Em textos publicados no início de 1844, Marx, com seus quase 26 anos, deu um importante passo no seu desenvolvimento teórico ao apontar que, para entender os problemas religiosos e políticos de seu tempo, são centrais elementos como dinheiro, negócios e propriedade privada. Politicamente, ele percebeu que a luta não deveria estar restrita a conquistas de direitos, ou seja, não se deveria tratar apenas de uma emancipação “política”. Seu objetivo era a “emancipação humana”, com foco na transformação das práticas econômicas que marcavam a sociedade. Entretanto, àquela altura, era muito rudimentar o conhecimento de Marx sobre as dinâmicas da economia. Essa temática não havia tido maior penetração entre os intelectuais alemães de sua geração, boa parte da qual “…perdeu-se na especulação filosófica vazia”. (1) Essa pequena presença de estudos de economia na Alemanha guardava relação com o fato de a burguesia e as práticas capitalistas terem se desenvolvido relativamente menos na região àquele momento. Tendo-se convencido da centralidade do assunto, ao longo de 1844, em Paris, Marx vai mergulhar em autores sobretudo ingleses e franceses de Economia Política (outros intelectuais alemães de sua geração também estavam começando a se dedicar ao estudo da Economia). É a primeira vez que o assunto de Marx não será a situação alemã, e sim o capitalismo moderno. O resultado será a produção de textos que, quando publicados finalmente no século XX, se tornariam uns dos mais visitados por estudiosos. (2) Tratam-se dos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844, um projeto de livro que Marx não publicaria em vida. À análise dos “Manuscritos”, somaremos os “Cadernos de Paris”, notas de estudo do mesmo período.(3)
Marx notou várias incongruências nos discursos de economistas que leu. Por exemplo, o de que eles partiam da ideia de que interesses particulares e interesses comuns seriam ao mesmo tempo opostos e idênticos. (4) Mas há uma atenção especial sobre a forma com que o trabalhador era abordado: apenas como instrumento da produção. Os economistas, percebeu Marx, observavam-no de forma “inumana”, como se fosse uma máquina. A relação entre uma pessoa e outra era entendida por eles como uma relação entre um proprietário privado e outro, isto é, não como uma relação “humana”, mas como uma relação abstrata entre uma propriedade privada e outra. Só percebiam os elos humanos sob a forma do comércio e entendiam o “homem” como um ser egoísta. Marx notou que a Economia Política, de saída, para realizar sua análise, tinha um ideal de ser humano, o que ele é ou deveria ser. Se ainda hoje há quem pense na Economia como uma ciência neutra e objetiva, Marx a enquadrava como “…a mais moral de todas as ciências. A auto renúncia, a renúncia à vida, a todas as necessidades humanas, é a sua tese principal. Quanto menos comeres, beberes, comprares livros, fores ao teatro, ao baile, ao restaurante, pensares, amares, teorizares, cantares, pintares […] tanto [mais] poupas […] Tudo o que o economista […] te toma de vida e de humanidade, tudo isso ele te restitui em dinheiro e riqueza.” (5) No pressuposto da análise daqueles autores estaria a redução da necessidade dos trabalhadores ao dinheiro e ao mínimo sustento da vida física, que entendiam como padrão universal.” (6) “Por isso, para ela [a Economia Política do período], as necessidades do trabalhador são apenas a necessidade de o manter durante o trabalho e na perspectiva de que a raça dos trabalhadores não se extinga.” (7) Marx rejeitou essa forma de enxergar a humanidade que embasava o discurso científico de vários economistas. Por sua vez, argumentou que a existência humana, tal como suposta pelos economistas, e tal como ele próprio observava estava, na verdade, “alienada”.
