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BRASIL

Educadores de Belém fazem propostas ao governo Edmilson sobre educação popular e centenário de Paulo Freire

Reprodução

Paulo Freire em Angicos (RN)

CARTA-MANIFESTO DE MOVIMENTOS E COLETIVOS DE  EDUCAÇÃO POPULAR COM PROPOSTAS PARA A POLÍTICA DE  EDUCAÇÃO POPULAR EM BELÉM E AS CELEBRAÇÕES EM TORNO  DO CENTENÁRIO DE PAULO FREIRE 

À V.Exª Edmilson Rodrigues, Prefeito de Belém 

À V.Exª Edilson Moura, Vice-Prefeito de Belém 

À V.Exª Márcia Bittencourt Brito, Secretária de Educação de Belém Às V.Exªs, Secretárias/os Municipais de Belém 

Às V.Exªs, Parlamentares do Estado do Pará na Câmara Federal, na  Assembleia Legislativa e na Câmara Muncipal de Belém 

À Sociedade Paraense, 

A eleição de Edmilson Rodrigues (PSOL) e Edilson Moura (PT) para  a Prefeitura de Belém, no quadriênio 2021-2024, expressou a força das  lutas populares em defesa de um programa de sociedade e de educação  transformador, inclusivo, popular e democrático.  

Após décadas de descaso com a escola pública e o direito à  educação, a vitória da Frente “Belém de Novas Ideias” traz esperança em  dias melhores para as cidadãs e os cidadãos de Belém, o que envolve,  centralmente, a luta contra a mercantilização do ensino, e a defesa radical dos direitos humanos, da justiça social e ambiental e da educação  popular.  

A educação popular de orientação libertadora, articulada em  torno das ideias do Patrono da Educação Brasileira, o educador Paulo  Freire (1), representa, a um só tempo, uma concepção educacional e um movimento de educadoras e educadores, que expressam a defesa da  educação pública, gratuita, laica, democrática e de qualidade  socialmente referenciada para todas e todos. Em seus princípios e  fundamentos, a educação popular é uma corrente pedagógica assentada  na dialogicidade, na práxis, na transformação social, na autonomia, na  participação, na liberdade e na indissociabilidade entre educação, ética e  política.  

Belém possui uma vasta tradição de pensamento e de  experiências no âmbito da educação popular, em diferentes esferas de  atuação: alfabetização e educação de jovens, adultos e idosos; educação popular do campo; cursinhos populares; educação social de rua;  formação de lideranças políticas, sindicais, populares e comunitárias;  

educação popular em movimentos sociais; grupos de pesquisa e extensão  universitários; redes e ONG’s de educação popular em diversos campos e  escalas de atuação; manifestações que entrelaçam educação,  comunicação e cultura popular; experiências de bibliotecas  comunitárias, entre muitas outras.  

Ao longo da história da educação popular em Belém, tais grupos  de educadoras e educadores populares vêm se reunindo em fóruns,  encontros e movimentos sociais e populares para fortalecer a articulação  necessária para enfrentar o autoritarismo e as injustiças sociais e  educativas. A luta organizada destes coletivos precisa ser reconhecida na  história da resistência popular da população cabana de Belém, do Estado do Pará, e da Amazônia, de modo mais geral.  

Em face desta história, entendemos que, por mais vitoriosa que  seja a eleição de uma frente progressista para a Prefeitura de Belém, os  desafios são inúmeros e a conjuntura adversa em que vivemos na  Amazônia, no Brasil, na América Latina e no mundo exigem cada vez  capacidade de diálogo e de articulação, e incidência na formulação, no  acompanhamento e na avaliação de políticas públicas, bem como o  fortalecimento do trabalho de base e da formação política nos territórios  de resistência.  

A presente Carta-Manifesto, construída coletiva e  participativamente pelos movimentos e coletivos signatários (2), apresenta  aos Poderes Executivo e Legislativo, bem como à sociedade paraense, de  forma mais geral, propostas em torno de uma Política de Educação  Popular para Belém, além de pautar as celebrações em torno do  Centenário de Natalício de Paulo Freire, em 2021

Vale ressaltar, desde já, a incidência de vários destes coletivos na  formulação do Programa de Governo da Frente “Belém de Novas Ideias”,  com princípios e propostas ligadas explicitamente à educação popular e  ao legado de Paulo Freire.  

