um levante de massas na região, como antessala de uma insurreição nacional, conforme desejavam os responsáveis daquela ação, acabou praticamente reduzido a uma guerrilha de rua contra as tropas militares.
No restante do país o fracasso daquela ação também se fez notar. Na capital, o chamado à greve geral lançado em conjunto pelos oradores do VKPD e do KAPD não encontrou o menor respaldo. Estes passaram, então, a recorrer a táticas bizarras para forçar a adesão dos operários, como atacá-los a caminho do trabalho. Assim como na região do Ruhr ou da Turíngia, ambos os partidos designam seus militantes para ocuparem fábricas através de piquetes surpresa, mas estes acabam se chocando com os trabalhadores que não aceitaram aderir ao chamado, ou seja, a esmagadora maioria deles. Insatisfeitos, os comunistas passaram a tratá-los como “amarelos”, “covardes”, etc.
Em Hamburgo, no dia 24 de março, uma tentativa de ocupação dos estaleiros se converte em banho de sangue em pouquíssimas horas e o governo recorre à constituição imperial para decretar estado de emergência tanto em Hamburgo como na Saxônia. Hörsing obtém plenos poderes para restabelecer a ordem. Os militantes mais prudentes não receiam manifestar seu ceticismo com o desenlace de todo aquele espetáculo absurdo e exigem de suas lideranças o imediato encerramento da ofensiva. Contudo, estas permanecem intransigentes. Como resposta ao decreto de estado de emergência, o VKPD e o KAPD endossam o chamado à greve geral, às vésperas do feriado de páscoa, e a aventura segue por mais cinco dias, quando só então começam as primeiras rendições. Entretanto, foi somente no dia 1 de abril que as direções de ambos os partidos resolveram formalmente recuar.
O saldo daquela iniciativa evidenciou-se de imediato:
“O desastre foi completo; a greve geral não mobilizou nem o total de militantes do partido. Houve 400 presos, milhares de demitidos, cerca de dois terços dos militantes saíram do partido e, pior que isso, os comunistas ficaram isolados e desmoralizados perante os trabalhadores” (Mermelstein, 1993, p. 16).
O historiador Pierre Broué destaca uma nota trágica, porém emblemática, a respeito do significado daquela ação:
“(…), Wilhelm Sült, preso, havia sido baleado por ‘tentativa de fuga’, no mesmo prédio da sede da polícia. Seu funeral em 6 de abril será a ocasião da única manifestação de massas do proletariado de Berlim durante este período: o homem cujas iniciativas foram decisivas para o sucesso da greve geral em Berlim contra o putsch de Kapp reuniu após seu assassinato a multidão de camaradas que, pela primeira vez, não o tinha seguido durante a greve geral lançada pelo V.K.P.D.” (Freiheit, 07/04/21; Die Rote Fahne, 07/04/21 apud Broué, 1971, p. 314)
Diante da absoluta bancarrota na qual resultou aquela iniciativa, abriu-se uma polêmica que envolveu a Internacional Comunista em todo seu conjunto.
Paul Levi: contra o putschismo
A derrota da ação desencadeada pelo VKPD, contudo, não modificou a opinião de seus dirigentes. Assim, em um artigo de 30 de março no jornal Die Rote Fahne o VKPD declarou:
“Dizemos francamente aos trabalhadores independentes e do SPD: a culpa pelo banho de sangue repousa não somente sobre cabeça de seus líderes, mas também sobre a cabeça de cada um de vocês, se silenciosamente ou com débeis protestos toleram Ebert, Severing e Horsing desatando o terror branco e a justiça branca contra os trabalhadores, dando uma surra em todo o proletariado. (…) Vergonha e desgraça para aqueles trabalhadores que não intervêm neste momento, vergonha e desgraça para aqueles trabalhadores que ainda não se dão conta qual é o seu lugar” (Die Rote Fahne apud Paul Levi, 2020).
