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Uma justa homenagem a Chelsea Manning, mulher trans que revelou os crimes de guerra dos EUA

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Nesta semana, quando lembramos a Revolta de Stonewall e a luta fundamental em defesa dos direitos da população LGBTQI+, queria dedicar este breve artigo para homenagear Chelsea Manning, mulher trans e ativista dos direitos humanos nos EUA.

Em 2010, Chelsea, conhecida na época por sua identidade anterior – era um jovem militar estadunidense, analista de inteligência, que tinha servido no Iraque e no Afeganistão. Ficou conhecida mundialmente pelo vazamento de milhares de documentos secretos das forças armadas estadunidenses e do FBI.

Uma atitude extremamente corajosa, que comprovaram para o mundo os verdadeiros crimes brutais dos EUA, principalmente nas Guerras do Iraque e Afeganistão. Os vazamentos foram publicados, de forma inédita, pelo Wikileaks.

Foi na prisão que Chelsea assumiu sua identidade como mulher trans. Chelsea foi presa ainda em 2010, depois de uma covarde traição de um hacker que trabalhava para o FBI. Especialmente nos primeiros anos de sua detenção, ficou presa em celas solitárias, sofrendo criminosos maus-tratos.

A Anistia Internacional chegou a publicar protestos, afirmando que Chelsea estava presa numa condição totalmente ilegal, sofrendo um tratamento análogo a tortura. Durante estes anos, devido ao sofrimento desumano, tentou por duas vezes retirar sua própria vida.

Em 2013, foi condenada a 35 anos de prisão, uma pena recorde nos EUA, decidida às portas fechadas, num tribunal militar estadunidense. Mais um absurdo. De forma tardia, apenas no final de seu segundo mandato, em 2017, o ex-presidente democrata dos EUA, Barack Obama, relaxou sua prisão. Chelsea foi finalmente libertada, depois de 7 anos de uma terrível detenção.

Uma perseguição ilegal e sem fim

Entretanto, desgraçadamente, o sofrimento de Chelsea estava longe de acabar. Ano passado, ela foi novamente presa, por ter se negado, mais uma vez de forma heroica, a depor no processo onde o governo dos EUA quer extraditar Julian Assange, um dos editores do Wikileaks, preso injustamente no Reino Unido.

Durante a nova prisão, mais uma vez absurda e ilegal, Chelsea novamente tentou suicídio. Após mais este acontecimento cruel e revoltante, de inteira responsabilidade do governo dos EUA, Chelsea foi libertada, em março de 2020. Mas, segue sob a ameaça constante do governo autoritário e extrema direita de Trump.

Com este humilde texto, quero homenagear a coragem de Chelsea, que em 2010 tinha apenas 23 anos, e sua incrível contribuição para a luta internacional pelo direito ao livre acesso a informações, aos direitos humanos e contra os crimes de guerra do imperialismo estadunidense. Sua invisibilização é também um crime político.

Mas, além da justa homenagem, o objetivo é também nos somar a uma cada vez necessária campanha internacional de denúncia contra a perseguição ilegal que o governo dos EUA realiza até hoje contra Chelsea. Exigimos o fim de qualquer detenção de Chelsea, a extinção de qualquer processo criminal contra ela e o fim imediato de qualquer perseguição política.

Independente de opiniões críticas que se possa ter sobre suas ações, é evidente que a liberdade de Chelsea Manning, assim como para Julian Assange, é parte importante de nossas lutas democráticas e anti-imperialistas. Esta campanha é também uma obrigação de todas e todos que lutam pela liberdade de expressão e contra os crimes do imperialismo estadunidense e seus aliados contra a Humanidade.