É assim que Belém é apresentada, neste Programa, como “Cidade  que Educa com Inovação e Acolhe com Amor”(3), em uma perspectiva  humanista e emancipatória:  

Um Projeto Educacional para Belém apresenta-se como  ato político-pedagógico emancipatório, caracterizado pelo acolhimento e pela amorosidade em contraposição à lógica desumanizadora, seletiva e excludente que  supervaloriza o individualismo e a competição (BELÉM DE NOVAS IDEIAS, 2020, p. 13, destaque nosso). 

Com estes fundamentos pedagógicos, e na contramão às políticas  neoliberais, as escolas da Rede Municipal de Belém deverão ser  inclusivas, com um projeto político-pedagógico emancipador, com valores  de solidariedade, cooperação e respeito; “e reconhecimento das diferentes  etnias, gêneros, grupos sociais, culturas, perspectivas de pensamento,  saberes e gerações”. As escolas serão emancipadoras de tal modo que combatam “o racismo, o machismo, o patriarcado, a misoginia, a  homofobia, a xenofobia e toda forma de discriminação aos diferentes e à  diferença. Uma Escola Aberta à comunidade
(BELÉM DE NOVAS  IDEIAS, 2020, p. 14, destaque nosso).  

Ainda do programa de governo, são destacados os seguintes princípios político-pedagógicos, ligados a uma concepção crítica e  progressista de educação: acesso; permanência e conclusão com sucesso;  gestão democrática; qualidade socialmente referenciada; valorização de  trabalhadoras e trabalhadores da educação.  

No que diz respeito à Educação de Jovens e Adultos, o Programa  de Governo explicita como referência a Pedagogia de Paulo Freire e  compromete-se a superar o analfabetismo em Belém, permitindo que a  cidade seja reconhecida como “Belém, Cidade Alfabetizada!”

A Educação de Jovens e Adultos terá ambientes escolares,  metodologia, currículo diferenciado, insumos materiais e pedagógicos adequados para receber alunos/as que saem  das atividades laborais direto para as escolas ou ficaram  no meio do caminho do ensino regular. Nesta modalidade,  todo o esforço será direcionado para zerar o  analfabetismo em Belém, tendo como referência a  Pedagogia Freireana. Teremos a meta de que Belém  seja reconhecida como Belém, Cidade Alfabetizada!
(BELÉM DE NOVAS IDEIAS, 2020, p. 15, destaque nosso). 

Finalmente, ainda de seu Programa de Governo, vale destacar o  compromisso com a Educação do Campo, das Águas e da Floresta, um  dos mais importantes campos de atuação da educação popular, em  defesa de escolas presentes “nas comunidades e territórios de diversos grupos sociais, sujeitos do Campo, das Águas e da Floresta, com a especificidade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena’”  (BELÉM DE NOVAS IDEIAS, 2020, p. 15). 

Entendemos que cabe aos movimentos e coletivos de educação  popular, que saíram em defesa deste programa nas eleições, o papel de  contribuir na formulação, no acompanhamento e na avaliação das  políticas públicas, garantindo, por um lado, a necessária autonomia  destes coletivos e, por outro lado, a sua incidência na execução das  políticas públicas, em uma perspectiva de participação cidadã na construção da Política de Educação Popular para a Belém de Novas  Ideias.  

Importante destacar que não compreendemos a Política de  Educação Popular como um sub-setor da Secretaria Municipal de  Educação, embora esta Secretaria seja um espaço privilegiado de  interlocução, como abordaremos a seguir, com propostas para esta pasta. 

No entanto, pensamos ser necessário conceber a educação popular  como um processo participativo permanente, um campo múltiplo,  transversal e intersetorial, marcado pela indissociabilidade entre  educação e política, que perpassa por diferentes âmbitos da sociedade e  da administração municipal, como as políticas de educação, saúde,  assistência social, cultura, planejamento, economia, esporte, lazer, entre  outras.  

Assim como, em 2014, foi instituído no Brasil o Marco de  Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas (BRASIL,  2014)(4), propomos que tenhamos em Belém, na nova gestão, um Marco de Referência ou documento orientador semelhante, assentado nos  pressupostos, valores e princípios da educação popular, que possibilite  que diferentes políticas públicas sejam construídas, acompanhadas e  avaliadas em uma perspectiva emancipatória e de participação cidadã  permanente dos setores populares de Belém.  

