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Colunas

Nossa tarefa número um nas eleições: desmascarar a farsa eleitoreira de Bolsonaro

Diante da inflação dos alimentos, reduzir o valor e a abrangência do auxílio emergencial é mais crime deste governo

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Estamos a cerca 50 dias das eleições municipais de 15 de novembro. E é um fato que Bolsonaro e seus aliados querem usar o pagamento do auxílio emergencial, de forma eleitoreira e oportunista, para beneficiar seu projeto político ultrarreacionário na próxima disputa eleitoral.

É inegável que o pagamento deste auxílio para mais de 60 milhões de brasileiros, durante a pandemia da Covid-19,  que segue em nosso país , se transformou num trunfo político nas mãos do atual presidente, interferindo diretamente na avaliação que parcelas significativas da população fazem sobre o desempenho de seu governo.

Diante da gravidade social piorada pela pandemia, a criação de um programa como o auxílio emergencial era uma obrigação de qualquer governo. E, sempre é bom lembrar, que Bolsonaro queria destinar apenas 200 reais para o pagamento deste auxílio. Na verdade, foi o Congresso Nacional, com os partidos de esquerda e de oposição à frente, que jogou um papel decisivo para definição dos valores que efetivamente foram implantados: 600 reais (1.200 reais para mães que sustentam suas famílias).

Entretanto, o governo acabou se beneficiando desta concessão, mesmo que limitada, mas que foi importante para evitar um cenário de ainda maior crescimento da fome e da miséria, que voltaram a crescer nos últimos anos em nosso país. Avaliações demonstram também que a abrangência do programa evitou uma queda ainda maior do desempenho da própria economia.

Evidentemente, o anúncio do resultado de pesquisas de opinião, divulgadas pelos principais institutos do país, apontando uma interrupção na ampliação do desgaste que Bolsonaro vinha sofrendo, e até um relativo crescimento do apoio ao atual governo, causa inquietação entre os ativistas, militantes e organizações de esquerda que seguem engajadas na luta para derrubar este governo.

É possível derrotar Bolsonaro

De fato, o  governo Bolsonaro é ainda um terrível inimigo a ser abatido. Uma tarefa de primeira ordem, prioritária em relação a todas as outras, mas que não foi ainda realizada e será realmente de difícil execução. Exige grande empenho, e principalmente unidade na organização de nossa agenda de mobilizações, entre todos os movimentos sociais e partidos de esquerda.

A evolução da realidade brasileira nos últimos 6 meses, demonstrou que erraram os analistas e setores políticos que chegaram a afirmar que Bolsonaro já estaria derrotado, pelo agravamento da pandemia no Brasil.

É verdade que houve desgaste do governo em grande parcela da população e que inclusive Bolsonaro foi forçado a abandonar, pelo menos momentaneamente, a agenda golpista de intensificação de graves ameaças contra às liberdades democráticas.

Porém, também é errada a visão de que os últimos 6 meses foram marcados apenas por vitórias políticas e fortalecimento do projeto bolsonarista de extrema direita. Não nos ajuda em nada ignorar os recuos que Bolsonaro foi obrigado a realizar para se sustentar politicamente, seja no passo tático de abandonar momentaneamente a agenda golpista e ter que assumir mais nitidamente os acordos espúrios com o centrão no Congresso.

Uma avaliação séria e mais atenta, vai demonstrar que ainda persiste uma profunda divisão política em nosso país, entre os que já estão abertamente na oposição a Bolsonaro e que desejam o fim deste governo o quanto antes; e outro setor que mantém o apoio ao projeto de extrema direita do bolsonarismo.

No primeiro grupo, podemos destacar a maior parte dos trabalhadores, especialmente sua parcela mais organizada e politicamente ativa; no segundo grupo, a maioria das classes médias mais abastadas e parte dos mais pobres e precarizados, que migraram para apoio ao governo, principalmente devido ao auxílio emergencial.

