O governo Bolsonaro é hegemonizado por um projeto de extrema direita neofascista. Seus quase 18 meses de governo foram marcados por ataques permanentes aos direitos sociais do povo trabalhador, mas também por ameaças constantes às mínimas liberdades democráticas.
Ele sempre buscou atender aos interesses das grandes empresas e bancos, aplicando à risca a agenda ultra neoliberal de seu Ministro da Economia Paulo Guedes. Mas, não parou por aí, associou a aplicação de uma política econômica que agradasse ao mercado, com uma busca também incessante de impor uma escalada autoritária.
Para impor seu projeto político autoritário, Bolsonaro defendeu e se associou diretamente aos protestos golpistas, que pediram e pedem fechamento do STF, do Congresso Nacional e uma intervenção militar com Bolsonaro no poder – a versão bolsonarista para uma nova ditadura em nosso país.
A crise política e institucional se aprofundou com a pandemia da Covid-19. Como consequência direta dos crimes de Bolsonaro, o Brasil já ultrapassou 1,1 milhão de infectados e 53 mil mortos, segundo os dados oficiais. A pandemia vem vitimando especialmente os setores mais explorados e oprimidos da classe trabalhadora, como o Povo Negro e os Povos Indígenas.
Neste cenário, tem ficado mais evidente para parcelas cada vez significativas da população que para preservar as vidas, defender os direitos e às liberdades democráticas é necessário acabar com este governo, o quanto antes. Afinal, Bolsonaro se tornou uma ameaça até para a existência do próprio regime democrático brasileiro.
Diante do agravamento da crise política vários setores políticos e sociais estão se pronunciando contra a escalada autoritária. Mesmo aqueles que apoiam e apoiaram sua agenda econômica neoliberal, alguns que até votaram no atual presidente e estiveram por de trás do golpe parlamentar do Impeachment contra a ex-presidente Dilma, agora se colocam mais nitidamente em oposição ao projeto autoritário do atual governo.
Como derrubar Bolsonaro?
A frente única dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda deve tomar a ofensiva e propor abertamente um acordo com a chamada direita liberal. Podemos sim atuar unificados para derrubar este governo neofascista, em uma ampla unidade democrática, onde cada um se esforce prioritariamente para derrotar a escalada golpista da extrema direita neofascista, sem que a esquerda abra mão de defender suas propostas políticas de saídas para o país.
Mas, essa unidade democrática precisa ter um ponto mínimo e inicial, para que seja de fato positiva para a nossa luta: este ponto para nós é a defesa do fim imediato deste governo neofascista. Pelo menos, que a proposta de abertura imediata de um processo de Impeachment no Congresso Nacional seja apoiada por todos os seus signatários.
O grande problema é que iniciativas como as do manifesto “Juntos” e do ato online do movimento “Direitos Já”, da próxima sexta-feira, não se pronunciam sequer a favor da abertura do Impeachment. Ao contrário, muitas vezes sequer citam o nome de Bolsonaro, muito menos defendem o fim deste governo. Na verdade, usando o argumento da eminência de um golpe, a direita liberal segue atuando com o objetivo de pressionar e “enquadrar” Bolsonaro, como se fosse possível uma normalidade democrática com a manutenção deste governo neofascista.
O ato nesta sexta-feira, dirigido por Fernando Guimarães (ligado historicamente aos tucanos), contará com a presença de figuras (ainda à confirmar) como Luciano Huck, Dias Toffoli e os ex-Presidentes da República Sarney (MDB), FHC (PSDB) e Temer (MDB), que fizeram governos nefastos para os direitos da maioria e defenderam o golpe de 2016. Inclusive, este ato não defende sequer a abertura imediata do Impeachment de Bolsonaro.
A unidade democrática necessária é aquela construída em torno da luta pelo Fora Bolsonaro, ou no mínimo pela abertura imediata do processo de Impeachment. Afinal, atualmente sequer é possível defender o atual “pacto político e social” (trecho do manifesto que convoca o ato da próxima sexta), sem defender o fim imediato deste governo.
Se a unidade democrática for pelo fim imediato do governo Bolsonaro, estamos dispostos a estar num mesmo palanque até com figuras que defendem a agenda neoliberal e o golpe de 2016. Já vivemos situações semelhantes em outros momentos da nossa história política recente, como por exemplo na campanha das Diretas Já, em 1984; ou no movimento Fora Collor, em 1992.
Mas, estamos contra a estratégia que vem sendo apresentada pela direção do PCdoB e por setores do próprio PT como o nome de “frente ampla”, mas que na verdade defende a construção desta unidade democrática com critérios políticos bem rebaixados. Na prática, entregando a direção política da oposição a Bolsonaro a direita liberal, aderindo ao seu programa. Um grave erro político.
O Psol, a esquerda socialista e os movimentos sociais combativos não devem aderir a iniciativas como as da próxima sexta-feira. Ou, como mínimo, devemos condicionar nossa presença a que estas atividades partam, pelo menos, da defesa categórica da abertura imediata do Impeachment de Bolsonaro no Congresso Nacional, que já conta com 48 pedidos de apuração de crimes de responsabilidade do atual presidente.
Sem abandonar a defesa de uma ampla unidade democrática para derrubar Bolsonaro, temos que estar concentrados, dedicando nossos maiores esforços, na construção de uma frente única dos trabalhadores e da esquerda, que defenda não só o Impeachment, mas também os direitos sociais (inclusive restabelecendo vários deles que já foram retirados) e a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Afinal, para nós deve ser a maioria do povo que deve decidir os destinos de nosso país, numa eleição presidencial antecipada, realmente livre e democrática.
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