Alienação é o conceito mais importante destes textos de 1844 (8), e um termo que já comparecia na filosofia alemã daquele tempo. Para Feuerbach, contemporâneo a quem Marx admirava muito(9), a alienação marcava a experiência humana da religião (a ser superada pelo ateísmo): a humanidade criou Deus como uma projeção de suas melhores qualidades. Mas essa projeção não é reconhecida como tal pela própria humanidade, que acaba lhe tendo “…como uma potência estranha que o [a] domina.” (10) Marx se inspirou na reflexão de Feuerbach sobre religião para pensar o trabalho. (11)
Considerando a experiência fabril de seu tempo (12), Marx entendeu a alienação marcando o processo de trabalho em vários aspectos:
“…o trabalho é alienação de vida, porque trabalho para viver, para conseguir um meio de viver. Meu trabalho não é a minha vida. […] a minha individualidade está alienada a tal grau que esta atividade [o trabalho] me é detestável, motivo de tormento; é, antes, um simulacro de atividade, uma atividade puramente forçada, que me é imposta por um constrangimento exterior e contingente e não por uma exigência interna e necessária.” (13)
“Ele [o trabalhador] não se afirma, antes se nega, no seu trabalho […] Ele [ o trabalho] não é, portanto, a satisfação de uma necessidade, mas é apenas um meio para satisfazer necessidades externas a ele […]” (14)
“[Para o trabalhador] A própria vida aparece apenas como meio de vida.” (15)
O trabalhador não se contempla em um mundo criado por ele próprio, que então se lhe figura hostil, estranho. Uma pessoa também está em relação alienada com outra, que lhe toma o produto do trabalho. Além disso, o dinheiro, ao mediar a interação entre todos, impede uma convivência verdadeiramente humana. (16) A alienação não é assim apenas uma experiência no trabalho, mas caracteriza as relações sociais. (17) Uma outra faceta do argumento de Marx, que aponta o caráter alienado da sociedade, pode ser vista no parágrafo abaixo:
“…cada homem especula sobre como criar no outro uma necessidade nova para o forçar a um novo sacrifício […] e induzi-lo a um novo modo de fruição […]. Cada um procura criar uma força essencial alienada sobre o outro, para aí encontrar a satisfação da sua própria necessidade egoísta. Com a massa dos objetos cresce, por isso, o domínio do ser alienado ao qual o homem está subjugado, e cada novo produto é uma nova potência de engano mútuo e mútuo saque.” (18)
Seria diferente a situação se o trabalho fosse realizado “humanamente”:
“Suponhamos que produzíssemos como seres humanos – cada um de nós haveria se afirmado duplamente na sua produção: a si mesmo e ao outro. 1°) Na minha produção, eu realizaria a minha individualidade, a minha particularidade; experimentaria, trabalhando, o gozo de uma manifestação individual da minha vida e, contemplando o objeto, a alegria individual de reconhecer a minha personalidade como um poder real, concretamente sensível e indubitável. 2°) No teu gozo ou na tua utilização do meu produto, eu desfrutaria da alegria espiritual imediata, através do meu trabalho, de satisfazer a uma necessidade humana […], de ser reconhecido por ti como um complemento do teu próprio ser e como uma parte necessária de ti mesmo, de ser aceito em teu espírito e em teu amor. 4°) Eu teria, em minhas manifestações individuais, a alegria de criar a manifestação da tua vida […] de realizar e afirmar […] a minha sociabilidade humana.” (19)
Comparece no texto um ideal de relação humana marcada pelo amor:
“Pressupondo o homem como homem [ou seja, como o humano pode e deveria ser] e a sua relação com o mundo como humana, só se pode trocar amor por amor, confiança por confiança etc. […] Cada uma de suas relações com o homem e com a natureza tem de ser uma determinada exteriorização da sua vida individual real correspondente ao objeto de sua vontade. Se você ama sem provocar amor recíproco, i. é, se o seu amar enquanto amar não produz o amor recíproco, se você não se torna pessoa amada através da sua exteriorização de vida como pessoa amante, então o seu amor é impotente, uma infelicidade.” (20)
