A morte de João Alberto numa loja do Carrefour, na véspera do Dia da Consciência Negra, gerou uma justa revolta contra mais um caso de racismo nessa rede. Não, não foi a primeira agressão racista, nem a segunda. Entre racismo e outras formas de violência, houve ao menos sete casos noticiados. Sem contar com formas de racismo mais naturalizadas, como a constante vigilância de clientes negros por seguranças da loja. Precisamos seguir com as manifestações e ir além, promovendo uma campanha de boicote a toda a rede.
Violências, racismos e descasos
Entre as violências noticiadas, estão três casos de agressão racista, sendo que a última vítima (João Alberto) faleceu devido às agressões. Os agressores foram um segurança e um policial militar e o assassinato foi semelhante ao de George Floyd, mas com maior agressão.
Em São Bernardo do Campo, 2018, Luís Carlos, um homem negro e com deficiência, decidiu abrir uma latinha de cerveja dentro da loja. Ele dizia que iria pagar, mas os seguranças não acreditaram. Luís Carlos recebeu um mata-leão e teve múltiplas fraturas. A integridade física de um homem negro vale menos que uma lata de cerveja?
Januário, em 2009, saiu da loja em Osasco e entrou em seu próprio carro, um EcoSport. O carro era dele, mas os seguranças não acreditaram – ele foi removido do carro e agredido. Por que um homem negro não pode ter um EcoSport?
Em Recife, ainda esse ano, Moisés, funcionário da loja, faleceu enquanto promovia produtos. O mercado seguiu funcionando por quatro horas durante a manhã, enquanto o corpo de Moisés ficou no meio da loja, oculto por guarda-sóis e protegido por caixas. Nenhum luto pelo homem que faleceu.
Ano passado, foi concedida uma liminar pedida pelo Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região contra a rede, que estava controlando a ida de funcionáries ao banheiro. Um óbvio desrespeito contra trabalhadores e trabalhadoras da loja, sem contar uma falta de bom senso.
Em 2017, um grupo de funcionáries da loja foi demitide após uma greve. Foram dois ataques aos direitos trabalhistas: a falta de pagamento de hora extra nos feriados e a demissão de funcionáries grevista. Absurdo!
Por fim, não foram apenas seres humanos que foram vítimas de violência. Mais um caso em Osasco, em 2018: um cachorro foi envenenado e agredido. Acabou falecendo.
Boicotar o Carrefour!
Se João Alberto fosse a primeira vítima, isso já seria razão o suficiente para as manifestações contra essa rede de supermercados. Mas foram mais de sete casos noticiados, sem contar o racismo cotidiano que é tão naturalizado que nem vira notícia.
Não vou prestar nenhuma solidariedade às vidraças quebradas e às lojas queimadas. Não promovo esse tipo de manifestação, mas sou absolutamente contra a criminalização ou a punição das pessoas envolvidas. Objetos não valem nada comparados a uma vida humana.
De qualquer forma, penso que uma resposta organizada à rede seja mais eficaz. É preciso continuar as manifestações e também promover uma campanha de boicote à rede. Que as outras empresas aprendam a lição: quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro!
Comentários