O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. Tomamos como referência principal o ritmo de crescimento do número de mortos, tendo em vista que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil inviabiliza qualquer comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do a simples comparação dos números absolutos ou dos índices de mortes por milhão de habitantes, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes e a pandemia encontra-se em estágios totalmente distintos.
O ritmo de crescimento mundial do número de mortes vem diminuindo de forma consistente. Sempre calculado para os 14 dias anteriores, há 30 dias o crescimento era 76%, há 20 dias era 41%, há 10 dias era 26% e agora está em 20%, uma redução progressiva que é efeito das medidas de contenção e políticas de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países.
Nos últimos três dias, o Brasil teve, respectivamente, 24.9%, 26% e 25.3% do total de mortes registradas no mundo, ultrapassando, por larga margem, o registro diário de mortes dos Estados Unidos, e por dois dias chegou a superar a soma de todos os países da Europa. Além disso, o resultado da pesquisa nacional Epicovid-19BR indica que temos 7 vezes mais contaminados do que indicam os dados oficiais, mas que ainda assim isto abarca 1.4% da população, e portanto se não houver medidas muito mais efetivas de contenção, o número de mortos poderia crescer ao menos 50 vezes mais, até chegarmos aos 70% que supostamente garantiriam estancamento da pandemia (na realidade, isto não considera o acréscimo de mortes decorrentes do colapso do sistema de saúde). Além de ter o segundo maior ritmo de expansão das mortes entre os quinze países, temos também o maior ritmo de expansão do número de casos, que teve um crescimento extraordinário de 121% em 14 dias – o que indica que nas próximas semanas o número de óbitos seguirá crescendo. Registramos na última semana 6.566 mortes e 120.475 novos casos, um número altíssimo, ainda mais se considerarmos a baixa testagem. Há 40 dias, 0,5% dos mortos eram do Brasil, e hoje este índice já chega a 6,8% (duas vezes e meia o percentual da população brasileira em relação à população mundial).
O Brasil permanece com um ritmo de crescimento que é praticamente cinco vezes superior à média mundial em 14 dias, tendo crescido 98%, abaixo apenas do México (114%). A Índia tem um aumento de 80% das mortes e vem de um crescimento rápido, mas nos últimos dias já começa a ter uma redução dos novos casos. Os países que vêm na sequência têm ritmo de crescimento bastante inferior: o Canadá tem 28%, os Estados Unidos 21% e todos os abaixo de 15% e em tendência clara de diminuição. Os Estados Unidos seguem diminuindo diariamente o ritmo de expansão e pela primeira vez desde o final de março deixam de ser o país com mais mortes diárias (ultrapassado pelo Brasil). Exceto Brasil, México e Índia, todos os demais países vêm tendo um crescimento de novos casos suficientemente baixo para produzir uma diminuição do número de casos ativos. A Espanha revisou a contagem e deixou de considerar 1.918 mortes, e por isto aparece com percentual mais baixo que o real (que seria de perto de 7%). A China registra apenas uma morte nos últimos 27 dias e teve apenas 32 novos casos nos últimos 7 dias.
Brasil, México e Índia são, também, disparadamente os três países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (4.101), México (1.752) e Índia (2.359) é absolutamente inexpressivo e várias vezes inferior aos demais países com números análogos de mortes e casos (ainda que no caso da Índia o número absoluto de testes já seja expressivo, a relação por milhão de habitantes é baixa). Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem os piores números, com apenas 2.2 testes realizados por resultado positivo.
O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil contraria a tendência internacional de melhora da situação e indica um rápido e intenso agravamento do quadro nacional. Já tendo passado de 24.000 mortes oficializadas, o país deveria ter já um ritmo de crescimento diário de novos casos abaixo de 1% para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes em duas a três semanas. No entanto, o crescimento de casos segue aumentando em torno de 5% ao dia. Tornam-se cada dia mais urgentes políticas efetivas de isolamento social e inclusive de lockdown em várias regiões. Medidas deste tipo foram adotadas por todos demais os países muito antes de chegarem no trágico patamar em que estamos no momento. Nosso isolamento social continua sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, com cumplicidade explícita do grande empresariado, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de subnotificação generalizada. No país, os números de mortes estão aumentando a cada 14 dias e o número de casos a cada 12,5 dias, enquanto no mundo o tempo de duplicação das mortes é de 37 dias e o dos casos é de 34 dias. Além de sermos o país com mais mortes diárias, somos o segundo país com mais novos casos diários (muito próximo aos EUA, que realizam dezenas de vezes mais testes), o segundo país com o maior ritmo de crescimento de mortes (depois do México, mas sobre uma base numérica 3.5 vezes maior) e o país com maior ritmo de novos casos diários.
Os Estados Unidos vêm conseguindo reduzir o ritmo de aumento das mortes, que há 20 dias era 57%, há 10 dias era 34% e agora está em 21% para o período de 14 dias. Itália, Espanha, França, Bélgica e Alemanha conseguiram reduzir a expansão dos novos casos a menos de 0,2% ao dia (índice 30 vezes menor que o Brasil). Ontem a soma do número de mortes dos 48 países europeus, que reúnem uma população de 750 milhões, foi de 1.086 mortes e 16.085 novos casos.
Outros países, situados na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, embora com número ainda menos expressivo de casos ou de mortes, vêm tendo crescimento bastante superior à média mundial, com perspectiva de rápido agravamento da situação. Dentre estes, tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias: Haiti (5.08), Tajdiquistão (4.48x), Guatemala (3.38), Chile (2.46x), Sudão (2.39x), Afeganistão (2.38x), Bolívia (2.35x), Bangladesh (2.21x), Kuwait (2.2x), Omã (2.18x), África do Sul (2,14x), Armênia (2.09x), El Salvador (2.05x), Honduras (2.01). Outros, com crescimento abaixo de 100% no período, estão já entre os 20 com maior número de mortos: Peru (1.8x), Rússia (1.56x) e Equador (1.23x, mas com inúmeras denúncias de manipulação dos dados). A Suécia, 16º em número de mortes, segue como país da Europa Ocidental com maiores índices de crescimento, com 1.26x.
De outro lado, há um crescente número de países com a situação estabilizada e que praticamente não tem tido novos casos, como Coréia do Sul, Taiwan, Tailândia, Vietnã, Nova Zelândia, Eslovênia, Suíça, Áustria, Croácia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Bósnia, Costa Rica, Cuba, Uruguai e Paraguai, todos eles com expressiva redução do número de casos ativos.
É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de casos e do número de mortes no Brasil, pois a manutenção destes índices projeta um cenário cada vez mais terrível. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (1.98 vezes a cada 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 48.608 em 9/6, 96.242 em 21/6 e 190,558 em 5/7. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir o atual ritmo de forma muito mais vigorosa. Para isto, são inadiáveis medidas para ampliação do nível de isolamento individual, associadas à garantia de efetivas condições de sobrevivência ao conjunto dos trabalhadores, em especial aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas.
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