A forma como se trabalha é fundamental para Marx pois ele considera que é através do trabalho que a humanidade se constitui e até mesmo se define. (21) Pensar isso não é pouco. Isso significa que Marx está marcando uma diferença com um dos filósofos alemães críticos mais influentes daquele momento, Feuerbach. Para este, a alienação (que guarda relação com a religião) é um problema da consciência, podendo ser superado pela filosofia. Assim, o ateísmo é central para a liberdade humana. Marx concorda com a importância do ateísmo, mas está apontando a alienação sobretudo como um problema prático e conectado às relações socioeconômicas: “A alienação religiosa como tal processa-se apenas na região da consciência, do interior humano, mas a alienação econômica é a da vida real….”. E também: “a solução não é de modo nenhum apenas uma tarefa do conhecimento, mas é uma tarefa vital real, a qual a filosofia não pôde resolver…”. (22) Saber que a superação da alienação só é realizável através de meios práticos sociais (e não da consciência) é uma conquista do pensamento marxiano. (23)
A propriedade privada tem um lugar fundamental na reflexão de Marx. (24) Diferentemente da sua obra da maturidade (por exemplo, O Capital, lançado em 1867), em 1844, Marx tem olhar para aspectos subjetivos em torno da propriedade privada (25). Por exemplo,
“A propriedade privada nos fez tão estúpidos e unilaterais que um objeto só é nosso se o tivermos […] se existir para nós como capital, ou se for imediatamente possuído, comido, bebido, trazido no corpo, habitado por nós etc.; em resumo, usado […] Para o lugar de todos os sentidos físicos e espirituais entrou, portanto, a simples alienação de todos esses sentidos, o sentido de ter.” (26)
Marx critica os economistas porque eles não discutem a propriedade privada, mas a aceitam e naturalizam a sua existência. A Economia Política “supõe o que deve explicar” e, assim, acaba defendendo com verniz científico a sociedade burguesa. (27)
Nos textos escritos em Paris, Marx pensa, de forma um tanto abstrata, que as contradições sociais e econômicas marcadas pela propriedade privada e pela alienação levariam necessariamente à supressão de ambas, isto é, ao comunismo.(28) O jovem pensador não avançou na caracterização do que e como seria o processo revolucionário (sobre o qual publicara algumas linhas, ainda que bem poucas, no início do ano). O comunismo, que Marx pela primeira vez procurou fundamentar em texto escrito, seria justamente a “…formação societária que, suprimindo a propriedade privada, propicia a supressão da alienação.”(29) Apesar de nos escritos de 1844 comunismo não ter rigor terminológico, temos claro que a base da sua definição é o humanismo. Nele, a humanidade se encontraria com si própria e com a natureza (nesse projeto humanista, o ateísmo também tem importância, ainda que secundária). O comunismo é a “…apropriação real da essência humana pelo e para o homem”. Ali a humanidade poderia livremente manifestar sua individualidade, desabrochariam os sentidos e as qualidades humanas, e os vínculos humanos seriam pautados pelo amor, e não pelo egoísmo. (30)
Não há maior reflexão de Marx sobre como seriam as bases econômicas desse comunismo. Suas diferenças em relação a outras correntes do comunismo são também pontuadas muito brevemente. A primeira é o “comunismo grosseiro”, que teria um ideal de igualdade de salário. Para Marx, isso significaria a manutenção das condições negativas dos trabalhadores, bem como do poder da propriedade privada. O “comunismo grosseiro” conteria também um apelo à simplicidade do homem pobre. Marx diz que esse comunismo tem a inveja como base e nega o mundo da cultura e da civilização. Outro corrente comunista é o comunismo filosófico, que para Marx reduz os problemas a questões teóricas e de pensamento. Engels havia sido um adepto desta corrente. O célebre companheiro de Marx chegara a pensar que o comunismo iria se expandir na Alemanha porque ali as pessoas eram muito inclinadas à filosofia, tinham boa educação e se apegavam a princípios, e não a interesses. Entendia que o comunismo iria se difundir justamente entre universitários e proprietários (31) (mas, claro esteja, logo deixaria de pensar assim). (32)
Marx dedicaria, ao lado de Engels, todo o resto de sua vida a criticar a Economia Política e a refletir (muitas vezes de forma um tanto diferente) (33) sobre os vários temas que apareceram nos Manuscritos e nos Cadernos. Entretanto, a dupla, logo depois de iniciar a amizade naquele ano de 1844, embarcou em uma outra empreitada. Escreveram juntos um livro para combater alguns filósofos alemães, antigos companheiros seus, que entendiam ser a vanguarda intelectual do mundo. Este será o tema do nosso próximo texto.
NOTAS
1 – NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: MARX, Karl, Cadernos de Paris & Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844, São Paulo: Expressão Popular, 2015, p. 14.
