No mês passado, importantes ativistas e intelectuais, alguns deles fundadores do Fórum Social Mundial (FSM), lançaram uma nova proposta para rearticular este espaço internacional, diante da gravidade do atual momento, marcado principalmente pela crise ambiental de proporções terríveis, a pandemia da Covid-19 e por uma das maiores crises econômicas da história recente do capitalismo.
Com o título: “Por um novo Fórum Social Mundial: mudar o FSM para mudar o mundo – de um espaço aberto a um espaço de ação”, a iniciativa afirma que é preciso mudar a forma de organização deste espaço. Assinada por nomes de peso, tais como: Adolfo Pérez Esquivel (Argentina), Boaventura Sousa Santos (Portugal), Frei Beto e Emir Sader (Brasil), Oscar Gonzales (México), Vandana Shiva (Índia), Elizabeth Mpofu (Zimbabwe) Ignacio Ramonet e Mirelle Fanon (França), entre outras e outros, a proposta visa manter caráter de debates amplos, mas dando destaque – a partir de agora – para a necessidade do FSM se transforme também numa ferramenta de ação global.
Para se tornar este espaço de ação, seria necessário mudar a carta de princípios do FSM, definida na sua primeira edição, em 2001, em Porto Alegre. Passados 20 anos, uma das necessidades apontadas é dar voz ativa aos novos movimentos sociais que vem assumindo um papel de destaque nas lutas de resistência, como os Movimentos Antirracistas, Feministas, LGBTQI e em defesa do Clima e Meio Ambiente.
Para apresentar esta proposta, eles se apoiam num exemplo positivo, que foram as manifestações puxadas inicialmente pelo FSM, em 2003, contra a Guerra do Iraque, onde se denunciou o papel criminoso e imperialista dos EUA. Segundo o texto coletivo, iniciativas como esta faltaram nas últimas duas décadas em que o FSM manteve seu funcionamento formal.
Existe a possibilidade da realização de uma nova edição do FSM no México, em janeiro de 2021. Mas, a sua confirmação ainda vai depender da situação da pandemia neste país e no resto do mundo.
O Levante Antirracista nos EUA, com seus evidentes desdobramentos internacionais, e a importância – também internacional – da disputa política nas eleições presidenciais estadunidense, apontam para a urgência da convocação de espaços de articulação internacional dos movimentos sociais e da esquerda.
Portanto, uma nova edição do FSM, ainda mais com uma versão renovada, mais voltada para ações políticas concretas de mobilização, poderá cumprir um papel importante e progressivo para os processos em curso de luta e resistência dos explorados e oprimidos em todo mundo.
Defendemos uma alternativa anticapitalista
Concordando em muitos aspectos com os elementos apresentados por este Manifesto, é necessário avançar também numa reflexão política e programática sobre o momento que estamos vivendo hoje.
Nas últimas décadas, vem ficando mais nítido que a crise do capitalismo vem ameaçando diretamente a existência da humanidade, sobretudo dos mais pobres e periféricos. As terríveis consequências globais sobre o Meio Ambiente e o Clima, fruto direto da produção capitalista desenfreada, apenas voltada para os lucros de grandes corporações transnacionais, é a expressão mais acabada desta ameaça.
Inclusive, é necessário compreender a existência e a abrangência da atual pandemia da Covid-19 e suas consequências sanitárias, ceifando até o momento centenas de milhares de vidas em todos os Continentes, como parte inerente da crise ambiental provocada pelo sistema capitalista, cada vez mais decadente.
Este quadro brutal ainda se completa com uma das mais profundas crises econômicas da história recente, com terríveis consequências sociais. Por exemplo, condenando ao desemprego, ao subemprego e a miséria enormes contingentes das populações menos favorecidas, especialmente os mais jovens, as mulheres, os negros e negras, os imigrantes, os povos indígenas originários, ou seja, as parcelas mais exploradas e oprimidas da classe trabalhadora.
Inclusive, a existência e o crescimento de alternativas ultra autoritárias, nacional imperialistas, de extrema direita e neofascistas demonstram a necessidade urgente de uma resposta firme e unitária da esquerda e dos movimentos sociais. Como vem sendo demonstrado na prática pela força e extensão do Levante Antirracista nos EUA. De fato, a parcela mais exploradas e oprimidas da classe trabalhadora tem o seu direito a vida diretamente ameaçados todos os dias.
Existe um fato inequívoco: os últimos 20 anos nos demonstraram de forma cabal a total impossibilidade de um “novo mundo” a partir de um pseudo processo de “humanização e democratização do sistema capitalista”. A luta para mudar o mundo exige sim e cada vez mais espaços de unidade de ação da esquerda e dos movimentos sociais, mas exige também uma luta firme e consequente contra o capitalismo.
Sem colocar este elemento com uma condicionante para construirmos articulações internacionais de frente única e unidade de ação, que tenham sempre como objetivo fortalecer nossa auto-organização e a capacidade de mobilizarmos, é preciso abrir imediatamente este debate político entre os ativistas que estão na linha de frente da resistência. A gravidade do momento exige de todos nós um patamar mais avançado de organização da nossa luta.
Os socialistas devem ser parte ativa de inciativas unitárias, se colocando sempre sua militância à serviço do avanço das lutas e da auto-organização do povo trabalhador em todo mundo. E, da mesma forma, devemos nos dedicar, pacientemente, a esta discussão programática fundamental: a luta por um novo mundo necessita do fortalecimento de uma alternativa política anticapitalista, que aponte a necessidade da transição ao socialismo.
Comentários