Por dentro da Carreata da Morte

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

A música alta é garantida pela camionete tomada por aparelhagens sonoras. A trilha sonora é bem repetitiva. O rap do Bolsonaro. O regaetton do Bolsonaro. Sultans of Swing, do Dire Straits. Alguma música eletrônica. Depois o rap do Bolsonaro de novo. Algumas pessoas dançam animadas da janela dos carro, do capô dos carro ou do banco do carro conversível.

 Os veículos são bem variados. Muitas camionetes, Tucsons, SUVs de todo tipo. Muitos carros caros. Mas também carros populares, caminhões de mudança e inclusive alguém trouxe uma escavadeira. Para completar a cena só falta alguém a cavalo. Iria combinar com o evento o rastro de fezes do bicho pela Esplanada dos Ministérios. Bom, não vamos dar ideia. 

O ato no dia 09 de maio teve a participação de no máximo 2 mil pessoas. Mas como estavam espalhadas em carros, elas tomaram metade da Esplanada dos Ministérios em Brasília. Dava para contar a quantidade de carros em cada fileira. Não mais que 200. A carreata não é um meio de se proteger da Covid-19. É um meio de fazer barulho e ocupar espaço com pouca gente.

Não era uma mobilização de gente fazendo a saudação nazista e gritando “Heil Hitler”. Não. Era a mesma fauna que foi para os atos pelo impeachment da Dilma em 2015. Gente velha, casais de meia idade, alguns grupos de jovens. Claro, nenhuma moça solteira desacompanhada. Mulher sem o pai, o marido ou o namorado por perto, nem pensar! Nenhum LGBT. Uma maioria absoluta branca, mas alguns negros. 

Como sempre, o clima era de festa. Bonecos, cartazes, gente fazendo churrasco, até teve uma micareta animada ao som da axé music do Bolsonaro. De vez em quando a balada é pausada para uma oração. Ou para alguém tocar um berrante. Na verdade, a trombeta de Jericó. Enfim, nessa hora o pessoal se ajoelha e ora. 

O diferencial dos outros atos da Direita foi o carro de som dos tais “300 de Brasília”. As falas deles eram mais radicalóides, com explicações sobre a conspiração globalista do governo chinês para derrubar Bolsonaro e instaurar o comunismo do Brasil. Não dá para saber se ali estavam todos os que estão no tal acampamento organizado pela ativista Sara Winter. Talvez a ala mais perigosa do grupo fique escondida. 

Apesar da maioria ali ser do grupo de risco (idosos e obesos), quase ninguém usava máscara. Todo mundo se aglomerando numa boa. No carro de som principal, os digital influencers de direita faziam propaganda de seus canais. O discurso era basicamente uma cópia do que a gente já vê no Twitter ou nos grupos de Whatsapp. Distanciamento social só para alguns, isso é uma gripezinha, o país não pode parar. 

Em momento algum se falou das mais de 10 mil pessoas mortas. Em momento algum alguém lembrou dos hospitais que já entraram em colapso e estão tendo que escolher quem vive e quem morre. No meio da baladinha animada, entre uma cervejinha e outra, o pessoal se esqueceu que algumas pessoas estão sendo entubadas sem anestesia. 

Parecia até uma comemoração dessas mortes. Um escárnio. O que eles estavam fazendo de maneira simbólica era dançar com os caixões das vítimas da Covid-19. Tal como os dançarinos do Meme. Essas pessoas realmente podem ficar despreocupadas, elas não vão morrer de Covid-19. Já estão mortas por dentro. 

 

VÍDEO | Trecho da carreata da morte