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BRASIL

Retomada das aulas sem os estudantes imunizados é irresponsabilidade

Andressa Leme e Mari Mendes
GOVESP

No dia 24 de junho, o governador do Estado de São Paulo, João Dória, tornou público o plano de reabertura das escolas para início das aulas presenciais em 08 de setembro desse ano.

Profissionais da educação básica e uma parcela das famílias que conhecem a realidade das escolas, afirmam que é precipitada e irresponsável a retomada das aulas presenciais nesse contexto em que um vírus de contágio tão veloz como o covid19 segue circulando entre as pessoas, principalmente  sem que se tenha uma vacina desenvolvida e testes em massa disponível.

A preparação dos insumos de merenda e planejamento de rodízio dos alunos, tão destacados pelo governador são as únicas respostas concretas, porém não são suficientes para garantir a segurança necessária das condições de higiene e distanciamento social dos estudantes, professores e funcionários, ainda que em número reduzido de docentes, é inevitável a aglomeração no ambiente escolar.

O governador precisa responder: Todos serão testados? E esses testes serão repetidos com qual frequência? Os alunos ficam de máscara todo o período de aula? As crianças conseguem ficar paradas e manter o distanciamento social? É possível uma escola pública, conseguir 1,5 m de distanciamento dentro de uma sala de aula? Há estrutura para aulas ao ar livre? Se os alunos têm em média 5 horas de aulas, e é necessário estabelecer uma rotina de higiene pessoal muito mais intensificada que a normal, os professores conseguirão dar suas aulas de maneira que faça algum sentido assumir esse risco, ou o objetivo não é aprendizagem e sim espaço para os pais que precisam trabalhar deixar seus filhos em “segurança”?

O planejamento para esse retorno é muito bem apresentado no papel, mas não é consciente. Não partiu do ponto de vista de quem conhece de perto as dificuldades das escolas e sabe que a estrutura e cotidiano desse ambiente, vai além de local para deixar os estudantes e merenda para alimentá-los. Reabrir uma escola é muito mais complexo que reabrir uma loja, um escritório, uma padaria… É um ambiente que as pessoas permanecem nele por até 10 horas, que atende crianças e essas desde março estão em casa e não chegarão prontas para praticar o “novo normal”. Disponibilizar álcool em gel por toda parte não é tudo!

Os pais e as famílias precisam ficar atentos e se perguntar: Posso confiar que os governos irão garantir todas as medidas de distanciamento? Está realmente seguro e bem planejado esse retorno? Faz diferença para quem ficou em casa de março a setembro, se arriscar por menos de 03 meses nas unidades escolares?

Frente a essa situação, o Fórum de Mulheres Filhas da Luta e alguns coletivos dos movimentos sociais, unem-se aos professores, profissionais da educação, mães e pais de alunos, e vem se colocar contra essa proposta de reabertura das escolas, pois acreditamos não haver viabilidade para implementar sequer, as mínimas ações anunciadas pelo governo, muito menos as necessárias e fundamentais para segurança dos estudantes e seus familiares. Compreendemos que permitir o retorno de crianças, professores e demais funcionários à escola sem uma medida efetiva de segurança contra a covid-19, sem vacina desenvolvida e sem uma reorganização das escolas como redução do número de alunos por sala, tempo de aulas, contratação de recursos humanos e reestruturação dos espaços físicos, é no mínimo uma irresponsabilidade! O governo mais uma vez demonstra preocupação em manter formalidade e burocrática e não com a vida.

Lembrem-se: não temos vacina, não temos infraestrutura física e humana nas escolas para garantir que estudantes, em especial os pequenos, mantenham a distância recomendada pelos especialistas, fato que sem dúvidas irá culminar na propagação do vírus de forma massiva. Quem irá pagar e se responsabilizar por isso?

#NossosFilhosNãoSãoRodaParaGirarAEconomia – Não é porque houve reabertura do comércio que as escolas devem seguir a lógica, pois são ambientes com características distintas

#MinhaCriaNãoVolta – Diversas mães e pais já decidiram que ainda que escola retome as aulas presenciais, não colocaram seus filhos em risco. Já terão assumido o ensino remoto até setembro, não faz sentido colocar os filhos para ser portador ou se infectar com o vírus por menos de três meses.

Texto produzido pelas autoras e apoiado pelos coletivos: Fórum de Mulheres Filhas da Luta, Impacto Feminista, Apeoesp Mogi, Frente Feminista ZL, Resistência Feminista, Coletivo Mogianas, Psol Mogi das Cruzes, Profs. Vânia Silva e Cíntia Sécario.