Não há atalhos possíveis. Portanto, segue sendo uma prioridade cotidiana para as organizações sindicais, os movimentos sociais e os partidos de esquerda, construir uma agenda unificada de mobilizações com o objetivo de derrotar este governo.

E, a nossa tarefa número 1 na próxima campanha eleitoral é desmascarar Bolsonaro em parcelas cada vez mais significativa da população, começando, inclusive, desmontando a farsa eleitoreira em torno do pagamento do auxílio emergencial.

Reduzir o auxílio vai ampliar a fome e a miséria

Segundo estudo do IBGE, pelo menos 10,3 milhões de brasileiros estão passando fome. Um dado alarmante, que atinge sobretudo a população negra das periferias brasileiras, mas que é referente ao ano de 2018. Ou seja, não abrange as brutais consequências sociais geradas pela pandemia e da atual crise econômica.

Neste momento, inclusive, é notícia um aumento significativo no preço dos alimentos, sobretudo nos produtos da cesta básica, em todas as regiões do país. O aumento galopante dos preços de produtos fundamentais para a mesa do povo trabalhador já está na casa dos 2 dígitos, na maior parte das capitais e grandes cidades brasileiras. Portanto, muito acima dos índices oficiais da inflação no Brasil. O agronegócio prefere vender para o mercado mundial, ampliando ainda mais seus lucros, do que atender a demanda do consumo da maioria do povo brasileiro.

Outro fator agravante da situação de decadência social é o aprofundamento do desemprego, do subemprego e da precarização do trabalho, que atualmente já atinge a maioria da população considerada economicamente ativa.

Diante deste quadro de relevante agravamento da desigualdade social, do aumento da miséria e da fome em nosso país, o anúncio da redução pela metade no valor do auxílio emergencial, e a redução também da sua abrangência (diminuição dos que tem direito de receber), se revela como mais um crime político deste governo.

Depois de várias tentativas da equipe econômica de Paulo Guedes de reduzir seu valor, o anúncio do pagamento de mais 4 parcelas do auxílio emergencial, agora de apenas 300 reais, é a demonstração cabal que este governo – e maioria corrupta e reacionária do Congresso Nacional – não está de fato preocupada em combater a fome e a miséria. Essa medida se explica, em última instância, pelo objetivo eleitoreiro do bolsonarismo nas eleições de 15 de novembro.

Nossas tarefas imediatas

Portanto, os partidos de esquerda devem tornar este debate e esta denúncia em uma das prioridades no combate a Bolsonaro e seus aliados nas eleições de 15 de novembro, especialmente nas capitais e grandes cidades brasileiras. Encarar de frente esta discussão se revela fundamental para a tarefa mais geral de desmascarar e derrotar o bolsonarismo, preparando as condições para a derrubada deste governo.

Ao lado de uma política mais efetiva e a médio prazo de combate ao desemprego, por exemplo: com a redução da jornada de trabalho sem redução de salários e direitos e com a efetivação de um plano de obras públicas nas grandes cidades, é fundamental a defesa da permanência do auxílio emergencial. Pelo menos, enquanto persistir os efeitos mais perversos tanto da pandemia como a atual crise econômica.

Inclusive, defendendo no mínimo a manutenção do valor do auxílio emergencial anterior (600 reais), lutando para ampliá-lo para o valor de 1 salário mínimo, garantido que todos e todos que realmente precisem integrem este programa.

Para isso, temos que enfrentar a verdadeira campanha midiática, que mente diariamente para população, afirmando que não existe dinheiro para financiar um programa social como este. Afinal, o dinheiro necessário para ampliação da segurança social da maioria do povo brasileiro deveria vir de uma reforma tributária realmente justa, que avançasse na taxação dos super ricos e dos lucros exorbitantes das grandes empresas e bancos. Assim como, também, com a suspensão imediata do pagamento da dívida pública, para realização de uma ampla auditoria que comprove a ilegalidade de seus valores astronômicos.