Pular para o conteúdo
BRASIL

A armadilha do financiamento empresarial

Nota da Resistência/PSOL
Armínio Fraga. Usa camisa social azul.
Reprodução /TV Globo

A burguesia brasileira, parida na longa escravidão de quase quatro séculos, é sustentáculo do racismo estrutural que alicerça o nosso capitalismo periférico e brutalmente desigual. A pobreza e a violência a que está submetido o  povo negro é fonte da imensa riqueza e privilégios de banqueiros e grandes capitalistas. O racismo existe, fundamentalmente, para reforçar a dominação de uma classe social: a burguesia branca.

Consideramos que a luta contra toda forma de opressão é inseparável da luta contra a exploração e vice-versa.

Não é a primeira vez na história do PSOL que está colocado o debate sobre financiamento empresarial de campanhas eleitorais. O tema é objeto de recorrentes polêmicas na esquerda – e em nossa visão tem enorme importância programática. Não partimos de uma perspectiva individual e nem moral. Sabemos que a sociedade é dividida em classes sociais: os interesses da classe trabalhadora, que em sua maioria é negra no Brasil, são irreconciliáveis com os interesses de banqueiros e grandes empresários, todos eles brancos.

O projeto de se aliar ao setor “progressista” da classe dominante foi tentado diversas vezes pela esquerda brasileira. Todas as tentativas fracassaram, sendo suficiente recordar o trágico desfecho das alianças do PT com setores da burguesia e da direita, que abriu portas para o golpe parlamentar e a ascensão do neofascismo bolsonarista.

Pensamos que o PSOL deva se manter em outro caminho, o de questionamento frontal à ordem capitalista, que é base de sustentação do racismo estrutural. O debate sobre as alianças com alas da grande burguesia é inseparável do debate do financiamento das organizações de esquerda e seus candidatos.

Nós da Resistência temos uma posição diferente da de Marcelo Freixo: somos contra o financiamento de banqueiros e grandes empresários nas campanhas eleitorais. Financiar sem pedir nada em troca é a velha e conhecida tática de cooptação e sabemos que a conta chega mais cedo ou mais tarde. A política socialista não separa os meios e os fins.

Defendemos que as candidaturas de negras e negros tenham destaque na divisão  dos recursos do fundo público para financiamento das campanhas, como uma das formas de luta contra o racismo e a vergonhosa predominância de brancos na política. O PSOL deve estar na vanguarda desta batalha.

Importa ressaltar o valor da arrecadação coletiva (como, por exemplo, as “vaquinhas” na internet) não só como método saudável de obtenção de recursos, mas também de estabelecimento de laços políticos entre candidatos e suas bases sociais (trabalhadores, negros e negras, LGBTs, etc). Entre outras coisas, o financiamento pela burguesia tende a degradar essa relação a médio prazo.

Atalhos que parecerem inofensivos hoje, como o financiamento “desinteressado” de banqueiros a candidaturas de negros de esquerda, vão terminar por fazer o caminho da luta pelo fim do racismo mais longo e não mais curto. Afinal, não existe banqueiro antirracista, posto que a fortuna dos donos do Itaú e do Armínio Fraga, por exemplo, foi construída em base à exploração e à espoliação cruel do povo trabalhador e negro do nosso país. E são esses mesmos capitalistas “progressistas” que apoiaram a Reforma da Previdência, o Teto dos Gastos Públicos, a Reforma Trabalhista, as privatizações, entre outras medidas que atacam diretamente a condição de vida da população trabalhadora, negra e pobre do Brasil.