Mais um jovem negro é morto em Fortaleza pelas mãos da polícia

Flávio Patrício e Fábio José de Queiroz, de Fortaleza, CE

Neste breve texto, abordamos a tragédia de Weslley, um jovem negro da periferia de Fortaleza, executado depois de mais uma ação catastrófica de integrantes da polícia militar.

A execução de Weslley

Em uma canção chamada Sonho de carnaval, Chico Buarque de Holanda escreveu que “Se a guerra for declarada/Em pleno domingo de carnaval/Verás que um filho não foge à luta”. Infelizmente, em Fortaleza, em pleno domingo de carnaval, um filho seu perdeu a vida. Uma jovem vida negra de 17 anos.

14 de fevereiro de 2021 não será esquecido. Por volta das 16 horas, Weslley Souza Silva, morador do bairro Maraponga, estava na garupa da moto de um amigo. Trazia nas mãos uma caixinha de ovos, uma encomenda dos colegas que, sem condições de aglomerar nas ruas, pelo recrudescimento da pandemia, queriam armar uma brincadeira entre eles.

De repente, não se sabe vindo de onde, apareceu a viatura policial n. 6301, de placa POS8537. O adolescente que guiava a moto, percebendo a presença do carro da polícia, reduziu a velocidade e quase encostou na calçada. A resposta de um dos policiais, de modo brutal, foi o avesso: desferiu dois tiros nas costas de Weslley, que se segurou na moto, mas logo desabou. O militar, no alto da arrogância e da insensibilidade, exigiu que o garoto se levantasse, mas ele falou que não conseguia. Percebendo tardiamente o tamanho do absurdo que praticara, o policial levou o menino para a viatura e se dirigiu a uma unidade de saúde.

Era tarde demais, pois mais uma jovem vida negra se perdera, ceifada pela violência policial. 17 anos, uma vida inteira pela frente.

A luta pela verdade

Imediatamente, nas redes sociais e na imprensa, os policiais buscaram fazer prevalecer a sua “narrativa”. Supostamente, eles estariam na perseguição de dois adolescentes com ligações a uma certa facção. Ou seja, o velho pretexto para justificar os crimes mais inomináveis contra a juventude negra da periferia.

É preciso que a verdade venha à tona e que, nesse sentido, seja enfatizado que mais um jovem negro foi morto pela polícia. Eis o fato. O resto é parte do esforço de tentar enganar os incautos.

Weslley era o filho caçula de três irmãos, filhos de um operário da construção civil, que, junto com a esposa, produziam pãezinhos de queijo para vender e completar o orçamento doméstico. A tarefa de Weslley era entregar o produto aos clientes, e, por isso, era conhecido como Pãozinho.

Pãozinho morreu no domingo de carnaval, inocente como a folia, adiada para tempos melhores. Só que o Weslley não terá a oportunidade que outros brincantes terão. No carnaval de 2022, ele será apenas uma imensa e dolorosa saudade.

Que fazer?

Nas redes sociais, muitas pessoas enviaram mensagens, indignadas com o ocorrido. Uma delas, talvez, tenha deixado a mensagem mais precisa e emblemática:

“Quantos Weslleys e quantas Marielles precisarão morrer de forma estúpida para exigirmos e fazermos cumprir todas as garantias do ser humano em qualquer lugar do mundo!!!!. Direito à vida, direito à moradia, direito à saúde, direito à segurança, e muitos outros. Seremos os filhos dessa Pátria que fugirão à luta?”

Por Marielle, Weslley e tantos outros e outras, definitivamente, não fugiremos à luta, e iremos cobrar cada uma dessas vidas. Elas não partiram em vão.

De imediato, exigimos o afastamento dos policiais e a apuração desse crime terrível. Em uma perspectiva mais ampla, é urgente ressaltar a proposta de imediata desmilitarização da segurança pública. Sem isso, as famílias pobres e negras seguirão enterrando os seus filhos e filhas.