Nem mesmo diante do estado de semidestruição do VKPD na sequência da derrota da ação de março, seus dirigentes são capazes de corrigir a análise. Assim, em um artigo de 10/04/1921, a direção do que restou do partido seguia endossando:
“Nas épocas de profunda tensão política, tais ações, mesmo se elas levam a uma derrota provisória, constituem a condição prévia das vitórias que virão e, para um partido revolucionário, a única forma de conquistar as massas para ele e para as lutas revolucionárias vitoriosas é fazer penetrar na consciência as massas a situação política objetiva” (Leitsätze über die Märzaktion, Die Internationale, n° 4, abril de 1921, p. 126 apud Broué, 1971, p. 329).
No polo oposto ao da direção do VKPD, Paul Levi elaborou um extenso documento em que atacou as bases ideológicas que deram sustentação àquela aventura e tentou acertar as contas com os seus responsáveis. Sob o título de “Contra o putschismo”, neste riquíssimo documento Levi (2020) qualificou o levante de março como “o maior putsch bakuninista da história” [4] e de um “jogo irresponsável jogado com a existência do partido, com as vidas e destinos de seus membros” e ainda acusou os dirigente do partido de seguirem “negando-se a ver o que fizeram”. Assim, ao abrir seu documento, Levi lamenta:
“Quando estava planejando este panfleto, existia na Alemanha um Partido Comunista com meio milhão de membros. Quando o escrevi oito dias depois, este Partido Comunista viu seus alicerces destroçados e sua mera existência questionada” (Levi, 2020).
Em seu documento, Levi assim concebe seu entendimento sobre qual deve ser o papel do partido em sua relação com o proletariado:
“A revolução não é um assunto do Partido Comunista, e menos ainda um monopólio comunista. Para usar a frase de Marx em uma carta a Kugelmann, é uma ‘revolução do povo’, ou seja, um processo violento em que todo o povo trabalhador e as forças oprimidas confluem, se erguem e se enfrentam – cada uma em sua própria forma – contra os opressores, processo no qual a melhor arte dos comunistas é juntar todas essas forças e liderá-las para um objetivo: derrotar os opressores.
(…) Uma ação que corresponda simplesmente com as necessidades políticas do Partido Comunista, e não com as necessidades subjetivas das massas proletárias, está arruinada de antemão. Os comunistas não têm a habilidade para tomar ação no lugar do proletariado, sem o proletariado, e em última instância inclusive contra o proletariado, particularmente quando são ainda uma minoria como tal no proletariado. Tudo o que podem fazer é criar situações, (…), nos quais o proletariado vê a necessidade da luta, luta e, nessas lutas, os comunistas podem liderar o proletariado com suas consignas” (Levi, 2020).
Mais adiante o revolucionário alemão descreve um interessante e ilustrativo episódio que se deu no desenrolar da ação de março, quando o VKPD já havia tentado render todo o proletariado do país com o chamado à greve geral:
“(…) havia um texto da organização de Berlin que declarava: ‘Sob nenhuma circunstância deve um comunista ir trabalhar, inclusive se estiver em minoria’. Portanto, os comunistas abandonaram as fábricas, em tropas de duzentos ou trezentos mais ou menos. O trabalho continuou e agora estão desempregados. Os patrões aproveitaram a oportunidade para fazer de suas fábricas lugares livres de comunistas, com um bom número de trabalhadores ao seu lado” (Levi, 2020).
Levi estava em seu pleno e legítimo direito de escrever essas linhas e defendê-las. Entretanto, a publicação delas gerou, de fato, um problema metodológico. Acusado de indisciplina e de expor publicamente o VKPD, quando depois da ação de março a burguesia aproveitou para desatar um processo persecutório contra os comunistas, podendo inclusive valer-se do documento em questão como prova incriminatória, Levi terminou expulso do partido em 15 de abril de 1921. Sobre a segunda acusação, Levi defendeu-se arguindo que “Nenhum caso foi citado onde a acusação agiu por causa do panfleto” (apud Gaido, 2017, p. 167).
