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MUNDO

Manifesto pelo 31º aniversário da Comunidade de Triunfo, no Paraguai

Tomas Zayas Roa e Carlos Ramírez Ugarte, Paraguai

Manifesto pelo 31º aniversário da Comunidade de Triunfo, no Paraguai

Ao Governo Paraguaio

Aos sócios (as) da Associação de Agricultores de Triunfo

Ao campesinato em geral

Nossa comunidade, no dia 12 de junho, comemorou o 31º aniversário, em circunstâncias especiais devido a pandemia que põe em risco a vida de todos os pobres do mundo, sem distinção de idade.

Desde a Associação [de agricultores de Triunfo] erguemos nossa voz para expressar que esta pandemia, não só nos ameaça, mas é também uma prova e uma oportunidade para os trabalhadores da agricultura familiar. Há três meses, desde o início da pandemia, ainda não temos nenhuma família passando fome, ao contrário muitos têm reservas suficientes de alimentos para o próprio consumo e para aqueles que têm passado por momentos difíceis. A solidariedade tem sido a nossa resposta.

É uma prova, porque ninguém previa a situação atual, e, no entanto, nenhum dos associados entrou em crise, depressão ou desespero. Todos e todas temos agido com calma, e na realidade temos recorrido aos recursos naturais para nos prepararmos perante qualquer eventualidade.

Na prática, esta situação nos permite mostrar que temos razão, que nossa filosofia definida há 31 anos, como a “relação harmoniosa do ser humano com a natureza” é uma proposta válida para a humanidade. A agricultura familiar como resposta a fome e a pobreza.

É uma oportunidade, porque permitiu o debate e a conscientização de que temos que valorizar e proteger os princípios humanos solidários, termos uma vida comunitária e cada vez mais humana, assim como avançar no desenvolvimento da produção, dentro do conceito de agricultura familiar. Revalorizamos que é preciso aprender a baixar o custo de vida e produzir nossa própria comida e assim, obter soberania alimentar.

Durante esta crise, ficou demonstrado pela terceira vez em nosso País, que a agricultura familiar pode tirar o País da crise e se converter no motor do desenvolvimento nacional, como aconteceu depois das guerras de 1870 e 1932.

Nesta pandemia a população urbana passa por momentos difíceis. Milhares de pessoas perderam seus empregos e ficaram sem salários, como efeito direto sobre a qualidade de vida. Milhares de compatriotas tiveram que voltar ao País, muitos em busca de um pedaço de terra para produzir, outros destruíram seus jardins e seus quintais para plantar alimentos, ou seja, a agricultura familiar e a mãe terra mais uma vez é a resposta ou a solução para quem passa fome.

Com orgulho celebramos nosso 31º aniversário, três décadas de vida da Comunidade O Triunfo, que nos confirma que estamos no caminho certo, e com mais orgulho ainda ao ver mulheres e jovens trabalhando na produção ou no comércio, mantendo a esperança que nosso projeto continuará no futuro, vendo que as crianças valorizam a agricultura, conscientes de que a planta tem vida ou de que nosso corpo depende do consumo de água potável.

Estamos orgulhosos e celebramos que O Triunfo nasceu e se desenvolveu como uma comunidade, e que ninguém nunca pensou em convertê-lo em um assentamento, muito menos em uma colônia. O Triunfo é e será sempre uma comunidade.

Diante desta crise, chamamos os (as) camponeses (as) a não baixar a guarda, ter consciência de que somos um setor para o desenvolvimento da nação e da humanidade. Chamamos a todos os (as) camponeses (as) de O Triunfo a seguir fortalecendo a comunidade, nosso modelo de desenvolvimento, nossa cultura e nossa filosofia de vida. Que nossa comunidade seja um exemplo para o campesinato, de que é possível viver com dignidade no campo, e que podemos converter de novo a agricultura familiar no motor do desenvolvimento familiar.

Chamamos a todos os camponeses do Paraguai a não abandonar suas terras e sua comunidade, pois a realidade está demonstrando que no campo temos alternativa e um futuro, que todos nós depende a resposta à pobreza e a fome em nosso País.

Fazemos um chamado ao Governo para que não abandone o campo, e tenha a agricultura familiar como uma estratégia de desenvolvimento nacional. Hoje, já ficou comprovado que o capitalismo não é uma garantia para a humanidade. Em menos de dois meses de crise pandêmica, milhões de trabalhadores foram demitidos e ficaram de mãos vazias para que o capital fosse protegido.

Esperamos que o Governo fortaleça o Estado e suas Instituições e que cumpra com suas responsabilidades em benefício da população. O Paraguai não pode ter cidadãos com fome, pois já vivemos períodos de soberania cultural, alimentar e territorial entre 1811 a 1870.

Companheiros e companheiras sigamos unidos (as) para manter bem alto a nossa bandeira em defesa do ser humano, da vida, da natureza, do meio ambiente e da dignidade de todos os que habitam esta Comunidade.

 

Comunidade O Triunfo, Minga Guazú, 12 de junho de 2020.

Tomas Zayas Roa, Presidente

Carlos Ramírez Ugarte, Secretário

 

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