O estrago que o discurso da “gripezinha” faz no interior do país

Divulgação / Prefeitura

Rio Verde, em Goiás

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

A pandemia da Covid-19 se espalhou pelo interior no Brasil. Como o governo federal lavou as mãos, os cuidados ficaram sob responsabilidade dos governos estaduais e municipais. Isso gerou todo tipo de situação nas cidades do interior. Teve cidade em que a prefeitura decretou toque de recolher e montou barreira na entrada para evitar que as pessoas saíssem ou entrassem. Teve cidade que chegou a proibir a venda de bebidas alcóolicas para evitar aglomeração. Mas isto foi no começo. Justamente quando o vírus chegou no interior, a população relaxou no distanciamento social e a Covid-19 está fazendo um enorme estrago. 

Um dos casos mais bizarros foi na cidade de Rio Verde, em Goiás: 283 operários do mesmo frigorífico contraíram a Covid-19. A empresa responsável pelo local é a BRF, que administra a Perdigão. Hoje o vírus se espalha por toda a região. 

O Brasil profundo e o neofascismo

O discurso bolsonarista começou nos grandes centros urbanos, com a juventude mais conectada à internet e preocupada com a violência. Mas rapidamente se espalhou pelo país. Em especial depois que a bancada ruralista começou a abraçar Bolsonaro. Nos últimos dias antes do primeiro turno de 2018, os “coronéis” quem controlam a política nas cidades do interior abandonaram Geral Alckmin, do PSDB, e começaram a fazer campanha para o candidato do PSL. O resultado foi que ele pulou de 30% das intenções de voto para mais de 40% quase ganhando no primeiro turno. 

Com o bolsonarismo se alastrando nas pequenas cidades, as mensagens de whatsapp chegaram ao chamado Brasil Profundo. E isto foi fatal quando a pandemia de Covid-19 chegou. No início, as elites de algumas cidades tomaram atitudes moralistas e “toques de recolher” sem diálogo, sem informar de maneira correta o que estava acontecendo. A população não aderiu ao isolamento. Em especial pelo fato de que em muitos lugares não havia nenhum caso. 

É impossível combater uma pandemia mundial em nível municipal. Seria necessária a coordenação da prefeitura com os governos estadual e federal. Além disso, boa parte dos prefeitos são grandes fazendeiros que não sem importam com a população. E com menos acesso à informação, a população no interior é mais suscetível a acreditar em Fake News. 

No interior a fronteira entre “estar em casa” e “sair de casa” é mais tênue. Estar em uma cadeira na calçada em frente ao portão de casa é estar “dentro de casa”? A vida comunitária depende muito das pessoas visitarem umas às outras. E elas são muito apegadas às suas rotinas. E o bolsonarismo, com sua rede de falsas informações, incentivou a população a não mudar de hábito. 

Fazer com que as pessoas usem máscaras, pratiquem o distanciamento social e adotem novos hábitos de higiene exige uma forte campanha. Campanha que o governo federal não fez. O povo ficou sem orientação. O presidente da República pessoalmente incentivou aglomerações sem máscaras e deu declarações contra os cuidados. Com isto, o descaso virou regra.

O discurso bolsonarista se estabeleceu no interior, foi apropriado pelas elites locais e agora faz seu estrago. Milhares estão morrendo, inclusive porque a maioria dos municípios do interior não conta com leitos de UTI para o tratamento de pacientes com a covid-19. Combater esta rede de mentiras e preconceitos por todo o país é urgente.