No referido Marco de Referência, algumas diretrizes apresentadas  são elementos-chave para a compreensão de como se pensar e elaborar  políticas públicas com amplo diálogo com as organizações e os  movimentos populares, entendendo a participação como um direito e  um princípio pedagógico de uma “Cidade que Educa com Inovação e  Acolhe com Amor”. Destacamos algumas destas diretrizes:  

Estimular, nas práticas do setor público, o diálogo com  organizações e movimentos populares e sociais para a adoção dos  pressupostos da Educação Popular. 

Fortalecer o processo educativo na perspectiva da economia  popular solidária, considerando a importância da organização  econômica da sociedade como dimensão fundamental para a  emancipação popular. 

Promover a participação popular e a gestão democrática em todo o  processo de formulação e implementação das políticas públicas.

Compreender a participação popular como um direito, promovendo a participação e o diálogo como elementos essenciais a uma nova  cultura democrática. 

Comprometer-se com a autonomia dos setores populares na  relação com o Estado. 

Considerar as diversidades de gênero, gerações, orientação afetivosexual, religiosas, culturais, étnico-raciais, de pessoas em  situação de privação da liberdade e pessoas com deficiência na  formulação e implementação das políticas públicas. 

Comprometer-se com as diferenças e combater as desigualdades. 

Desse modo, não limitado às políticas educacionais, entendemos  que um Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas  Públicas em Belém poderá viabilizar a materialização de um verdadeiro  “Governo do Povo”, com ampla participação popular e gestão democrática  na definição, por exemplo, de um orçamento participativo, entendido  como processo político-pedagógico de organização das classes populares  e de formação política para a cidadania; na escolha das prioridades para  as políticas públicas e amplo diálogo com a sociedade civil organizada,  como movimentos e organizações sociais, sindicatos, coletivos de  educação popular e de defesa dos direitos humanos, grupos culturais e  demais atores sociais.  

Cabe, portanto, à Prefeitura de Belém e às diferentes Secretarias  Municipais, desenvolver processos participativos e de gestão  democrática, que possibilitem a efetiva participação dos setores  populares na definição dos rumos e das prioridades da cidade.  

No que toca às Políticas Públicas Educacionais, a cargo da  Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC), os movimentos e  coletivos de educação popular signatários instam o Poder Público na  constituição de uma Política de Educação Popular que assegure:  

Amplo movimento de alfabetização de jovens, adultos e idosos (5),  na perspectiva emancipatória da educação popular, nos diversos  distritos e bairros de Belém, em espaços escolares da Rede  Municipal de Ensino, mas também em articulação com centros  comunitários, movimentos sociais, associações de bairro e demais  organizações da sociedade civil. Que Belém seja reconhecida como  Cidade Livre do Analfabetismo; Belém, Cidade Alfabetizada e  Alfabetizadora!  

Diálogo com as universidades, as escolas e os movimentos sociais  e populares para a implementação de uma política robusta de formação permanente de alfabetizadoras/es e assessoramento  pedagógico contínuo

Articulação da política de alfabetização com a de escolarização  de jovens, adultos e idosos, garantindo a continuidade dos  estudos e superando a histórica fragmentação das “campanhas de  alfabetização” no Brasil, desarticuladas de um projeto mais amplo  de escolarização de jovens, adultos e idosos das classes  trabalhadoras. 

Criação de uma rede de cursinhos populares nos mais diversos  distritos e bairros de Belém, que possibilite a formação humana,  cidadã e científica necessária não apenas para o ingresso nas  universidades, mas também a educação para a cidadania.  

Apoio às iniciativas de cursinhos populares já existentes,  garantindo que os espaços das escolas municipais possam ser  utilizados para tal finalidade, uma vez que ao longo dos últimos  anos estas iniciativas têm enfrentado inúmeras dificuldades  quanto a espaço e infraestrutura de apoio pedagógico. 

Diálogo com as universidades para que estudantes de Pedagogia e  de outras Licenciaturas possam participar deste amplo movimento  alfabetizador e de educação popular em Belém, garantindo-se a  integralização curricular de estágios supervisionados, a  realização de residências pedagógicas e uma bolsa de incentivo  às/aos educadoras/es populares. Também é fundamental a  participação de professoras/es da Rede Municipal de Ensino  nestas iniciativas, garantindo-se alocação de carga horária.  

