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BRASIL

Seletividade punitiva no combate às aglomerações no Rio Grande do Norte

Lucas Alvergas, Natal, RN
Reprodução

Nesse feriadão, circulam várias imagens retratando centenas de turistas na Praia da Pipa, famoso ponto turístico do Estado, que sofre, há anos, um processo de elitização e ocupação por parte de turistas estrangeiros, lotando as ruas sem máscaras e nitidamente desrespeitando qualquer medida de segurança para evitar o contágio do novo Coronavírus.

Para piorar a situação, é possível ver, através das imagens, várias viaturas policiais em meio aos turistas, sem haver nenhuma abordagem ou instruções de prevenção em relação à pandemia.

Em entrevista ao RNTV, o Cel Alarico Azevedo, responsável pelo patrulhamento na região, afirma que “não havia intenção de aglomerar” por parte dos turistas, “apenas de curtir o feriadão”.

Por outro lado, no Bom Pastor, bairro periférico da Zona Oeste de Natal, uma competição de dança organizada por jovens moradores do bairro foi reprimida a balas de borracha, segundo os moradores, pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal, no mesmo fim de semana.

Outro caso envolve um campeonato de futebol que ocorria na Comunidade do Japão, onde uma operação com mais de cem policiais e cães farejadores foi realizada para dispersar o evento, também segundo informações do RNTV.

Esses episódios deixam nítido, mais uma vez, o quanto as ações policiais de repressão às aglomerações são uma farsa e tem como função apenas aumentar a violência contra as populações das periferias.

Não se trata de defender aglomeração x ou y, mas de denunciar que existe uma evidente diferença entre quem pode aglomerar em bares, praias e zonas elitizadas da cidade (os brancos e ricos) e quem sofre abordagem policial quando resolve, na folga do trabalho, confraternizar e se divertir, consequentemente causando aglomerações, em bairros periféricos (pretos e pobres em sua maioria).

Ou seja, não há de fato preocupação em conter a taxa de contágio epidêmico, o que existe é o aumento do leque de desculpas das forças policiais para violentar a população pobre.

É preciso superar a visão punitivista, que existe mesmo entre setores progressivos da sociedade, de que qualquer comportamento fora da ordem deve ser reprimido de forma violenta, mesmo nos casos de descumprimento das medidas de isolamento, pois a história e os fatos têm demonstrado que a violência só é utilizada contra uma parcela da população, enquanto a outra, mais rica e branca, goza de liberdade ilimitada.