2 – Os Manuscritos tiveram publicação integral em 1932 (pouco antes disso, apenas algumas partes haviam sido lançadas). Nos anos seguintes, a história de sua edição foi marcada por censura, uma vez que os Manuscritos fornecem bases de crítica ao modelo da URSS. Netto aponta que a autocracia stalinista da URSS sacramentou um pensamento positivista (o chamado “marxismo-leninismo”) e que isso promoveu uma repercussão limitada e até mesmo clandestina das reflexões baseadas nos Manuscritos de 1844. NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: Ibid., p. 97; 177.Um resumo das interpretações e da história editorial dos Manuscritos pode ser encontrado em MUSTO, Marcello, OS MANUSCRITOS ECONOMICO-FILOSÓFICOS DE 1844 DE KARL MARX: dificuldades para publicação e interpretações críticas, Caderno CRH, v. 32, p. 399, 2019.
3 – NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 10;14. DRAPER, Hal, Karl Marx’s theory of revolution 1 state and bureaucracy., New York: Monthly Review Press, 1977, p. 162. MCLELLAN, David. The young Hegelians and Karl Marx. Londres: Macmillan, 1969.
4 – MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 198-9. Sobre interesses “da sociedade” e interesses particulares, ver também p. 291-2
5 – MARX, Caderno de Paris & Manuscritos, p. 395; 407.
6 – NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 35–41; 93. Ibid., p. 202; 209.
7 – Ibid., p. 324.
8 – Há uma polêmica dentro do marxismo que aponta que o conceito de alienação seria ausente ou não relevante na produção posterior do Marx. O saldo da bibliografia indica o contrário (por vezes qualificando como falsificação ou estupidez tal proposição). Um panorama da discussão pode ser encontrado em NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: Ibid., p. 135–6.
9 – Em agosto de 1844, época que estamos abordando aqui, em carta ao colega, Marx lhe disse de sua “estima excepcional e – permita-me a palavra – o amor que tenho pelo senhor.” FREDERICO, Celso, O jovem Marx 1843-44: as origens da ontologia do ser social, São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 209. A relação intelectual de Marx com Feuerbach será abordada melhor em textos próximos.
10 – LUKÁCS, György, O jovem Marx e outros escritos de Filosofia, Rio de Janeiro: UFRJ, 2007, p. 186. Segue um resumo da teoria da alienação religiosa de Feuerbach: “Cristo é a essência humana projetada, a exteriorização das capacidades humanas. Por isso, a adoração de Cristo é a adoração do homem […]. Mas o homem religioso não vê a si mesmo em Cristo, não vê a sua espécie, já que a exteriorização da sua essência transforma-se em estranhamento, em não reconhecimento do fato de ser a adoração do objeto (Cristo) uma veneração inconsciente dos próprios atributos extraviados do sujeito (o homem).”FREDERICO, O jovem Marx, p. 141.
11 – Menções explícitas entre a dinâmica religiosa e a econômica podem ser encontradas em MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 305-6; 309; 317. Para Michael Löwy, o paralelo entre Feuerbach e Marx no tratamento da alienação poderia ser expresso da seguinte forma: “Deus torna-se a propriedade privada e o ateísmo se transforma em comunismo” LÖWY, Michael, A teoria da revolução no jovem Marx, Petrópolis: Vozes, 2002, p. 139. “Esse paralelismo o conduz inclusive a ver na propriedade privada não a causa, mas a consequência da alienação” (p. 140) – isto porque Deus é a consequência da alienação humana (a exteriorização de suas qualidades para fora de si). Para Frederico, Marx, justamente por estar apenas iniciando seus estudos de economia, precisou, para fazer a crítica, lançar mão de elementos externos àquela área, a saber, a teoria feuerbachiana da alienação religiosa. FREDERICO, O jovem Marx, p. 132.
12 – NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 101.
13 – Ibid., p. 222.
14 – Ibid., p. 308.
15 – Ibid., p. 312.
16 – Ao longo do seu texto, Marx vai defender um ideal de trabalho e relação humanos que seria de acordo com uma “verdadeira” humanidade. Há toda uma polêmica sobre o pensamento marxiano e marxista abrigarem ou não concepções de natureza humana. Netto sustenta, baseado entre outros autores, que, nos textos de Paris, Marx tem uma ideia de essência humana não essencialista, mas histórica e dinâmica. NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: Ibid., p. 66–7; 148; 160.Para uma apreciação negativa da comunidade humana imaginária de Marx, ver FREDERICO, O jovem Marx, p. 147.