Desenvolvimento de um processo de formação permanente de  professoras e professores, na perspectiva emancipatória do  Programa de Governo, em diálogo com os movimentos e coletivos  de educação popular e com as universidades.  

Abertura dos espaços das escolas para manifestações de  cultura popular de Belém e da Amazônia, grupos de arte educadores, de capoeira, carimbó, boi, batuque, hip hop e outras  expressões artístico-culturais de resistência do povo de Belém. 

Incentivo ao esporte e ao lazer para a população de Belém, em  uma perspectiva de educação popular, que empodere as classes  populares para a compreensão crítica do real e transformações na  vida das pessoas e da sociedade.  

Garantia de uma Educação do Campo, das Águas e das  Florestas, com uma sólida política que garanta o direito à  educação para populações em áreas de reforma agrária, em  comunidades ribeirinhas e quilombolas, assegurando a construção  de escolas de qualidade e a reabertura de escolas fechadas em  administrações municipais anteriores. Implementar uma educação  popular do campo na Amazônia, que considere sua diversidade e  complexidade, em diálogo com a riqueza cultural dos povos e seus  modos de vida e de sociabilidade.  

Fortalecimento da Fundação Centro de Referência em  Educação Ambiental Escola Bosque (Funbosque) para a  formação integral das cidadãs e dos cidadãos de Belém,  articulando o debate da educação popular com o da educação  ambiental crítica, da agroecologia, da economia solidária, em seus  distintos campos de atuação em Belém, particularmente nas  regiões insulares do município. 

Desenvolvimento de um projeto político-pedagógico inclusivo,  intercultural e popular com populações imigrantes em Belémassegurando a valorização de suas identidades, culturas e  tradições e sua inclusão com dignidade na vida da cidade. 

Garantia da Educação de Jovens e Adultos como um direito,  reconhecendo-se as especificidades desta modalidade de ensino e  assegurando a formação de qualidade socialmente referenciada  para jovens, adultos e idosos das classes populares, com  bibliotecas, quadra de esportes, laboratório de informática, livros  didáticos e transporte escolar como direitos, assim como realizar  recenseamento dos jovens, adultos e idosos que estão fora das  escolas e realizar chamadas públicas regulares para a EJA, em  regime de colaboração entre os entes federados e em parceria com  organizações da sociedade civil.  

Garantia da educação inclusiva para pessoas com deficiência,  valorizando as potencialidades das/os educandas/os e sua  inclusão social e educacional, com políticas inclusivas e de  acessibilidade em todas as escolas da Rede Municipal e nos demais  espaços socioeducativos e culturais de Belém. 

Criação de bibliotecas comunitárias e incentivo às iniciativas  já existentes, distribuídas por todos os distritos e bairros de  Belém, de modo a incentivar a leitura, a contação de histórias e o  ato de leitura crítica da realidade.  

Aprovação, com orçamento, de um Plano Municipal do Livro,  Leitura, Literatura e Bibliotecas Escolares e Comunitárias.

Apoio aos centros comunitários e movimentos populares em  suas iniciativas educativas, fortalecendo o trabalho de base, a  organização popular e a formação política, com incentivo à criação  de círculos de cultura e oficinas pedagógicas para debater temas  fundamentais da atualidade, como o combate às desigualdades e  opressões. 

Viabilização da inclusão digital, entendendo o importante papel  educativo das tecnologias na formação humana, tecnológica,  científica e cidadã. 

Diálogo com a área da Assistência Social para o fortalecimento da  educação social de rua, em uma perspectiva de educação popular. 

Diálogo intersetorial com outras políticas públicas, como saúde,  economia solidária, agroecologia, comunicação e cultura popular,  no marco participativo da educação popular. 

Com base nestas diretrizes e propostas, consideramos que 2021  – início do novo Governo do Povo e ano em que Paulo Freire completaria  100 anos – pode ser um ano de renovação de esperanças em torno de  uma cidade justa, educadora e que garanta vida digna para todas e todos.  