Ernst Däumig, Clara Zetkin, Curt Geyer, Otto Brass, Adolf Hoffman e alguns dos principais dirigentes sindicais do partido, como os metalúrgicos Paul Eckert e Heinrich Malzahn, saíram em sua defesa e o próprio Levi tentou defender sua posição no partido colocando a questão “Qual é o crime: a ação de março ou sua crítica?”. Mas o ambiente estava cada vez mais hostil para Levi, tendo em vista declarações como a de Friesland, um dos dirigentes do VKPD, que dizia “Lamento que Levi só tenha sido expulso por uma infração disciplinar; é uma completa concepção de mundo que nos separa dele” (Die Rote Fahne, 10/05/21 apud Broué, 1971, p. 327).
Em seguida, a decisão da direção do VKPD foi endossada pelo executivo do Komintern em uma sessão no dia 29 de abril e corroborada pelo seu congresso em junho-julho.
Lênin e Trotsky sobre o balanço da ação de março
Lênin, que da Rússia acompanhava de forma rigorosamente atenta a evolução dos fatos na Alemanha, não perdeu a oportunidade de também fustigar a ala ultra-esquerdista da Internacional e a direção do VKPD que havia estimulado aquela aventura:
“A provocação era clara como o dia. E, no lugar de mobilizar as massas operárias para se defender, para rechaçar os ataques da burguesia e, assim, provar que vocês estavam com a razão, vocês inventaram vossa ‘teoria da ofensiva’, teoria absurda que oferece a todas as autoridades policiais e reacionárias a possibilidade de apresentá-los como aqueles que tomaram a iniciativa de agressão contra a qual tratava-se de defender o povo” (F. HECKERT, «Mes rencontres avec Lénine», Lénine tel qu’il fut, p. 804, apud BROUÉ, Pierre, 1997, p. 230).
Na verdade, o principal dirigente do partido bolchevique já vinha travando uma luta pública contra o ultra esquerdismo, cuja força era bastante expressiva nas fileiras da Internacional, desde 1920. Neste mesmo ano, para polemizar com os esquerdistas alemães, italianos e ingleses, Lênin chegou a publicar um importante ensaio sob o título de Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo5, em que esgrime severas críticas às inclinações sectárias de parte do comunismo europeu.
Trotsky, que assim como Lênin havia simpatizado com a proposição de Paul Levi a respeito da carta aberta e igualmente repudiou a ação de março, também incidiu nos debates, assim comentando aquela fracassada tentativa insurrecional:
“Em março de 1921, o Partido Comunista alemão realizou uma tentativa inócua para evitar o refluxo e derrubar o Estado burguês com um simples golpe. O pensamento que norteou o Comitê Central alemão foi salvar a República soviética – a teoria do socialismo num só país ainda não tinha sido proclamada. Mas acabou que a determinação da direção e a insatisfação das massas não foram suficientes para a vitória. Devem existir várias outras condições e, acima de tudo, um elo forte entre a direção e as massas e a confiança destas na direção. Tal condição faltava naquele momento” (Trotsky, 2010, p. 154).
Para Trotsky, que havia dirigido greves de operários nas revoluções russas de 1905 e 1917 e presidido o principal soviet do país em ambas as ocasiões, a tarefa era clara:
“Era preciso explorar o elemento moral da defesa e chamar o proletariado do país inteiro para socorrer os operários da Alemanha Central. A princípio poderiam ter sido diversas as formas deste auxílio, até que o partido pudesse lançar orientações mais generalizadas. A tarefa da agitação consistia em colocar as massas de pé, concentrar sua atenção sobre os acontecimentos da Alemanha Central, romper politicamente a resistência da burocracia sindical e assegurar, deste modo, o caráter geral da greve, como base possível para o desenvolvimento posterior da luta revolucionária. No entanto, o que de fato ocorreu? Uma minoria revolucionária e ativa do proletariado se opôs, na ação, à maioria antes de que esta última pudesse entender o sentido dos acontecimentos. Quando o partido se chocou contra a passividade e lentidão da classe operária, os elementos impacientes buscaram, aqui e ali, levar a maioria dos trabalhadores às ruas, já não mais mediante a agitação, senão através de medidas mecânicas. Se a maioria dos operários estão a favor de uma greve, podem forçar a minoria a fechar fábricas para levar a cabo a greve geral. Aconteceu assim mais de uma vez, e sempre será assim, e só imbecis podem protestar contra tais meios. Contudo, quando a esmagadora maioria da classe operária no tem uma visão clara do movimento, ou não simpatiza com ele, ou crê que não pode triunfar e a minoria se decide a avançar de qualquer maneira buscando levar os trabalhadores à greve por meios mecânicos, essa minoria impaciente, representada pelo partido, pode se chocar de maneira hostil com a classe operária e quebrar a própria coluna vertebral.
