O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. O ritmo de crescimento mundial do número de mortes vinha diminuindo de forma consistente desde meados de abril, com redução em todas as atualizações do mês de maio, mas desde o início deste mês vinha se mantendo em 17% e agora está em 16%. A redução observada especialmente na Europa é contrabalançada pelo elevado crescimento das mortes no Brasil, México, Índia, Rússia, Peru e Chile.
Nos últimos sete dias, o Brasil teve 7.195 mortes, a maior marca em uma semana, e que representa 22,1% das 32.463 registradas em todo o mundo (o Brasil tem 2.75% da população mundial), mantendo-se na semana a média de 1.033 mortes diárias. No dia de ontem, o Brasil muito teve mais mortes (1.180) que todos os 141 países da Europa, África, Oceania, América Central e Caribe (699), e também mais do que os 49 países da Ásia (1.038), com 2 bilhões de habitantes.
O Ministério da Saúde omite informações e ataca diretamente o direito à informação, ocultando dados fundamentais e séries históricas sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave que permitiam dimensionar o patamar da ocultamento dos óbitos. Além disto, propaga o número de recuperados como se fosse a informação mais relevante. No entanto, este número só tem relevância se é maior que o de novos casos, o que absolutamente não é o caso. Além disto, enquanto a OMS recomenda que o registro de recuperados seja confirmado por teste PCR, no Brasil este número é suposto automaticamente 14 dias após a contaminação. Esta distorção faz com que o Brasil apareça com três vezes menos casos ativos que os Estados Unidos, mesmo tendo continuamente um número de novos casos superior ao longo dos últimos 15 dias.
A subnotificação segue como problema grave. O resultado da segunda etapa da pesquisa nacional Epicovid-19BR, divulgado no dia 11 de junho, indica que tínhamos então 6 vezes mais contaminados do que indicam os dados oficiais. Mantendo-se esta proporção, estaríamos hoje com 3.5% da população do país. Considerando a intenção declarada de Bolsonaro de atingir 70% da população para garantir a alegada “imunidade de rebanho”, haveria espaço para que o número e contaminados crescesse ainda mais 20 vezes, com o que se chegaria mantendo a mesma relação, a um milhão de mortes, sem considerar o acréscimo decorrente do colapso do sistema de saúde nem a atual subnoficação de óbitos não testados. Além de estarmos entre os cinco países com maior ritmo de expansão das mortes (mas muito acima dos outros quatro em números absolutos), temos também um dos maiores ritmos de expansão do número de casos, que teve um crescimento de 53% em 14 dias, frente à média mundial de 25%, tendo por vários dias seguidos ultrapassado 30.000 novos casos (40.673 ontem). Ao longo do período, o ritmo de crescimento de casos tem sido superior ao dos óbitos, o que levanta suspeitas em relação à possibilidade de que o ocultamento dos óbitos esteja se dando em escala crescente. Em maio, os óbitos cresceram 4.97 vezes e o número de casos cresceu mais de 6 vezes. Em junho, até aqui o número de óbitos cresceu 88% e o de casos cresceu 140%. O Brasil chega já a 11,2% das mortes mundiais, com 259 mortes por milhão de habitantes, mais de quatro vezes superior à média mundial (63).
A Índia registrou 2.006 mortes em um único dia (16/6), e está com um crescimento de 80% das mortes em duas semanas. México (58%), Peru (43%), Brasil (34%) e Rússia (32%) tiveram um crescimento entre duas e quatro vezes superior à média mundial. No entanto o Brasil está em estágio mais adiantado de evolução da pandemia, com número de mortes próximo à soma dos outros quatro, e portanto deveria ter taxas de crescimento muito mais baixas. O Irã, que já chegou a ter um crescimento de 12% enfrenta uma retomada no crescimento do número de mortes, chegando a 18%. Os demais países que estão entre os quinze com mais mortes vem conseguindo diminuição do crescimento de mortes, estando Estados Unidos (8%), Canadá (7%), e o Reino Unido (5%) em uma situação intermediária, ainda com oscilações, mas com tendência à redução das mortes diárias. Os demais países europeus registram um crescimento das mortes inferior a 2%, comprovando efetiva estabilização. A melhora da situação destes países é produto da manutenção dos índices de crescimento de novos casos abaixo 0,2% ao dia, que garante uma continuada redução dos casos ativos. As exceções na Europa são a Rússia, que segue como terceiro país em número de casos no mundo (mas que vem conseguindo reduzir o ritmo, com crescimento de novos casos para em torno de 1,5% ao dia) e a Suécia, atualmente em profunda crise decorrente do fracasso da estratégia que seguiu, tendo um dos maiores índices de morte por milhão do mundo e estando muito longe de conseguir estabilizar a situação (444 mortes e 30% de crescimento dos casos em 14 dias), estando ao mesmo tempo muito longe de chegar em patamares de contaminação que levem à propalada “imunidade de rebanho”.
A China, que deixou de constar no quadro dos quinze países com mais mortes, foi ultrapassada também por Turquia e Suécia (que tem uma população 140 vezes menor), e hoje é 18º país em número absoluto de mortes. O país registra apenas uma morte nos últimos 30 dias, mas nos últimos dias enfrenta novos focos, estando com 368 casos ativos na região de Pequim.
