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OPRESSÕES

Sandra presente: Frente Feminista de Londrina realizará ato nesta sexta-feira, 31

Ato em defesa da voz e da vida das mulheres será realizado após feminicídio na cidade paranaense

Ângela Silva*, de Londrina, PR

Era 04 de julho, Sandra Mara Curi, 43, sai de sua casa e vai à justiça para pedir medida protetiva, ela temia por sua vida. O Juiz João Marcos Anacleto Rosa que estava de plantão negou o pedido feito por Sandra, para ele, não havia provas. Sandra volta para casa onde morava com seus dois filhos. No dia 06, Sandra recebe a visita do seu ex-marido, Alan Borges, que a surpreende com 22 facas, Sandra é assassinada na frente dos filhos. Esta poderia ser uma história de ficção, mas é real. O feminicídio de Sandra poderia ter sido evitado, assim como tantos outros que acontecem todos os dias. 

Uma voz interrompida, apagada, silenciada e nunca mais escutada, os filhos das mulheres vítimas de feminicídio não ouvirão mais suas vozes. Mas quantas mulheres têm suas vozes ouvidas? Já faz muito tempo que as mulheres põem seus corpos em defesa pelo direito das mulheres, são décadas de luta e resistência. Mas a há séculos o sistema capitalista sobrepõem às opressões ao corpo das mulheres. “A violência de gênero que vivenciamos hoje reflete as dinâmicas contraditórias da família e da vida pessoal na sociedade capitalista. E essas, por sua vez, são baseadas na inconfundível divisão pelo sistema, entre a produção de pessoas e a obtenção de lucro, família e trabalho” (ARRUZA, BHATTACHARYA, FRASER, 2019, pg.57).

As lutas das mulheres no processo histórico são marcadas por conquistas e avanços, mas também por resistência e perseguições. Silvia Federici, no livro Mulheres e caça às bruxas, traz uma leitura muito importante para a compreensão do contexto econômico / político e social. No livro apresenta que a caça às bruxas na Europa confinou as mulheres ao trabalho doméstico e a subordinação aos homens, estabelecendo assim, uma nova ordem social específica do sistema patriarcal capitalista que se estende até hoje. O controle da reprodução social pelo estado garantiu a criação de novas gerações de trabalhadores e trabalhadoras (FEDERICI, 2019, pg, 92). 

Para Frederici (2019), a crescente violência contra as mulheres, principalmente, entre as afrodescendentes, indígenas nativas, tem ligação direto com a “globalização”, que utiliza a política de recolonização para pôr nas mãos do capital as riquezas e o trabalho humano, isso, não seria possível sem atacar as mulheres que são as responsáveis pela reprodução da vida. Enfatiza também que a violência contra a mulher é um elemento importante na guerra global, pois as mulheres representam capacidades de manter as comunidades coesas, são importantes para a agricultura de subsistência, que mantém a sobrevivência de muitas pessoas (FEDERICI, 2019, p., 94, 96).   

Os vários elementos que corroboram para a violência doméstica, a instabilidade econômica provocada pelas taxas de desempregos, e a insegurança devido à crise política, sanitária, econômica e social intensificada pela pandemia do COVID-19 tem efeitos sobre o aumento da violência. O Mapa da violência demonstra que enquanto há uma diminuição de agressão contra a mulher branca, mas há um aumento da violência que atinge as mulheres negras. Entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios entre mulheres negras aumentou 54%, enquanto a taxa das mulheres brancas diminuiu 9,8%. 

As desigualdades sociais acirram a violência, e as leis e políticas públicas ainda não são suficientes. Neste contexto, as vozes seguem sendo interrompidas, mas não, silenciadas! A voz de Sandra, de Marielle e de tantas outras, apresenta que temos pressa, e que PALAVRA DE MULHER TEM VALOR!

*Ângela Silva é professora da rede municipal de Londrina e da Resistência Feminista


NOTAS

ARRUZA, Cinzia. Feminismo para os 99%: um manifesto. Cinzia Arruza, Tithi Bhattacharya, Nancy Fraser; tradução Heci Regina Candiani. 1. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2019.

FEDERICI, Silvia. Mulheres e a caça as bruxas; tradução Heci Regina Candiani. 1. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2019.

Marcado como:
feminicídio / Londrina