O entendimento de que as empresas públicas, e empresas de economia mista controladas pelo poder público devem ter como objetivos primordiais a promoção de serviços públicos e serem elementos chave na implementação de políticas públicas não podia estar mais distante da gestão “moderna” do governador Ratinho Júnior no Paraná. Ele segue com a sua tentativa de privatização da Copel Telecom, com a aprovação, em 15 de julho, da venda pelo conselho de administração da Copel.
A COPEL – Companhia paranaense de energia foi criada em 1954 para prover o Paraná de energia, quando a eletricidade era um problema, devido a ao limitado acesso constante à energia, com o mercado dominado por empresas de capital estrangeiro, sem interesse em garantir o acesso universal a energia, cobrando valores inacessíveis e com serviço de baixa qualidade, com quedas e oscilações constantes. No interior do estado a energia vinha de geradores a diesel e durava poucas horas por dia.
Com base no planejamento e pensando no Paraná, planos e estudos foram feitos e a Copel foi criada e passou a adquirir empresas menores de energia expandindo o atendimento em todo o estado.
A Copel atua na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, e telecomunicações com destaque no brasil, reconhecida e premiada constantemente por quem utiliza os serviços, rentável (mais de 2 bilhões de lucro em 2019), presente em todo o estado. A Copel é uma empresa que leva seus serviços a todo o Paraná, desde comunidades de difícil acesso no litoral, quilombolas, aldeias indígenas e todas as cidades do nosso estado.Com muita luta não foi privatizada em 2001, frente à sanha privatista e neoliberal de Jaime Lerner e sua trupe.
O ataque a Copel Telecom como aceno ao mercado
No Paraná, a principal responsável por conectar os esforços de todos para diminuir os efeitos da pandemia e garantir as informações necessárias para o trabalho remoto e vínculos digitais de famílias e amigos é a Copel Telecom, subsidiária da Copel com quatro décadas de serviços. Direta, ou indiretamente, estamos conectados por ela.
A Copel Telecom dinamiza e promove a qualidade no mercado de telecomunicações no Paraná. Ao prezar pela qualidade exposta na simetria de banda e premiações recebidas (melhor internet do Brasil), abrangendo boa parte do estado a preço justo, faz com que as demais empresas do setor, inclusive os grandes conglomerados de telecomunicações multinacionais, tenham, por questões de concorrência, buscar o aprimoramento contínuo dos seus serviços e atendimento, bem como da área de abrangência. Cabe ressaltar que o mesmo não ocorre em outros estados, onde a oferta é reduzida, e em diversas áreas e regiões pessoas, empresas e governos não são devidamente atendidos por não interessarem ao viés mercadológicos desses grandes conglomerados. Lembremos que como diz o artigo 7º do Marco Civil da internet: “acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania”.
A ameaça neoliberal constante
As práticas neoliberais são uma ameaça constante, como muito bem exposto na tese “Empresas públicas, racionalidade privada? Um estudo sobre o trabalho nas companhias de economia mista do Paraná” de Mariana Bettega Braunert.
Todavia após o segundo mandato do famigerado Beto Richa esse processo se intensificou. No caso da Telecom ela tornou-se uma diretoria específica e passando uma empresa rentável, sem endividamento e com histórico de suporte à inovações e políticas públicas, em uma empresa demandante de recursos e com um pesado programa de investimentos, nos quais à cada lançamento de rede em nova cidade para o mercado residencial, deputados e prefeitos disputavam espaço por ter leva a “internet”.
No caso da Copel Telecom mesmo cumprindo, como faz há décadas esse importante papel, inclusive premiada como uma dos melhores serviços de internet do país, o governo do Paraná segue com sua ideia de privatizar este patrimônio do povo do Paraná. A ideia foi exposta em 2018 antes de assumir o mandato, e após as eleições, na bolsa de Nova York de forma a sinalizar o tom da sua gestão, onde os lucros privados valem muito mais que o interesse público, vide a situação da educação, os ataques ao funcionalismo e a gestão da pandemia pautada pelas associações comerciais.
Esse ataque está dentro das medidas neoliberais de reestruturação de empresas estatais apontam em duas direções básicas: corte de custos e diversificação da captação de recursos. Em geral cortar custos implica em diminuição de corpo permanente de funcionários, terceirização e subcontratação de várias atividades, fechamento de agências e sedes descentralizadas.
Os trabalhadores da Copel Telecom são trabalhadores da Copel e em hipótese alguma contra vontade própria devem ser alijados da mesma por governantes que são temporários. Até o momento, a Companhia não apresentou uma diretriz clara que dê segurança jurídica aos mesmos caso a privatização se concretize.
A perspectiva é de luta e defesa desse patrimônio dos paranaenses
Entendo que a Copel Telecom é patrimônio dos paranaenses, construída e mantida além de investimentos da empresa pública nos últimos 40 anos com a dedicação dos trabalhadores que em todo Paraná atuaram e atuam para levar serviços de qualidade que possibilitem a melhoria da qualidade de vida de todos os paranaenses.
A empresa deve permanecer pública, possibilitando a implantação de políticas públicas por meio da tecnologia, serviços confiáveis para que as demais empresas do Grupo Copel e telecomunicações de qualidade a preço justo para cada vez mais organizações e cidadãos paranaenses.
Em meio à possibilidade de venda, as responsabilidades devem ser devidamente atribuídas, sendo a do governador zelar pela qualidade dos serviços públicos e de uma empresa que já se mostrou rentável e cumpridora da sua missão, a Assembleia Legislativa, a responsabilidade de agir com critério e zelar pelo patrimônio paranaense, sem se deixar levar pela obediência cega aos pedidos do executivo e interesses escusos de empresas que querem somente abocanhar um patrimônio construído e mantido por décadas pela Copel para somente obtenção de lucros com remuneração irrisória pela aquisição dos ativos.
Ao vir para Curitiba trabalhar na Copel e na Copel Telecom, pensava em atuar apoiando a implementação de políticas públicas a partir das telecomunicações. Vindo de atuar como educador no laboratório de informática em escola estadual, onde a internet trazida pela Copel Telecom para 2 mil escolas, oportuniza para todos os estudantes a internet de qualidade, e como isso as artes, cultura e pesquisas evitando a exclusão digital, possuía essa perspectiva que pouco se concretizou.
Hoje muita coisa mudou, todavia a qualidade do serviço da Copel Telecom, a dedicação dos seus trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo frente as intempéries, e a confiança na luta e nas políticas públicas não. Quanto aos que usam do público para interesses privados, esses a luta e a história darão conta.
* Bolívar Alencar Ribeiro é trabalhador da Copel há 10 anos, mestre em desenvolvimento regional pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e militante do Psol em Curitiba.
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