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Especiais

2o turno no Rio: derrotar Crivella e Bolsonaro, organizar a oposição de esquerda a Paes

Direção Regional da Resistência/PSOL – Rio de Janeiro (RJ)
Carlos Osório

Bandeira da Resistência, em caminhada em Porto Alegre (RS), em 2018

O primeiro turno das eleições municipais nos forneceram uma visão atualizada do presente quadro da relação de forças entre as mais variadas alternativas políticas, em todo o Brasil. Ainda haverá muitas conclusões a se tirar do pleito, para orientar a continuidade da luta política. Partimos, nesse sentido, de uma visão inicial dos traços mais gerais indicados no âmbito nacional.

Uma primeira análise das eleições aponta a direita tradicional como principal vitoriosa do processo, até aqui. Mas após o pesadelo de 2018, a verdade é que todo o eleitorado de esquerda se revigora por um alento mais que bem-vindo: se seria precipitado decretar a derrocada final do bolsonarismo, o fato é que o bloco político neofascista não se reforçou, amargando derrotas eleitorais consideráveis. Do ponto de vista da esquerda, é notável, por sua vez, o fortalecimento relativo do lugar do PSOL, cuja ampliação da bancada do partido, na Câmara Municipal no Rio, é parte integrante.

No Rio de Janeiro, esse quadro geral se manifestou, evidentemente que de maneira desigual, refletindo as particularidades presentes na capital fluminense. Não pretendemos aqui esgotar a análise mais minuciosa do primeiro turno carioca. Nesta nota, o que buscamos é assinalar, em linhas gerais, as tarefas políticas que se apresentam para a próxima fase das eleições cariocas.

Vão se confrontar no segundo turno Eduardo Paes (37,01%), ex-prefeito e representante do bloco da direita tradicional, e Marcelo Crivella (21,90%), candidato do bolsonarismo e atual prefeito. Frente a essa polarização, é simplesmente impossível nutrir expectativas de que a próxima gestão da prefeitura do Rio, qualquer que seja o vencedor, atenderá, sequer remotamente, aos interesses das maiorias sociais. Tal cenário indesejável, no entanto, não implica que a esquerda – no intuito de acumular força e autoridade política, no Rio – possa simplesmente permanecer indiferente à segunda volta das eleições.

A tarefa imediata, no dia 29 de novembro, é impor mais uma derrota eleitoral ao bolsonarismo, derrotando Crivella. O fundamentalismo religioso, que teve na prefeitura do Rio uma posição de força fundamental, é parte orgânica do neofascismo brasileiro, que emergiu ao poder em 2018. Remover do governo esse setor, na segunda capital do país, será um triunfo importante, na medida em que debilitará as forças bolsonaristas, dando sequência aos seus revezes eleitorais sofridos no primeiro turno.

Essa localização política, que reconhece que a luta contra o bolsonarismo neofascista segue como o eixo ordenador da política da esquerda, não implica, contudo, em emprestar qualquer apoio político a Eduardo Paes. Ainda que parte do eleitorado da esquerda, diante das circunstâncias, acabe dando seu voto ao ex-prefeito, hoje no DEM, é crível que o fará não por confiar neste, senão como expressão da urgência em banir da prefeitura o fundametalismo de Crivella, derrotando Bolsonaro por consequência. É esse movimento que corresponde à esquerda acompanhar.

Por isso, diante de uma eventual vitória de Paes no segundo turno, a tarefa que estará colocada é unificar a esquerda na oposição a seu governo, organizando a resistência a seu projeto elitista de cidade na Câmara e, sobretudo, nas mobilizações dos movimentos sociais. No Brasil de 2020, não cabe sequer cogitar que qualquer partido de esquerda componha um governo deste tipo. Por sua coerência no enfrentamento à antiga hegemonia do MDB no Rio e por sua posição consequente também desde o golpe de 2016, o PSOL assumirá a linha de frente, mais uma vez, da resistência. Estaremos novamente firmes no combate a Paes e à direita.

A saída política que precisamos construir passa pela esquerda. Os conflitos entre a direita tradicional e Bolsonaro seguirão mediados pelo fato de que ambos estarão juntos na aplicação das medidas neoliberais que retiram direitos do nosso povo, o que se dará, também, em âmbito municipal. Só há sentido em se valer das contradições entre esses dois blocos políticos das elites, se há lucidez na compreensão de que construir o futuro passa por mobilizar nosso povo em defesa de suas condições de vida, o que passará necessariamente por lutar contra as prefeituras e governos estaduais da direita tradicional.

Não resta dúvida de que uma nova prefeitura de Eduardo Paes não terá o mínimo sentido de uma oposição consequente a Bolsonaro e a tudo o que ele representa. Cabe a esquerda carioca derrotar Crivella agora e, com igual convicção, construir na sequência uma forte oposição de esquerda a Paes. O jogo ainda não virou, mas os resultados desta eleição demonstraram que podemos sim nos fortalecer e fazer a diferença. Saber o próximo passo a dar, tendo nitidez de onde se quer chegar: está na esquerda e na classe trabalhadora a esperança que vai derrotar o neofascismo. A alternativa política que precisamos construir no Rio tem no PSOL um motor fundamental e só poderá florescer nutrida pela energia das lutas do nosso povo, das mulheres, negras e negros, LGBT e do conjunto de explorados e oprimidos.