Em fevereiro, o jornalista e militante Mumia Abu-Jamal, ex-integrante do Partido dos Panteras Negras, contraiu Covid-19. Abu-Jamal, que sofre de insuficiência cardíaca, hepatite C e dermatite severa, precisou ser hospitalizado e mobilizou uma ampla campanha internacional pela sua libertação. O Governador da Pensilvânia, Tom Wolf, e Larry Krasner, procurador-geral do estado da Filadélfia, receberam milhares de telefonemas de todo o mundo exigindo a soltura de Abu-Jamal.
Recentemente, já recuperado da Covid-19, Abu-Jamal gravou uma mensagem agradecendo o amplo apoio que recebeu ao redor do mundo:
“Queridas irmãs, irmãos, camaradas, amigos e família em movimento! Como posso agradecê-los? Essas, minhas palavras, dificilmente poderiam mensurar a corrente de amor que irradiou sobre mim recentemente. Estou quase – quase – sem palavras, mas vou tentar.
Obrigado, Wadiya. Obrigado, Pam Africa. O apoio de vocês, da Filadélfia até a França, por toda a nação, e, literalmente, ao redor do mundo, me tiraram de uma cela na prisão e me colocaram numa sala de hospital, para ser tratado de uma doença que eu sequer sabia que tinha.
Num cenário de pandemia, em janeiro de 2021, quase 300.000 prisioneiros testaram positivo para COVID-19. Imagine suportar isso dentro de uma cela, tentando respirar, com um peso pressionando seu peito. Imagine um homem ou mulher idosa, ou mesmo os jovens, porque sim, vivemos também num período de encarceramento em massa, que a cada dia aumenta a pressão daqueles que lutam, sem sucesso, para respirar, para andar, para ser . Agradeço a todos que estenderam as mãos e convoco a todos, para que nossa missão seja o abolicionismo penal. Eu amo a todos vocês. Obrigado, mais uma vez, do fundo do meu coração.
Da nação encarcerada, Mumia Abu-Jamal.”
Mumia Abu-Jamal foi condenado à morte acusado do assassinato do policial Daniel Faulkner na Filadélfia, em 1981, que estaria agredindo brutalmente o seu irmão mais novo. O jornalista foi preso e levado para uma penitenciária na Pensilvânia, onde permaneceu 30 anos. Durante todo esse período, lutou por sua inocência, denunciando o racismo que pesou em seu julgamento. Em 1996, o militante escreveu o livro Live from Death Row, tornando-o mundialmente conhecido.
No final do ano passado, outro célebre ex-Pantera Negra, Sundiata Acoli, foi hospitalizado, aos 84 anos, após contrair Covid-19 e apresentar sintomas iniciais de demência. Acoli está há mais de 50 anos preso, e há pelo menos 30 anos se tornou elegível para liberdade condicional, segundo a legislação de Nova Jersey, onde segue encarcerado. Contudo, em fevereiro, seu direito à liberdade condicional foi negado pela sexta vez, sob a justificativa de que sua soltura representaria eventual “ameaça à segurança pública”. Acoli está preso desde 1974, acusado pelo assassinato de um policial.
Em maio de 1973, enquanto dirigia um carro em Nova Jersey, acompanhado de Zayd Shakur e Assata Shakur, Acoli foi abordado pela polícia estadual. O confronto culminou em uma troca de tiros, que matou Zayd Shakur, e também um policial. Acoli foi submetido a um julgamento extremamente sensacionalista e prejudicial. Em menos de duas horas, ele foi sentenciado à prisão perpétua pela morte do agente de segurança.
Lamentavelmente, a perspectiva do Estado americano é que ambos os militantes, bem como parte significativa da maior população carcerária do mundo, sigam presos até o fim de suas vidas. A morte e o encarceramento em massa, infelizmente, não são acidentes pontuais ou casos isolados, mas fazem parte de um sistema que estruturalmente ceifa a vida da população negra na América e em todo o mundo.
Se hoje o mundo se move em protesto contra o brutal assassinato de George Floyd, que popularizou internacionalmente o movimento #BlackLivesMatter, é fundamental honrar a vida e a memória daqueles que há décadas foram linha de frente do combate ao extermínio da negritude nos EUA.
Liberdade para Sundiata Acoli, Mumia Abu-Jamal e todos os presos políticos ao redor do mundo!
Comentários