Neste sentido, pensando nas comemorações em torno do  Centenário de Paulo Freire, que já iniciaram, em todo o mundo, e que  culminarão em setembro de 2021, mês de aniversário de Paulo Freire, instamos o Poder Público de Belém e do Estado do Pará, no Executivo e  no Legislativo, a apoiar: 

Os movimentos e coletivos de Educação Popular, engajados em  redes locais, regionais, nacionais e internacionais, na celebração  do Centenário de Paulo Freire, no estudo de suas obras, na  formação de professoras/es e na valorização do pensamento crítico  na educação. 

O protagonismo de Belém nos movimentos regional, nacional e  internacional de educação popular, participando ativamente das  Campanhas em Defesa do Legado de Paulo Freire, considerando os  ataques do conservadorismo e da extrema-direita ao pensamento  crítico e à liberdade de ensino e de cátedra. 

A realização de eventos comemorativos do Centenário de Paulo  Freire e de formação de educadoras e educadores, com valorização  da cultura popular e participação de amplos segmentos da  sociedade civil, das escolas e universidades, apoiando iniciativas  em construção por partes destes movimentos e coletivos de  educação popular.  

A criação de um Espaço de Referência em Educação Popular em  Belém, para a formação de educadoras e educadores, lideranças  comunitárias e integrantes de movimentos sociais, culturais e  artísticos. 

A criação de vias ou praças públicas ou, ainda, a mudança de  nomes de ruas e de escolas associados a ditadores para “Paulo  Freire”, “Marielle Franco” e outros nomes ligados à defesa dos  direitos humanos, à educação libertadora, à democracia, à luta  feminista e antirracista, ressignificando a história da cidade e  possibilitando a reconstrução de uma memória de resistência para  o povo de Belém. 

A realização do Fórum Social Pan-Amazônico, em 2022, após 20  anos da primeira edição, em Belém, podendo ser realizado, em  2021, um Pré-Fórum, articulando os diversos movimentos e  organizações sociais e populares, com amplo debate sobre as ideias  de Paulo Freire e a educação popular. 

A criação de um grupo de trabalho, envolvendo a administração  municipal, as universidades e os movimentos sociais, para planejar  coletivamente a construção de uma agenda em torno do Centenário  de Paulo Freire em Belém e no Estado do Pará.  

O diálogo com as universidades públicas para ampliação de vagas  nos cursos de graduação, na perspectiva de ampliar o acesso das  camadas populares ao ensino superior, incentivada pela  participação dos setores mais excluídos do direito à educação nos  cursinhos populares. 

A valorização das diversas expressões formativas da cultura  popular amazônica e das expressões culturais das juventudes de  Belém, como, por exemplo, a grafitagem de espaços públicos com  homenagens a Paulo Freire e a outros nomes ligados à educação  libertadora. 

A realização de sessões especiais, na Câmara Federal, na  Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de Belém, para debater o Centenário de Paulo Freire e a importância de suas ideias  para a educação amazônica, brasileira e mundial. 

A aprovação de emendas parlamentares, junto a deputadas/os  federais e estaduais do Pará e vereadoras/es de Belém  comprometidas/os com a educação popular, para apoiar as  iniciativas propostas nesta Carta-Manifesto. 

A criação de projetos de lei que institucionalizem a Política de  Educação Popular em Belém e no Estado do Pará, para que não  seja uma Política Transitória de Governo, mas uma Política de  Estado. 

O ano de 2021 será marcado pelo Centenário de Paulo Freire em  todo o mundo. No Brasil, terra natal do nosso Patrono da Educação,  centenas de iniciativas estão em andamento para valorização, estudo e  implementação das ideias político-pedagógicas progressistas e  libertadoras de Paulo Freire. Consideramos que Belém, além de Cidade  Educadora, Alfabetizada e Alfabetizadora, Capital da Resistência Amazônica, também pode entrar para a história como Cidade do  Esperançar Freireano!  

