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BRASIL

O que vi na manifestação hoje em Brasília

Lucas Brito, com contribuições de Ronan Nascimento, de Brasília, DF
Ricardo Stuckert / Cobertura Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo

Ato em Brasília

O ato estava marcado para 09h. Chegamos lá por volta de 8h30 e já estava cheio. Estimo que umas 3 mil pessoas tenham estado hoje, no meio de uma pandemia, nas ruas.

Seguro

Particularmente, estava com medo do protesto de hoje. Estamos no meio da pandemia, todas as ameaças do bolsonarismo contra os atos me deixaram com medo. Todo mundo, né?

Ao final, correu tudo bem. Não houve repressão policial. Com exceção de alguns baculejos, foi tranquila. Na véspera, “os 300 fascistas” desmontaram o acampamento que estava ao lado do Ministério da Justiça. Não sabemos se somaram com o acampamento dos ruralistas do outro lado da rua. De todo modo, hoje a esplanada foi nossa, como há muito tempo não era. Por alguns momentos, me senti como se estivéssemos em uma marcha nacional, quase um passeio.

Com muita unidade

O ato foi diverso, reuniu muitos movimentos. As torcidas organizadas eram as estrelas do dia, o farol de coragem. Elas foram na frente. E com elas tinham os sindicatos e categorias organizadas, como as enfermeiras e enfermeiros do DF, que deram o exemplo na manifestação que fizeram há algumas semanas, e também estavam lá os servidores públicos. Além delas, estavam também as organizações políticas da esquerda. As correntes do PSOL estavam em peso. Nosso mandato 24 estava todo lá na rua. Tinham as correntes do PT, a turma do PCB, do PCO, do MRT, da UP. O movimento do campo/cidade também estava na rua. Não sei se havia mais. Tinham as correntes anarquistas, sempre presentes nas lutas diretas da cidade. O movimento negro estava lá, as feministas também. Até me emocionei quando vi uma faixa linda com aquela imagem “LGBTQ+ antifascista”. Vi ela junto do meu namorado.

Hoje me lembrou que nessa semana, aqui em Brasília, houve pelo menos 4 atos de rua, com destaque para um ato de mulheres e dois da negritude. Essas lutas se encontraram lá hoje.

Mais periférico e mais antirracista 

Um ato mais negro. A negritude da cidade tava lá. Além de ter sido mais negro na sua composição, as palavras de ordem mais cantadas tinha um conteúdo anti-racista e antifascista. Foi um levante também negro. Não por coincidência, a periferia também estava lá.

A grande contradição do DF é organizada pela separação violenta entre periferia e centro. Brasília é uma ilha geográfica. As cidades, conhecidas preconceituosamente como “satélites”, são segregadas pela distância, pela reduzida e cara circulação de ônibus e na base de muita violência policial. A periferia estar na vanguarda é um grande elemento pra resistência na cidade e brilhou hoje no ato. Essa foi outra contribuição direta das torcidas organizadas.

AO VIVO | REVEJA A TRANSMISSÃO DO ATO

O desafio do distanciamento 

Estamos no meio da pandemia, mas isso não foi ignorado. Não tinha uma única pessoa sem máscara. Além dela, roupas de manga, viseiras, óculos de proteção, calças compridas. Muito álcool em gel e ninguém se tocava.

Mas o distanciamento foi um desafio. Houve momentos em que manter a distância estava bem difícil. Acho que faltou técnica e organização prévia. Ainda estamos aprendendo como fazer uma marcha com distanciamento, e temos que aprender isso logo.

Orgulhoso e corajoso 

O ato foi essas duas coisas. Senti muita firmeza e responsabilidade. Estávamos na rua, nos arriscando enquanto deveríamos estar em casa, mas éramos conscientes disso, deu pra ver. E também sabíamos que a culpa de estarmos na rua é dos governos que acabaram com as medidas de quarentena e não dão condições dignas para as pessoas enfrentarem a crise. Nos colocaram contra a parede. Não nos restou outra opção. Sequer pagaram todos os auxílios.  Estão aproveitando o nosso luto para tirar nossos direitos e nos separar, nos fazendo acreditar que estamos sozinhos. A culpa é deles. Eu senti coragem e muito orgulho nas muitas camaradas, de muitos agrupamentos e movimentos diversos que estavam lá!

Parabéns, gente. Nesse primeiro desafio fomos bem. Mas foi só o começo, temos que ficar mais e mais fortes para enfrentar os perigos desses nossos tempos.

Tem um provérbio que diz assim: A prudência é uma virtude, quando viaja com a coragem.

 

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Fora Bolsonaro