17 – FREDERICO, O jovem Marx, p. 156–60.
18 – MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 391.
19 – Ibid., p. 221–2.
20 – Ibid., p. 420–1.
21 – Marx deve essa ideia a Hegel. O velho filósofo, entretanto, não via aspectos negativos no trabalho, apenas os positivos e o entendia principalmente como trabalho intelectual. LUKÁCS, O jovem Marx e outros escritos de Filosofia, p. 187. FREDERICO, O jovem Marx, p. 178.
22 – MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 345-6.
23 –NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: Ibid., p. 61;65;75;86–7; 141-2. FREDERICO, O jovem Marx, p. 176–9. É importante sabermos que, em referência a várias temáticas dos textos de Paris de 1844, Marx não é o único pensador alemão que passa a explorá-las. Valorização política do proletariado, crítica à alienação do trabalho, enquadramento dos problemas como práticos e não teóricos, entre outros pontos, compareciam no pensamento de autores que Marx teria como adversários, tais como Max Stirner, Edgar Bauer e Arnold Ruge. O estudo de David Mclellan é bastante atento aos paralelos e empréstimos intelectuais entre Marx e outros pensadores alemães da década de 1840 (em especial durante a primeira metade). MCLELLAN, David, The Young hegelians and Karl Marx.
24 – Em 1844, Marx entende a propriedade privada como resultado do trabalho alienado. Influenciado pelo esquema feuerbachiano, “Marx, assim, chega à gênese da propriedade privada por meio de uma dedução lógica e não do recurso à explicação histórica, como fará posteriormente.” FREDERICO, O jovem Marx, p. 134.
25 – Para Frederico, em 1844, isto se dá por influência de Feuerbach e sua ênfase em elementos sensíveis. Posteriormente, sob influência de Hegel, o foco da análise de Marx é o aspecto objetivo da propriedade, sob a forma de capital. O mesmo pode ser argumentado em relação ao dinheiro FREDERICO, O jovem Marx, p. 153–60.
26 –MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 349–0.
27 –NETTO, José Paulo Ibid., p. 51–2. Ibid., p. 302–4.
28 –“…Marx apreendeu o movimento da propriedade privada […] como um processo contraditório; como tal, o seu desenlace necessário e possível é uma solução, resultante do seu próprio movimento imanente, que, mediante a negação da negação, implica a sua superação…” NETTO, J.P. “Marx em Paris” IN: MARX, Karl, Cadernos de Paris & Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844, São Paulo: Expressão Popular, 2015, p. 82–3. Ver também 87-8.
29 –NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: Ibid., p. 87.
30 – MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 35-3; 383-4
31 – Para o estudioso Draper, essa perspectiva de Engels, comum ao também comunista Moses Hess, era de um elitismo estudantil bem típico da geração de jovens pensadores na Alemanha.DRAPER, Karl Marx’s theory, p. 156–7.
32 –MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 342–5;391. NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: Ibid., p. 89–92. LÖWY, A teoria da revolução no jovem Marx, p. 139; 141-146. FREDERICO, O jovem Marx, p. 143; 145.
33 – Destacamos duas ideias defendidas por Marx em 1844, mas que depois seriam abandonadas. Uma delas é a de que a classe trabalhadora estaria em um processo contínuo e necessário de pauperização, sobretrabalho e degradação, mesmo em caso de aumento no salário. NETTO, José Paulo. “Marx em Paris” IN: MARX, Cadernos de Paris & Manuscritos, p. 52; 138-9. Ibid. p. 243-50; 318. A outra é uma rejeição de uma teoria do valor relacionada ao trabalho. Ibid. p. 232-3 Para Frederico, essa posição tem a ver com a influência feuerbachiana daquele momento, baseada na qual Marx “só conferia realidade aos objetos sensíveis e não àqueles construídos pelo pensamento reflexivo.” Nesse quadro, a teoria do valor seria uma abstração (e também uma apologia do trabalho alienado). FREDERICO, O jovem Marx, p.131; 139; 148.
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