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TEORIA

Há 92 anos, nascia Ernesto Che Guevara

Breno Nascimento*, de Niterói, RJ

Nascia há 92 anos o revolucionário marxista Ernesto Guevara, o Che, apelido proveniente da expressão gaúcha argentina por ele bastante utilizada.

Em 1948 iniciaria a faculdade de medicina concluída em 1953 após a icônica viagem de motocicleta pela América Latina (1951-1952) com o amigo Alberto Granado. Nesta viagem Che se depararia com as misérias do subdesenvolvimento dos povos latino-americanos e consolidaria a posição anti-imperialista que sustentaria sua militância pelo resto da vida.

Em 1953 Che iniciaria nova viagem pela América, tendo se estabelecido no ano seguinte na Guatemala por se interessar pelo governo nacionalista revolucionário de Jacob Árbenz que promovia uma ampla reforma agrária. Este processo culminaria no golpe militar financiado pelos Estados Unidos no país neste mesmo ano. Neste período Che se aproxima de comunistas locais e se indigna com a falta de resistência armada ao golpe. Também na Guatemala conheceria a militante peruana exilada da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA) Hilda Gadea, sua primeira esposa, com quem fugiria para o México.

No México trabalha como médico num hospital infantil e conhece o grupo de exilados cubanos, dentre os quais Fidel Castro e se integra ao Movimento 26 julho (M26, assim nomeado em homenagem ao assalto ao quartel Moncada nesta data em 1953). Neste período chega a pensar em prestar serviços médicos na África. No entanto, partiria com Fidel para Cuba, em 25 de novembro de 1956, a fim de derrubar o ditador Fulgêncio Batista, alinhado ao imperialismo norte-americano. Após pouco mais de 2 anos de guerrilha os rebeldes entrariam vitoriosos em Havana em 1 de janeiro de 1959. Neste meio tempo conheceria Aleida March, militante do M26 com quem se casaria poucos meses após o triunfo guerrilheiro.

A partir da vitória da revolução se inicia sua fase de homem de Estado, onde teria destacado papel na reforma universitária, na reforma agrária e na formação dos tribunais populares revolucionários. Primeiro como presidente do Banco Central de Cuba (1959-1961) e depois como Ministro da Indústria (1961-1965) defendeu a superação do caráter agrário-exportador da ilha. Foi influenciado por economistas marxistas seus contemporâneos como Paul Sweezy e Ernest Mandel e travou debates com o renomado economista e historiador marxista francês Charles Bettelheim. Entrou ainda num debate com Alberto Mora sobre a vigência da lei do valor na fase inicial da transição socialista, tendo resgatado as conclusões de Marx sobre o assunto presentes na Crítica ao Programa de Gotha.

Se a revolução se iniciara com um ideário difuso e práticas parecidas com as de Jacob Árbenz, com o cerco imperialista e a invasão da Baía dos Porcos em 1961 os elementos socialistas tomaram a hegemonia do processo revolucionário. Neste sentido Che chegará a afirmar que a revolução na América Latina deveria ser socialista ou seria uma caricatura de revolução.

Em 1965, renunciaria a todas as suas funções de Estado para defender na prática seus valores internacionalistas, tendo combatido pela revolução no Congo por alguns meses neste mesmo ano e depois na Bolívia entre 1966 e 1967, onde, boicotado pelo Partido Comunista Boliviano (alinhado à política de coexistência pacífica da URSS), encontraria morte lutando contra tropas bolivianas com assistência da CIA.

Vê-se que as imagens construídas acerca de Che quase sempre são parciais ou mesmo falsas. Longe de ser um inconsequente, ponderava até sobre o significado de sua possível morte. Não se pode também dizer que se tratava de um mero praticista, tendo sido também um intelectual com destacadas contribuições à filosofia da ética e um dos principais conhecedores da planificação econômica na década de 1960. Trata-se de um revolucionário marxista integral, que encarnou o conteúdo da XI tese de Marx sobre Feuerbach, pois sabia que não se pode apenas se deter na interpretação do mundo, sendo necessário mudá-lo, mas que nenhuma mudança pode ser feita sem uma interpretação rigorosa do mundo.

Nestes tempos de pandemia vemos algumas importantes iniciativas de solidariedade de classe entre os explorados e oprimidos que vão no sentido oposto do individualismo característico de toda a forma de capitalismo, que vem, porém, sendo exacerbado em sua fase neoliberal. É preciso observar e intervir com incentivos nestes processos. Che sabia que um dos fundamentos da edificação de uma nova sociedade que supere a mesquinhez individualista da sociedade capitalista, o socialismo, passa pela solidariedade de classe, o que não deve ser confundido com filantropia. Ele apontara em correspondência de 1964 a uma parente distante:

“[…] se você for capaz de tremer de indignação cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros […]”

Viva a solidariedade de classe e construção de um novo mundo!
Viva a luta dos povos periféricos contra o imperialismo e capitalismo!

 

*Texto publicado na página da Casa de Resistência Rosa Luxemburgo

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Che Guevara / Cuba