Brasil, México e Índia são disparadamente os três países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (11.814), México (3.970) e Índia (5.173) é absolutamente inexpressivo e várias vezes inferior aos demais países com números análogos de mortes e casos. É um patamar de testagem que torna absolutamente inviável qualquer controle sobre a pandemia, mostra o quanto é absurdo falar em reabertura da economia. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, indicador mais preciso para dimensionar o efetivo controle da pandemia, o Brasil tem índice (2.6) ainda pior que México (2.6) e Índia (15.3).
O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil, associado a um ritmo de crescimento do número de casos ainda maior, indica um rápido e intenso agravamento do quadro nacional. Já tendo passado de 52.700 mortes oficializadas, o país deveria ter já há muito tempo um ritmo de crescimento diário de novos casos bem abaixo de 1% para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes em duas a três semanas. Só é possível prever quando chegaremos ao pico da pandemia quando tivermos uma redução clara dos novos casos, que ao contrário seguem crescendo em ritmo elevadíssimo. Tornam-se cada dia mais urgentes políticas efetivas de isolamento social e inclusive de lockdown em várias regiões, o que é justamente o contrário do que vem sendo feito. Medidas deste tipo foram adotadas por todos demais os países muito antes de chegarem no trágico patamar em que estamos no momento. Nosso isolamento social continua sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, com cumplicidade explícita do grande empresariado, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de baixa testagem e subnotificação generalizada, que se expressa também no enorme crescimento de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave não testadas para Covid, especialmente alto em alguns estados que registram número relativamente mais baixo de mortes por Covid, em especial Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul, e que na média nacional representam 8 mortes adicionais para cada 10 mortes oficializadas por Covid (portanto chegando já a quase 40.000).
No Brasil, o número de mortes está duplicando a cada 26 dias e o número de casos a cada 20 dias, enquanto no mundo o tempo de duplicação das mortes é de 54 dias e o dos casos é de 38.5 dias. Além de sermos o país com mais mortes diárias, também já somos o país com mais novos casos diários (ultrapassando os EUA, que realizam mais de oito vezes mais testes por milhão de habitantes), o quinto país com o maior ritmo de crescimento de mortes (depois de Índia, México, Peru e Rússia, mas sob uma base numérica de 2,5 a 6 vezes maior) e o país com maior ritmo de novos casos diários. Certamente também somos o país com mais pacientes em estado grave, mas este dado está indisponível.
Outros países, situados especialmente na América Latina, e também na África, Ásia e Oriente Médio, embora com números de casos e de mortes que ainda são menos expressivos, vêm tendo crescimento bastante superior à média mundial. Dentre estes, tiveram crescimento do número de casos superior a 100% os últimos 14 dias: Nepal (2.42x), Iraque (2.3x) e África do Sul (2.02x). Se considerarmos os 25 países com maior número de casos ativos, além dos já citados, temos crescimento expressivo no Chile, Paquistão, Arábia Saudita, Bangladesh, Catar, Colômbia e Egito.
De outro lado, há um crescente número de países com a situação estabilizada e que se encontram com menos de mil casos ativos, dentre os quais:
Sérvia, Albânia, Hungria, Japão, Benin, Malawi, Congo, Paraguai, Dinamarca, Moçambique, Mali, Austrália, Suíça, Líbano, Áustria, Ruanda, Cabo Verde, Serra Leoa, Maldivas, Zimbábue, Iêmen, Noruega, Sri Lanka, Libéria, Irlanda, Tanzânia, Jordânia, Finlândia, Zâmbia, Lituânia, Croácia, Malásia, Suriname, Togo, Letônia, Eslováquia, Chipre, Jamaica, Síria, Georgia, Angola, Estônia, Eritréia, Comoros, Montenegro, Hong Kong, Guiana, Tunísia, Naníbia, Myamar, Luxemburgo, Eslovênia, Níger, Uganda, Botswana, Cuba, Tailândia, Uruguai, Burkina Faso, Mongólia, Butão, Malta, Vietnã, Chad, Gâmbia, Lesotho e Nova Zelândia. São países de diferentes continentes e distintas situações econômicas e sociais, mas que vêm tendo êxito na contenção da pandemia. Incluem-se entre eles países de expressiva população: 30 entre os 90 países com mais de dez milhões de habitantes tem menos de 1.000 casos ativos, incluindo-se a China (389 casos ativos).
Em todos os continentes existem países que já não tem nenhum caso ativo: dentre 213 países e territórios considerados no wordometers, 28 estão nesta situação (sendo os mais populosos Laos, Timor Leste, Fiji e o território de Macao) e outros 20 tem menos de 10 casos (incluindo Taiwan, Camboja, Trinidad e Tobago e Papua Nova Guiné). O Vietnã, com 97 milhões de habitantes e uma política de contenção exemplar, não tem nenhum óbito e registra apenas 23 casos ativos.
É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de novos casos, para em consequência reduzir o número de mortes, pois a manutenção dos índices atuais projeta um cenário que é pior a cada dia e só vai piorar se o processo de reabertura tiver continuidade na situação atual. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (crescimento de 34% a cada 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 73.772 em 9/7, 98.855 em 23/7 e 132.466 em 6/8. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir o atual ritmo de forma muito mais vigorosa. Para isto, são inadiáveis medidas para ampliação do nível de isolamento individual, associadas à garantia de efetivas condições de sobrevivência ao conjunto dos trabalhadores, em especial aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas de contenção.
Comentários