 

Assinaturas: 

Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular (AAFCP)
Associação Amazônica Cultura Boi Marronzinho
Associação de Mulheres Unidas para Vencer (AMUVE)
Associação dos Moradores do Bengui (AMOB)
Associação Eu Sou Angoleiro/Belém
Biblioteca Comunitária Itinerante BombomLER
Campanha Latino-Americana e Caribenha em Defesa do Legado  de Paulo Freire
Casa de Educação Popular
Cátedra Paulo Freire da Amazônia
Coletivo de Mulheres de Ananindeua em Movimento (CMAM)
Cooperativa de Produtos e Serviços da Terra Firme (COOPERFirme)
Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL)/Coletivo Brasil
Consulta Popular
Curso de Formação de Educadoras e Educadores Populares das  Amazônias
Curso Popular TF Livre
Fórum de Leituras Paulo Freire da Região Norte
Fórum Estadual de Educação
Fórum Metropolitano de Educação do Campo
Fórum Paraense de Educação do Campo (FPEC)
Fórum Social Pan-Amazônico/Brasil
Frente de Evangélicos pelo Estado de Direitos Democrático/Pará
Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na  Amazônia (GEPERUAZ/UFPA)
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero,  Feminismos e Interseccionalidade (GEPEGEFI/UFPA)
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Infância e Filosofia  (GEPEIF/UFPA)
Grupo de Estudos e Pesquisas Pedagogia em Movimento  (GEPPEM/UEPA)
Grupo de Integração Socioambiental e Educacional  (GISAE/UEAP)
Grupo de Mulheres Brasileiras (GMB)
Grupo de Pesquisa Saberes e Práticas Educativas de Populações  Quilombolas (EDUQ/UEPA)
Grupo Pará Leitura
GT CLACSO – Educação Popular e Pedagogias Críticas
Instituto Saber Ser
Instituto Universidade Popular (UNIPOP)
Mocambo – Núcleo Tomé-Açu
Movimento Camponês Popular
Movimento de Educação Popular do Estado do Pará
Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC)
Movimento de Mulheres Feministas Marias
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Movimento Paraense de Educação de Jovens e Adultos (MPEJA)
Movimento Paulo Freire Vive no ICED/UFPA
Movimento República de Emaús
Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP/UEPA)
Núcleo de Educação Popular Raimundo Reis
Programa Grupo de Educação na Terceira Idade (GETI/UFPA)
Projeto Social Vida Longa
Rede de Educação Cidadã/AP
Rede de Pesquisa sobre Pedagogias Decolonais na Amazônia  (RPPDA)
Rede Emancipa Belém e Ananindeua
Rede Interdisciplinar de Pesquisa e Diálogos no Sul Global – Rede IntegraSUL/UFPA
Rede Internacional de Educação Popular Brasil – África
Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino  Superior no Estado do Pará (SINDTIFES)
Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação  Pública do Pará (SINTEPP) – Belém
Tela Firme
Universidade Popular dos Movimentos Sociais/Amazônia

 

NOTAS

1 – Paulo Freire foi declarado Patrono da Educação Brasileira por meio da Lei nº 12.612,  de 13 de abril de 2012. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2012/Lei/L12612.htm>. Acesso em: 26/12/2020.

2 – Além das reuniões com educadoras/es que culminaram na elaboração de propostas  para o Programa de Governo “Belém de Novas Ideias”, esta Carta-Manifesto ganha forma  e conteúdo na plenária virtual realizada no dia 10/12/2020 com dezenas de coletivos e  movimentos de educação popular.  

3 – BELÉM DE NOVAS IDEIAS. Programa de Governo. Belém, 2020.

4 – BRASIL. Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas.  Brasília: Departamento de Educação Popular e Mobilização Cidadã, 2014. Este Marco  de Referência “tem como objetivo promover um campo comum de reflexão e orientação  de práticas coerentes com a perspectiva metodológica proposta pela Educação Popular  para o conjunto de programas, projetos e políticas com origem, principalmente, na ação  pública, que contemplem os diversos setores vinculados a processos educativos e  formativos das políticas públicas do Governo Federal.” (BRASIL, 2014, p. 27).

5 – Dados do analfabetismo em Belém. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de  Domicílios Contínua Anual – 2º trimestre de 2019 (PNAD/IBGE), a taxa de  analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade em Belém (PA) – Região  Metropolitana é de 2,7%, o equivalente a mais de 40 mil pessoas. Para o IBGE, a  taxa de analfabetismo é o percentual de pessoas de determinada faixa etária que não  sabe ler e escrever um recado ou bilhete simples no idioma que conhece no total de  pessoas dessa mesma faixa etária. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (2020),  no município de Belém, há 7.275 eleitores analfabetos, 19.525 que declaram apenas  “ler e escrever”, e um contingente de 180.418 eleitores que não concluíram o Ensino  Fundamental.