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EDITORIAL

SOS Pantanal

Editorial 20 de setembro de 2020
Mayke Toscano/Secom-MT/Fotos Públicas

A catástrofe ambiental em curso no Pantanal, com as terríveis queimadas que devastam a fauna e a flora de um dos mais importantes biomas brasileiros, infelizmente não é apenas um desastre natural. É, antes de tudo, o resultado direto da política anti-ambiental do governo Jair Bolsonaro, tal como se passa também com a devastação da Amazônia. Somente nos primeiros 14 dias de setembro de 2020, os focos de queimada na Amazônia já superam os registros de todo o mês de setembro de 2019.

Mas no Pantanal, neste momento, a situação é ainda mais grave. De janeiro à primeira quinzena de setembro, o Pantanal já teve mais de 2,9 milhões de hectares consumidos pelo fogo, o equivalente a 19% de toda a área da maior planície alagada do mundo — habitat de milhares de espécies da fauna e da flora brasileiras, muitas das quais ameaçadas de extinção e outras tantas ainda desconhecidas da Ciência. Só este ano já foram registrados pelo INPE mais de 15 mil focos de incêndio na região (o maior índice da história desde que os incêndios começaram a ser monitorados, em 1999), mais do que os 10 mil focos registrados ao longo de todo o ano de 2019. As imagens de onças, jacarés, tamanduás e tantos outros animais mortos, queimados e agonizando são fortíssimas e dão a exata dimensão da tragédia – um ecocídio de gigantescas proporções.

Willian Gomes / UFMT / Fotos Públicas
Resgate de onça-pintada vítima de incêndios florestais no Pantanal. Willian Gomes / UFMT / Fotos Públicas

As queimadas também já atingiram cerca de metade das terras indígenas do Pantanal, com 200 focos de incêndio no mês de agosto e 164 até o fim da primeira quinzena do mês de setembro. O fogo descontrolado tem cercado aldeias, destruído casas, plantações e levado a internações por problemas respiratórios em indígenas de diversas etnias. São inúmeros os relatos de lideranças indígenas que acusam que as queimadas vieram de fora pra dentro dos territórios indígenas, isto é, do manejo ilegal do fogo por parte de fazendeiros e grandes empresários na busca irracional pelo aumento da produção e dos lucros do agronegócio. O Agro, nesse sistema capitalista e sob o governo Bolsonaro, mata e promove o aumento da inflação do preço dos alimentos, como o arroz e o óleo de soja, pois a maior parte da produção é exportada para fora do país em função da alta do dólar (o que permite ao agronegócio lucrar mais).

Os impactos dos incêndios florestais não se fazem sentir somente na região do pantanal mato-grossense e sul-matogrossense. Os impactos são globais. A fuligem e a fumaça que estão cobrindo o céu do estado de São Paulo podem chegar na África e provocar alterações climáticas em outras regiões do Brasil, causando por exemplo o fenômeno da ‘chuva escura’, uma mistura de água com partículas de fumaça. A economia brasileira também pode sofrer com a perda de mercado no exterior em função da péssima imagem do país por conta da irresponsabilidade ambiental do governo.

Mayke Toscano/Secom-MT/Fotos Públicas
Foto: Mayke Toscano/Secom-MT/Fotos Públicas

E o que dizem e fazem Jair Bolsonaro e Ricardo Salles diante de tamanha catástrofe? Bolsonaro disse que o Brasil estava de parabéns na preservação do meio ambiente um dia antes do avião em que estava precisar arremeter por conta das queimadas na região pantaneira, quando se deslocava pra um evento promovido pelo agronegócio, um dos agentes econômicos mais diretamente responsáveis pelos incêndios criminosos. E Salles simplesmente enfraquece as operações contra o desmatamento na Amazônia e no Pantanal, não aplicando (de modo intencional) as verbas do Ministério do Meio Ambiente em programas de preservação ambiental; e corta verbas do orçamento do IBAMA e do ICMBIO, desmontando a estrutura estatal de fiscalização e conservação ambiental.

O Observatório do Clima, uma rede de organizações da sociedade civil, divulgou na semana passada a informação de que o Ministério do Meio Ambiente utilizou nos primeiros 8 meses de 2020 apenas 0,4% (R$ 105 mil de um total de R$ 26,5 milhões) de todo o dinheiro em conta para programas de preservação ambiental.

Também causa revolta e indignação o bloqueio financeiro de R$ 60 milhões que o governo federal anunciou em 31 de agosto de 2020 no repasse de verbas para o IBAMA (R$ 20,9 milhões) e para o ICMBio (R$ 39,7 milhões), órgãos responsáveis pelo trabalho de preservação ambiental no país. E para o Orçamento de 2021, R$ 120 milhões já foram cortados da pasta do Meio Ambiente. Todo esse corte de verbas em meio a essa terrível crise é um verdadeiro crime ambiental de Bolsonaro e Salles.

Como se já não bastasse o incentivo que o presidente da República e o ministro do Meio Ambiente dão aos desmatadores por meio de seu discurso anti-ambiental e de sua política de deixar passar a ‘boiada’ da desregulamentação ambiental, o governo brasileiro atua conscientemente no desmonte dos órgãos de fiscalização ambiental no exato momento em que o Pantanal e a Amazônia sofrem com a maior devastação de sua história.

O negacionismo climático e ambiental do governo Bolsonaro, assim como o de Trump, é uma ameaça à vida no planeta. A crise climática mundial é um subproduto do desenvolvimento capitalista em escala global, pois o capitalismo é um sistema de produção irracional, cujo objetivo central é o lucro e o crescimento desenfreado das riquezas dos capitalistas e não o atendimento das necessidades humanas ou o respeito à vida e à natureza.

Precisamos parar urgentemente Ricardo Salles, removendo-o do cargo de ministro do Meio Ambiente. A campanha Fora Salles precisa ser ampliada e fortalecida, pois a derrubada deste ministro criminoso fortalecerá a luta pelo ‘Fora Bolsonaro’ e colocará em debate a necessidade de um programa sério e conseqüente em relação à preservação ambiental, que passa por uma profunda mudança na gestão das políticas de meio ambiente no país, pelo aumento significativo de verbas para fiscalização e programas de conscientização e preservação ambiental, pela realização de concursos públicos para os órgãos ambientais, pelo endurecimento da legislação com penas mais rigorosas para desmatadores e criminosos do meio ambiente, além da implementação de uma política articulada nacional e internacionalmente de combate às queimadas e demais crimes ambientais.