Pular para o conteúdo
BRASIL

A Prefeitura de Belém precisa fazer algo em relação à pandemia

Luiz Henrique, de Belém, PA
Bruno Cecim/Ag.Pará

Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, do PSOL, escreveu um artigo veiculado no jornal O Liberal, publicado no dia de domingo, 24 de janeiro, intitulado “O momento é de cuidar”. No decorrer do texto, Edmilson expressa a preocupação que, embora não seja este o caso, Belém possa vir a passar pelo que Manaus está vivenciando. E, para se preparar para isso, está investindo em ampliação de leitos de UTI’s e garantindo fornecimento de oxigênio. Ambas são medidas importantes, mas se aplicam depois que a bomba estourar, ou seja, no melhor tratamento dos doentes. Entretanto, como diz o ditado, que aprendi ainda criança: “prevenir é melhor que remediar”. E com um vírus tão traiçoeiro como este, a prevenção é, sem dúvidas, o melhor remédio.

Edmilson, em seu texto, reitera algumas medidas de combate ao coronavírus, como “afastamento social e os cuidados de higiene, com uso de máscaras e higienização das mãos” e outros, “não entrar em casa com calçados utilizados nas ruas, trocar de roupa e tomar banho sempre que chegar da rua…”. E arremata: “A melhor e mais eficaz forma de vencer o vírus depende de nós, do nosso comportamento”. Em síntese, nosso prefeito coloca nas mãos da população e da sua conduta a vitória ou derrota da luta contra o vírus.

É preciso dizer que é realmente excelente termos um gestor municipal que se preocupe com a pandemia e não seja um negacionista como o presidente da República. Entretanto, a estratégia de apelar para a consciência da população, investir no tratamento da doença e em uma vacinação extremamente lenta (por falta de doses) não vai fazer com que Belém evite a 2° onda da epidemia. Se só o comportamento da população fosse suficiente, e as pessoas realmente ficassem em casa, não se aglomerassem, evitassem locais fechados e contatos não necessários, já teríamos um cenário muito melhor, mas não é isso que observamos. Depender apenas disso é a fórmula do fracasso. É preciso ter medidas concretas para frear o novo surto.

Enquanto estávamos na oposição, pouco podíamos fazer. Agora que o PSOL está à frente de uma importante capital, é preciso mostrar com medidas efetivas o nosso programa em defesa da vida e da batalha contra o vírus. Não adianta apenas falar, enquanto os ônibus estão lotados todas as manhãs e as pessoas circulam tranquilamente sem máscaras pelas ruas da cidade, é preciso agir. E agir o quanto antes já se mostrou fundamental para o combate ao coronavírus.

A situação é ainda mais preocupante com a nova cepa do vírus que arrasou a cidade de Manaus, e se prolifera pela região amazônica. Assistimos abismados às cenas de caos e à tragédia da falta de oxigênio. Apesar de ainda não termos estudos completos em relação ao tema, há indícios fortíssimos de que essa nova variante é mais transmissível, e mais agressiva, portanto mais letal que a anterior, com potencial inclusive para causar reinfecções. Segundo autoridades francesas, sequer as máscaras caseiras seriam capazes de evitar a transmissão das novas cepas (como a britânica e sul-africana). De acordo com o informe¹ produzido pela Secretaria Municipal de Saúde no dia 23, há um aumento preocupante de novos casos na capital, mais do que dobrando a média diária de infecções nos últimos dias. Conforme o próprio documento da SESMA, esta elevação poderia ser por conta da nova cepa, mais infecciosa, vinda de Manaus.

Nesse cenário, não há alternativa que não seja agir. Assim como o governador Hélder Barbalho (MDB) decretou em todo o Estado, o fechamento de bares, festas e shows na semana passada, a Prefeitura de Belém precisa tomar medidas contundentes para enfrentar a epidemia. Sabemos que a nossa cidade possui uma economia muito frágil, ligada ao comércio e serviços e predominantemente a mão de obra está no setor informal. Sem o auxílio emergencial, decretar um lockdown pode ser uma medida muito rígida para o quadro atual. Todavia, é possível tomar ações, por agora, que busquem evitar aglomerações e reduzir o contágio, evitando maiores impactos aos setores econômicos.

A primeira delas é tornar obrigatório o uso de máscaras em qualquer local público da cidade. Cada vez mais, o uso de máscaras parece ser artigo de luxo em nossa cidade. Não é incomum ver pessoas transitando nas calçadas, ou até mesmo em ônibus da cidade, sem o uso da proteção, como se estivesse tudo bem com isso. É preciso que a Prefeitura fiscalize o cumprimento da regra e que também aplique multas administrativas para os que desrespeitem. Todo o valor arrecadado deve ser revertido para um fundo de combate à Covid-19. Em caso de reincidência por parte do munícipe, o valor da multa deve ser multiplicado cumulativamente.

Por segundo, deve-se realizar o escalonamento do início das atividades econômicas diárias e impor um limite para o número de passageiros em pé, a fim de que se evitem aglomerações dentro do transporte coletivo. Fazer com que serviços e comércios essenciais, o funcionalismo público e a indústria, comércio e serviço não essencial iniciem em horários diferentes (como às 7, 8, 9, 10 e 11h), reduz a pressão e o número de pessoas circulando ao mesmo tempo já nas primeiras horas da manhã. O horário de término do expediente também precisaria ser escalonado, para evitar o sufoco das 18h. Essas seriam medidas que manteriam as atividades econômicas abertas, mas que mudariam apenas o seu horário de funcionamento, mitigando impactos econômicos, mas evitando a grande circulação de trabalhadores em um mesmo horário.

Por terceiro, deve-se providenciar a oferta de testes RT-PCR em massa pelo SUS. Não pode ser que o belenense tenha que peregrinar em vários postos de saúde para descobrir em qual está atendendo pacientes com suspeita de Covid-19, qual tem médico, e praticamente dizer para o profissional que está morrendo para ter acesso a um teste gratuito. As recomendações da OMS são de que haja testagem massiva da população. É preciso oferecer de maneira rápida e gratuita o teste pelo SUS, para que se proceda o isolamento dos casos ativos e o rastreamento dos contatos. Sem os testes em larga escala, perdemos uma grande arma no combate à epidemia.

Por quarto, a Prefeitura precisa realizar uma ampla campanha de conscientização das medidas de isolamento e de intensificá-las perante a 2° onda. É necessário ter um canal de comunicação direto, com informações de fácil acesso, com explicações regulares da dinâmica da epidemia na cidade. A informação correta é uma ferramenta extremamente útil no combate à Covid-19.

Por quinto, acelerar a aplicação da vacina e ter total transparência em sua utilização. As últimas informações, constantes no site da Prefeitura, informam que até sábado havia quase oito mil profissionais de saúde que haviam tomado a primeira dose. Faltam informações das restantes e dos novos lotes que começam a chegar. É preciso que se proceda a imunização o mais rápido possível dos grupos prioritários, assim que as vacinas cheguem nas mãos da Sesma. Apesar do impacto pequeno no momento atual, conforme a vacinação atinja patamares massivos no decorrer dos próximos meses, ela será a nossa principal aliada contra o vírus.

Por fim, a principal mensagem que se deve ter é: não basta ampliar o número de leitos e a reserva de oxigênio, temos que ter medidas urgentes para que não precisemos usá-los.

1 Documento intitulado “Situação atual Covid-19 no município de Belém, de 23 de janeiro de 2021.