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BRASIL

2020 – o ano que não começou

Uma análise de conjuntura pra fechar maio, entrando no meio do ano.

Otto Ramos*, de Contagem, MG
Reprodução

Weintraub, ministro da Educação em vias de ser preso, ao citar a Noite dos Cristais e, antes, ao falar que prenderia os ministros do STF fez um favor a democracia. Não que fosse de seu interesse, mas sim, o fez. Porque tem coisa que é ou não é. Haja visto que o general Augusto Heleno também tem feito isso muito ostensivamente. E esse bando, não consigo expressar melhor, vem testando as instituições mesmo antes da posse.

Vejamos depois da posse, mas antes do momento atual: no Ibama, Incra, Fundação Palmares, Cidadania, Cultura, para quase todo lado, foram ditas ou propostas coisas por seus ocupantes absolutamente contrárias a natureza do lugar onde estavam.

Agora, no vídeo da famosa reunião de ministros de 22 de abril, Weintraub uniu os juízes do STF. E com a comparação relativa ao nazismo uniu a comunidade judaica brasileira e dos EUA (quintal do Trump), Rede Globo e Band além dos parlamentares de direita e esquerda na ação contra o governo.

Só o centrão que está com Bolsonaro; mas Maquiavel já tratou do problema de principados tomados com tropas mercenárias. Não vou citar experiências recentes no Brasil para não irritar ninguém e temos que “unir as forças democráticas”, muito além da desunida esquerda.

Para apimentar o quadro geral, Eduardo Bolsonaro falou que vai fazer a ruptura. Sim, sim, foi o que ele disse. Falou que já estão avaliando o quando será. Se assim disse, assume que a ruptura, objetivamente, já aconteceu. Falta apenas a operação (um golpe?) que não mais negaria isso e sem constrangimentos.

Enquanto isso um governo que em plena pandemia de saúde – e sem ministro da área – continua preocupado apenas com a proteção da “familícia”, de seus amigos e com o assalto político ao estado brasileiro, conforme Guedes na reunião mesmo disse, chamando a meu ver de “ajuda às grandes empresas”.

Finalmente aquela parte da população que ficava “neutra” entre esquerda e direita – mas não é de esquerda, não nos esqueçamos – está optando pela oposição ao Bolsonaro

E para pressionar mais a conjuntura, num contexto em que o Data Folha constatou que finalmente aquela parte da população que ficava “neutra” entre esquerda e direita – mas não é de esquerda, não nos esqueçamos – está optando pela oposição ao Bolsonaro. Repito, não é ser esquerda, não confundam!

O último elemento é o impacto que Alexandre de Morais deu aos financiadores e articuladores daquilo que se tornou um mundo à parte, chamado pelo amigo Ramuth Marinho de “Zapistão” onde o governo é o gabinete do ódio e lá impera o terror das Fake News. Logo após a ação contra vários políticos e empresários acusados de impulsionar a rede de fake news, parece que não surgiu nada de tão sério para distrair a população e o esquema perdeu muito de sua potência. Estão assustados.

Não é para agora, não será hoje, não será nessa semana, mas se somos ditadura ou se será mais um teste à democracia brasileira está sim para muito em breve. Acredito – assumo, é uma especulação – que até agosto ou setembro algumas definições fortes por conta da guerra com o judiciário haverá de trazer os resultados definitivos disso. Para quem não me entendeu, espero que tenham visto a série de coisas que o Jornal Nacional – e provavelmente o Jornal da Globo também fará – disse sobre as ameaças aos ministros, bomba perto de suas residências e por aí vai. Outro dia acovardado, agora não tem como “fugir à pelea”.

Quem sabe após algumas mortes políticas – não falo de assassinato, como fizeram com Marielle. Falo de I M P E A C H M E N T – consigamos, sim, frear a disseminação e a curva de morte da pandemia. Antes, por tudo que disse, duvido. Porém, até lá, teremos que continuar com a militância nas redes, twittaços, panelaços e teremos que buscar urgentemente coisas que deem visibilidade à oposição, como por exemplo, as torcidas organizadas Antifa começaram a fazer. Ou seja, mesmo com o distanciamento social, reconquistar as ruas de alguma maneira se faz urgente.

 

*Otto Ramos é professor de História.