O linhão de transmissão conhecido como “Linhão de Tucuruí” que vem da usina de Tucuruí, no Pará, interligando os estados de Amapá e Amazonas ao SIN (Sistema Interligado Nacional). No caso do estado do Amapá no processo de licitação a empresa espanhola ISOLUX (LMTE) foi a ganhadora da concessão, ficando responsável pela sua construção e operação e pela manutenção do trecho no qual está a subestação onde o sinistro aconteceu. O problema é que esta empresa desde 2015 está em processo de recuperação judicial. Segundo reportagem da Época Negócios, “dona de uma série de obras de linhas de transmissão de energia com atraso de mais de um ano e mergulhada em um processo de recuperação extrajudicial, a companhia espanhola Isolux tenta fechar a venda de seus ativos no Brasil com uma grande companhia de infraestrutura da Espanha, o Grupo Ferrovial.”
Esse processo que vem se arrastando há anos teve mais um capítulo em março de 2020 quando a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) rejeitou a venda dos seus ativos, como mostra reportagem: “A área técnica da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) rejeitou as condições apresentadas pela espanhola Isolux, para que suas operações no Brasil fossem transferidas para outra companhia. Em extrema dificuldade financeira dentro e fora do País, a Isolux entrou em processo de recuperação extrajudicial e tenta, há mais de três anos, vender seus ativos no Brasil.”
Por este breve levantamento sobre a situação financeira da Empresa ISOLUX, “responsável” pelos serviços de transmissão energia Elétrica para o estado do Amapá, fica evidente que a conta iria recair sobre a população amapaense, que necessita deste serviço essencial para a vida da população. Então esses fatores se somam a vários outros como:
- A empresa não possuía equipamento reserva para utilizar em caso de falha dos equipamentos que estavam em operação.
- Já vinha trabalhando com um transformador a menos, parado para a manutenção há quase um ano, ou seja, operava com um terço da subestação.
Mais uma vez o estado brasileiro se vê de calça curtas, frente a situação de ganância por lucro fácil de empresas que cada vez mais assumem o controle sobre serviços e atividades estratégicas no Brasil e não fazem as ações que deveriam ser feitas para evitar essas calamidades.
Seria possível ter evitado o efeito do raio?
A informação divulgada na imprensa é que uma descarga atmosférica ainda não confirmada teria provocado um incêndio no transformador nº 01 da Subestação de Macapá, em seguida o mesmo teria pego fogo e atingido o outro transformador, tendo como consequência o apagão em quase todo o estado do Amapá.
Vejamos os fatos:
Uma descarga atmosférica pode fazer tal estrago no sistema elétrico brasileiro, como foi o caso do Amapá. Por isso, nas instalações elétricas existem equipamentos que são projetados para esta situação – os famosos Para-Raios, que tem a função de drenar a descarga atmosférica a terra(solo) evitando que os equipamentos chaves da subestação sejam comprometidos durante este acontecimento. Já que como todos sabem o Brasil é um dos países onde esses fenômenos acontecem com frequência e existem manutenções preditivas adequada para evitar esse tipo de falha. Então as perguntas são: esses equipamentos foram bem dimensionados para esta função? A manutenção deles estava em dia?
Outra coisa que também ficou evidente é que a empresa não possuía um plano de contingência e nem equipe técnica e equipamentos para possibilitar o retorno do serviço a subestação. A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e os órgãos de controle brasileiros não previram equipamentos reservas para esta subestação. O que não acontece geralmente com as empresas estatais.
O papel do governo e o silêncio da empresa
Mesmo sendo uma empresa privada responsável por esta atividade, o Ministério de Minas e Energia convocou a ELETROBRAS/ELETRONORTE para reestabelecer os serviços de energia elétrica no estado do Amapá. Desde o dia do sinistro, vários técnicos foram deslocados para a cidade de Macapá para atender essa emergência o problema é que estas ações levam tempo para serem resolvidas devido a situação dos equipamentos encontrados na Subestação do Amapá e sendo necessários o deslocamento de instrumentos e equipamentos enviados de outros estados.
Mais o que mais me dói em que momento nenhum o ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, deixou claro para a imprensa nacional que essa situação de calamidade no Estado do Amapá acontece por conta de uma concessionária privada de capital espanhol chamada ISOLUX, que até o exato momento não se pronunciou, tentando transparecer que essa situação está acontecendo por um problema provocado pela natureza, pelo acaso.
Tentam ocultar a (ir)responsabilidade do ente privado. Lógico que isso tem explicação, já que o governo Bolsonaro de todas as formas tenta convencer a população brasileira, na contramão mundial (onde mesmo no EUA não é privado) de que o serviço essencial e estratégico de energia elétrica precisa passar para a iniciativa privada.
Não à privatização da Eletrobras
Por final queria colocar de uma mensagem retirada no Whatsapp: “a culpa do apagão foi de uma empresa privada a ISOLUX espanhola. Detalhe importante a empresa não tem técnicos nem material para reestabelecer o sistema, que está fazendo está ação de emergência é a ELETROBRAS ELETRONORTE.”
Por isso, é preciso reivindicar a atuação da equipe técnica da ELETROBRAS ELETRONORTE, que sempre se coloca a disposição do povo brasileiro e especialmente na Amazônia para garantir e levar o serviço essencial de energia elétrica. Diante do silêncio e da omissão da empresa privada, é a Eletrobras, uma empresa pública e os servidores públicos que a integram, que tentam reestabelecer a energia. E é preciso apoiar a luta que está sendo realizada por todos os trabalhadores eletricitários do País contra a privatização das empresas da ELETROBRAS e exigir a apuração e a responsabilização deste crime praticado contra o Estado do Amapá e ao seu povo.
*Trabalhador da Eletronorte.
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