(…) E sob estas condições, quando a classe operária alemã em seu conjunto sente instintivamente que não poderá dar conta de semelhante inimigo com as mão desarmadas, que não basta o entusiasmo senão que necessita do cálculo frio, de uma clara visão das coisas, de uma preparação séria, e quando se espera tudo de um partido, grita-se: ‘nosso dever é aplicar uma estratégia ofensiva, ou seja, atacar a todo momento, pois, como veem, entramos na época da revolução’. É como se um comandante militar dissesse: ‘Já que começamos a guerra, nossa obrigação é tomar a ofensiva em todo tempo e lugar’. Um comandante assim sem dúvidas seria vencido, mesmo que tivesse uma clara maioria de forças a seu lado. Pior ainda, existem ‘teóricos’, tais como o comunista alemão Maslow, que chegam a dizer, a respeito dos acontecimentos de março, as seguintes barbaridades: ‘Nossos adversários nos criticam por conta da Ação de Março algo que consideramos como um mérito nosso, a saber, que o partido não se perguntou se a classe operária o seguiria ou não ao entrar na luta’. Do ponto de vista de um revolucionarismo subjetivo ou dos esseristas de esquerda é perfeito. Mas do ponto de vista marxista, é monstruoso!!” (TROTSKY, Leon, A School of Revolutionary Strategy – The First Five Years of the Communist International Vol II, Londres, New Park, 2003).
Portanto, para o revolucionário ucraniano, havia uma séria omissão na teoria da ofensiva:
“Uma séria ação de massas deveria ser precedida de uma agitação enérgica e generalizada, centrada ao redor de palavras de ordem definidas para tal fim. Tal agitação pode levar a realizar ações mais decididas somente se, depois de sondar o estado de ânimo das massas, ela revela, comprovadamente, que estão prontas para marchar adiante no caminho da ação revolucionária. Este é o princípio básico de toda estratégia revolucionária, e foi precisamente este princípio básico o que não foi levado em conta durante os acontecimentos de março. Antes que os batalhões policiais tivessem conseguido chegar às fábricas e minas da Alemanha Central, uma greve geral já havia começado ali. Como disse antes, os operários do centro do país estavam dispostos à luta e o chamado do CC teve uma resposta imediata. Contudo, no resto do país prevalecia uma situação totalmente diferente. A situação da Alemanha, tanto interna como externa, não era propícia para uma passagem brusca à ação. As massas simplesmente não compreenderam o chamado” (TROTSKY, Leon, A School of Revolutionary Strategy – The First Five Years of the Communist International Vol II, Londres, New Park, 2003).
Ou seja, Lênin e Trotsky eram bastante cientes de que para qualquer partido revolucionário, levar em conta a necessidade de mediações táticas, bem como a possibilidade de longas fases de acúmulo e educação política entre as forças do proletariado, era indispensável. No marco de uma estratégia política para a tomada do poder, era importante até mesmo considerar quando e quem tomaria a iniciativa nos grandes momentos de embate: se a burguesia ou proletariado. Para ambos, tais considerações constituem um ABC militante, ou seja, uma lição de primeira importância, para qualquer revolucionário.
Rumo ao III e IV congressos do Komintern
As diferentes interpretações sobre toda essa sequência de eventos, bem como a análise acerca daquela nova conjuntura europeia e a apreciação sobre a aplicabilidade da tática de Levi estiveram entre os principais temas que nortearam os debates do III e IV congressos da Internacional Comunista, ocorridos respectivamente entre junho-julho de 1921 e novembro de 1922. Em específico, estavam delineadas duas tendências adversárias, ou seja, os partidários da ofensiva permanente e os partidários da carta aberta.
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