O resultado das votações de domingo demonstraram que a capital gaúcha passará por uma mudança importante em seu legislativo. Os votos para as eleições a vereador de Porto Alegre demonstraram uma renovação de mais de 40% da bancada, fazendo com que em 2021 a câmara seja ocupada por novos representantes, muitos deles jovens. Também foi simbólico o aumento significativo de vereadores negros de esquerda, que passou de uma para cinco eleitos, sendo Karen Santos (PSOL) a mais votada da cidade com 15.702 votos e Matheus Gomes (PSOL) o 5º mais votado com 9.869 votos.
Bancada negra de vereadores de Porto Alegre (PSOL, PCdoB, PT)
Entretanto, dois dias após o resultado das eleições, circulou um áudio nas redes sociais, gravado pelo ex-candidato à prefeitura Valter Nagelstein (PSD), no qual este destila o pior do racismo e do seu ódio à esquerda para justificar o resultado eleitoral. Nagelstein, que atualmente é vereador, confirmou em suas redes sociais a autoria do áudio no qual desqualifica os cinco recém-eleitos vereadores negros. Em suas palavras: “cinco vereadores do PSOL, muitos deles jovens, negros (…) vereadores esses sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal”.
O ódio e racismo expressos no discurso de Nagelstein demonstram o incômodo com o avanço da luta antirracista
Valter Nagelstein, que nessas eleições para prefeito terminou com um resultado de pouco mais de 3% dos votos, desenvolveu sua plataforma política colando-se às ideias e imagens bolsonaristas e está do lado daqueles que querem o desmonte dos serviços públicos. Ele quer representar o avanço das ideias conservadoras e de extrema-direita na capital gaúcha, mas sabe que a expressiva votação de jovens negros para o legislativo enfraquece seus planos e precisa usar de sua retórica racista e infundada para atacar. Mas não vai passar! Uma professora, uma jornalista, uma sanitarista, uma estudante universitária e um historiador formam uma bancada muito qualificada e com uma trajetória política construída nos movimentos sociais em luta pelos direitos da população negra e periférica. O ódio e racismo expressos no discurso de Nagelstein demonstram o incômodo com o avanço da luta antirracista dos últimos meses.
A história da Câmara de Vereadores da capital gaúcha agora é outra, a representação política é cada vez mais preta, e não aceitaremos mais calados a marginalização e genocídio do nosso povo. Não deixar a população negra e periférica à mercê para enfrentar a crise econômica e sanitária aprofundada neste ano deverá ser um compromisso fundamental para a bancada negra a partir de 2021. A luta por uma Porto Alegre antirracista e com dignidade para a população preta será essencial para reconstruir a rede de direitos sociais da cidade.
*William Gonçalves é estudante de Letras e Militante do Afronte de Porto Alegre (RS).
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