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Bloco com Maia, Michel Temer, Baleia Rossi e Doria?

Rodrigo Maia conversa com parlamentares
Tania Rego / Agência Brasil

Rodrigo Maia

Paulo Pasin

Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).

A campanha sistemática da mídia hegemônica de que os “extremos” (esquerda e direita) foram igualmente derrotados nas eleições municipais está incidindo fortemente nas organizações que se reivindicam de esquerda. Mesmo depois da experiência negativa com Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados, grande fiador do programa econômico de Bolsonaro e Paulo Guedes no parlamento e engavetador-mor dos processos de impeachment, PT e PCdoB anunciaram adesão ao bloco comandado pela direita tradicional.

Com todo o respeito, os argumentos dos defensores do acordo são inconsistentes. Dizem que, apesar das diferenças sobre política econômica, a adesão se justifica pela promessa de “defesa da democracia”.

Qualquer pessoa minimamente informada que conhece o histórico dos comandantes do golpe de 2016 – o DEM de Rodrigo Maia (herdeiro da antiga Arena), do MDB de Michel Temer e Baleia Rossi, do PSDB de Bolsodoria – sabe que o comprometimento deles com as liberdades democráticas é da boca pra fora.

Além disso, tratar a política econômica ultraliberal de Guedes e Maia como se fosse uma questão menor, quase um detalhe, é imperdoável.

Analistas da classe dominante estão se aproveitando das atípicas eleições municipais de 2020, ocorridas em meio a pandemia e marcadas pelo receio de mudanças, para falsear a realidade afirmando que a população legitimou o programa econômico dos candidatos de “centro” identificados com a política de ajuste fiscal.

Não são avaliações imparciais. Após o repulsivo golpe orquestrado pelo imperialismo norte-americano e dois anos de governo do neofascista, o capital e seus agentes estão na ofensiva e aplicam um projeto de destruição da soberania nacional, dos direitos trabalhistas, previdenciários e sociais. Nessa situação tão adversa, é preciso que reflitamos o porquê e como as campanhas eleitorais, como a de Boulos e Erundina em São Paulo e outras, mobilizaram setores de massa da juventude, das mulheres, negros e negras, LGBTs, artistas, intelectuais e setores precarizados da classe trabalhadora. Em minha opinião, a mobilização em torno dessas candidaturas aponta para o futuro, para o início da superação deste período sombrio.

O resultado desse processo certamente contribuirá imensamente para com as demais lutas concretas das trabalhadoras, trabalhadores e da juventude em defesa da vida e a patente necessidade do governo federal urgentemente instituir uma política nacional de vacinação. Aliás, já está bem atrasado com relação aos demais países, índices de contaminação e óbitos existentes no Brasil, que, segundo a avaliação dos renomados e competentes especialistas, tendem a aumentar no próximo período.

Haveremos, além de valorizar e reconhecer o SUS, exigir a destinação de mais verbas, vacinas para todos, a continuidade e extensão do auxílio emergencial, manutenção e recuperação dos empregos, salários e direitos e a derrubada do governo de Bolsonaro, Mourão e Guedes.

No entanto, para que essa energia revitalizante não se disperse, é preciso que a esquerda não seja pautada pelos “conselhos” dos que querem que ela se descaracterize. Toda ação da esquerda, em qualquer terreno, inclusive na luta parlamentar, deve estar voltada, subordinada mesmo, a um objetivo mais amplo.

Estamos desafiados a dar um passo à frente e, no calor das lutas, romper com o lugar-comum, ignorar e desprezar a política tradicional, construir um projeto de mudanças estruturais no Brasil e o programa socialista que seja compreendido pelo conjunto da classe trabalhadora, em especial pelos setores mais precarizados e explorados, alicerçado num intenso trabalho de base.

Só com mobilização popular, com o povo nas ruas, podemos inverter a correlação de forças na sociedade para derrotar Bolsonaro pela ação direta. Para que a esquerda recupere o protagonismo é preciso falar para fora do parlamento. Abdicar de apresentar propostas que atendam aos interesses da maioria da bastante sofrida população na disputa para a presidência da Câmara significa entregar a direção da oposição ao governo Bolsonaro para a direita tradicional e ultraliberal.

Enfrentar esta discussão é indispensável. Afinal, a humanidade vive mais uma encruzilhada histórica. A catástrofe sanitária, destruição do meio ambiente e brutal desigualdade social desnudaram a falência do sistema capitalista.

Todavia, predomina na esquerda mundial a visão de que a vanguarda da classe trabalhadora e juventude devem entrar em coalizões permanentes , orgânicas e programáticas (“frentes amplas” ou “frentes eleitorais”) com suas próprias burguesias para conter setores mais reacionários ou pró imperialista. O exemplo brasileiro deixa claro que, no atual estágio do capitalismo, não existe, em países subordinado às potências imperialistas, parcelas da classe dominante compromissadas com a soberania nacional e as liberdades democráticas.

Na prática, quem defende conscientemente a conciliação de classes dificulta a unidade dos trabalhadores e oprimidos com apelos em prol da unidade com o capital. Atrelam a luta imediata, atual e essencial em defesa da vida e dos direitos trabalhistas, previdenciários e sociais, à constituição de uma frente amplíssima para 2022.

Marcado como:
congresso nacional