Felipe Alencar*, de São Paulo (SP)
Vivemos numa crise da sexualidade que dura um longo período. Hoje caminhamos sobre ruínas da heterossexualidade e seus zumbis bolsonaristas tentam nos puxar pelos pés para comer nossos miolos e realizar sua missão impossível: retroceder desejos que já destruíram a barreira da infelicidade e da miséria.
Zumbi bolsonarista antissexualidade
A situação reacionária que atravessamos com o bolsonarismo é expressão de uma crise estrutural do projeto do capital que, enquanto a classe dominante não encontra saída, ousa experimentações mais autoritárias ainda para destruir os direitos da classe trabalhadora.
O uso do mais forte controle já foi posto em prática em 2019, com zumbis nos ministérios sedentos por acabar com a pauta da diversidade sexual.
Primeiro com a propaganda anti-aborto, do fim da “ideologia de gênero”, a ridícula cena de Damares Alves esbravejando “menina veste rosa e menino veste azul”, a escatologia compartilhada no twitter de Bolsonaro durante o Carnaval sobre “golden shower”, flexibilização de regras para porte de armas de fogo, fechamento do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saude e as várias ameaças de morte contra Jean Wyllys, ex-deputado federal do PSOL, que o fizeram exilar-se fora do Brasil.
O bolsonarismo respondeu: em várias cidades houve ataques semanais contra travestis, lésbicas e gays afeminados que chegavam em nossa comunidade LGBTI como lamentáveis e preocupantes notícias de pessoas amigas que foram agredidas e mortas.
Longe de serem “cortina de fumaça”, esses fatos são afirmação de um projeto: negar qualquer diversidade, excluir quem não importa para ir à frente com o conservadorismo e promover a supremacia da heterossexualidade ridicularizando diferentes formas de satisfação dos desejos.
Junto a isso, ao mesmo tempo se afirmava a arma como objeto de “proteção do cidadão de bem”, um verdadeiro fetiche da arma de fogo como símbolo de desumanização e eliminação dos diferentes.
Nesse momento atravessamos a pandemia de Covid-19 que afeta a vida de bilhões de pessoas no mundo, com milhares de mortes no Brasil.
Agora mantidas em seus ambientes domésticos para prevenirem-se do vírus, mulheres têm sido vítimas de crescentes casos de violência. Embora não tenhamos informações sistematizadas sobre isso, é possível dizer que pessoas LGBTI estão na mesma situação lamentável e indignante.
Mas Bolsonaro ignora tanto as mortes quanto os casos de violência e agressão.
Para muitas pessoas da comunidade LGBTI fica a pergunta: aonde vamos parar?
Vidas LGBTI resistem
Já em 2019 tivemos mais uma multitudinária Parada do Orgulho LGBTI em São Paulo, com milhões de pessoas nas ruas. Ainda que muito marcada pelos grupos que disputam a Parada com viés da mercantilização e redução da luta pela memória da Revolta de Stonewall como uma grande festa.
O Bloco LGBTs contra Bolsonaro foi organizado pela esquerda radical e se afirmou como resistência contra o neofascismo e como um movimento permanente pelas vidas LGBTI, denunciando o desmonte que Bolsonaro está fazendo sobre os direitos da classe trabalhadora que afetarão a comunidade LGBTI, já negada de exercer plenamente os poucos direitos.
Ainda que num contexto não favorável, tivemos a importante conquista da criminalização da LGBTfobia dentro da lei do crime de racismo e foi julgada como inconstitucional a lei que proíbe o ensino sobre gênero e sexualidade.
Mesmo na pandemia de Covid-19, as ruas são tomadas pelo movimento “Vidas Negras Importam” e pela luta antifascista.
A existência das LGBTI está na raiz desses movimentos, porque o antifascismo é uma bandeira global contra todo tipo de violência anti-humana e vivemos num país de maioria negra e mestiça, de pessoas LGBTI da periferia que batalham por suas vidas.
Revolução sexual é necessária
Essas ações ajudam a erguer nossas cabeças e mirar um horizonte que deve ser nosso.
Fruto de nossa resistência, de nosso orgulho por termos rompido com o silêncio, a humilhação e a vergonha dos desejos reais ao longo de nossas histórias de vida que muitas vezes achamos que são individuais, mas são muito semelhantes e parecem até se repetir entre as várias LGBTI que conhecemos.
Romper com esse silêncio e desnaturalizar essa opressão é parte da revolução sexual que toda a humanidade está construindo, talvez sem consciência que isso está ocorrendo. E as pessoas LGBTI tem papel importante em dizer em alto e bom som: precisamos de uma revolução sexual!
Há muito ainda para avançar e temos que resistir de modo incansável. Ser LGBTI já é uma luta diária, por isso dizemos que existir é resistir!
Mas precisamos de um norte concreto e real para que nossa existência no mundo se some à luta pela transformação de toda a sociedade, como classe trabalhadora que somos: diversa em desejos, etnias, gêneros, línguas, culturas, vestimentas…
Não devemos nos acuar, nem nos esconder, pois a hipocrisia conservadora está em ruínas, eles são zumbis e nós temos vida!
*Professor e militante do PSOL
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