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BRASIL

30 meses sem Marielle Franco

Priscila Costa, de Salvador, BA
YOUTUBE/REPRODUÇÃO/JC

Completam-se, hoje (14), dois anos e meio sem Marielle e Anderson. São 30 meses sem respostas para um dos assassinatos mais brutais da história da democracia brasileira. 30 meses de dor, mas também de uma forte reação popular, de proporções internacionais, que mantém vivo o seu legado e segue fazendo a mesma pergunta: “quem mandou matar Marielle Franco e por que”? A ausência de respostas até o momento não será suficiente para calar a nós e a todas e todos a quem a luta de Marielle inspirava. Mesmo com a prisão dos suspeitos pelos disparos, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, o caso ainda não foi totalmente resolvido. Responder essa pergunta não significa apenas fazer justiça, mas também dizer qual grupo político no Brasil resolve as diferenças na bala e com morte encomendada.

A morte de Marielle foi um triste episódio. Além de assassinar sua vida, também tentaram assassinar sua reputação. Desde a sua morte, as redes sociais foram contaminadas de notícias falsas e boatos de que a vereadora tinha relações com o tráfico do Rio de Janeiro. As Fake News chegaram a ser reproduzidas por um deputado do DEM-DF e uma desembargadora do TJ do Rio. Os boatos foram desmentidos por sites de checagem de dados e uma importante campanha contra as Fake News sobre Marielle foi impulsionada por um grupo de advogadas do PSOL, resultando em ações vitoriosas contra as calúnias e difamações.

A tentativa de distorcer e manipular a história de Marielle tem uma razão de ser. Nada apaga sua ausência, mas a potência que significa a semente deixada por Marielle certamente seguirá florescendo entre as próximas gerações. Desde o início, não houve luto sem luta. Os atos que exigem justiça até hoje ecoam “Marielle, presente!”. Eleita com 46,5 mil votos pelo PSOL, Marielle foi a quinta maior votação para vereadora nas eleições de 2016 e estava no primeiro mandato como parlamentar. Oriunda da favela da Maré, Zona Norte do Rio, ela tinha 38 anos, era socióloga, com mestrado em administração pública e militava no tema de direitos humanos.

Hoje, o legado de Marielle virou semente e floresce nas ruas e nos espaços de decisão do país. Como ela mesma falava, “as flores da resistência nascem do asfalto”. Marielle é lembrada por todas nós pela sua alegria contagiante e pela coragem para lutar. A socialista, a feminista, a antirracista, a defensora dos direitos humanos, da causa lgbt, a favelada, a negra, a mulher que amava outra mulher, a mãe, a filha, a irmã. Em todos os aspectos, Marielle Franco será lembrada e estará presente. Seu nome, sua luta e sua vida se misturam em todos os aspectos e diversidades de resistências do povo brasileiro. O que ela carregava consigo era uma identidade política completa, que não pode ser fragmentada, ou apagada da história.

‘Marielle Vive’ é a prova de que nós manteremos a chama acesa. Que nós não aceitaremos mais. Que nós não esqueceremos. Marielle se transformou, se multiplicou, surgiram novas, centenas e milhares. Em cada favela, cada bairro, cada local de estudo surge uma nova Marielle. Este ano, viveremos mais um processo eleitoral durante o qual, certamente, milhares de mulheres negras pelo país colocarão seu nome à disposição inspiradas em Marielle. Para nós, essa não é apenas umas disputa de perfil, mas um compromisso diário, dentro e fora das eleições, de fazer jus à sua memória e luta. Em cada ocupação de terra, cada ocupação por moradia, cada luta feminista, antirracista, cada luta democrática.

Há 30 meses, choramos. Fomos às ruas. Muitas de nós desabamos. Estávamos desoladas. Não tínhamos nada além de uns aos outros. Naquele momento, a gente entendeu que ninguém podia soltar a mão de ninguém. Hoje ainda dói. Só que o nosso grito não é mais só de dor, é também por justiça. “Marielle Vive” é o grito entalado na garganta por 500 anos, que engloba todas as lutas e particularidades do povo brasileiro. Não é só recordar de Marielle, é manter vivo seu legado e multiplicá-lo. É uma denúncia contra a extrema-direita, contra o governo que unifica os setores do Exército com a milícia. É um grito contra as elites que mataram, seguem matando e acreditam que poderão matar e dominar nosso povo. A luta por respostas continua.

Quem mandou matar Marielle Franco?

Por que Adriano da Nóbrega, chefe dos milicianos que a executaram, recebia dinheiro de Queiroz e do gabinete de Flávio Bolsonaro?

Quem estava na casa 58 do condomínio de Bolsonaro e dos assassinos naquele dia?

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Marielle Franco