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BRASIL

Dia 12 de maio: um dia para a enfermagem brasileira não esquecer

Karine Afonseca*, de Brasília, DF
Scarlett Rocha

Manifestação em Brasília, no entardecer do dia 12

No dia 12 de maio, o Brasil e o mundo lembraram o dia internacional da Enfermagem. As trabalhadoras do cuidado, que são linha de frente no combate ao coronavírus, demonstraram mais uma fez sua força e organização para fazer de seu dia uma data de luta pela defesa da vida, do SUS público e de todos os profissionais da saúde.

Temos que entender que não foi o acaso ou as circunstâncias da pandemia que levaram esse dia a ser marcante na história da enfermagem brasileira. Muito do que aconteceu no dia de ontem, foi fruto dos esforços das lutadoras e lutadores, que no 1º de maio ocuparam a Praça dos Três Poderes e foram exemplo de coragem ao enfrentar ataques de bolsonaristas, que negam a gravidade da pandemia.

Depois do vitorioso ato do dia 1º de maio, o grupo que ali se formou continuou com os debates sobre o cenário da pandemia, como ela estava impactando e tirando vidas de nossos colegas, o papel do presidente negacionista e irresponsável com a saúde pública, a necessidade de valorização da profissão, etc. A partir do debate, surgiu a necessidade de fazer com que o dia 12 de maio se transformasse em um dia de luta da enfermagem, defendendo vidas, cobrando os EPI’s, dignidade no trabalho e valorização de nossa profissão.

O dia de ontem aconteceu da forma que construímos: Alvorada nas redes sociais, com profissionais da enfermagem, políticos e celebridades postando o vídeo pensado por Marcela Villarim e produzido pelo cineasta Ibere Carvalho, junto com o vídeo a hasthag LuteComoUmaEnfermeira e EnfermagemEuValorizo foram os assuntos mais comentados pela manhã no mundo virtual.

No decorrer do dia, saímos das redes sociais e ocupamos portas de hospitais, praças e avenidas. Em manifestações respeitando as orientações de distanciamento social preconizada pela OMS, Belém do Pará, Palmas, São Paulo (USP) e Natal deram suas contribuições para o dia de luta da enfermagem.

Em Brasília, os servidores das carreiras dos serviços públicos federais, escolheram o dia 12 de maio para lembrar a política criminosa que o presidente Bolsonaro mantém desde o início da pandemia, levantaram um boneco gigante, o Bolsocida, com a faixa escrita “ Os que lavam as mãos, o fazem numa bacia de sangue” (Bertolt Brecht).

Jorge Henrique

Foto: Jorge Henrique/Sindenfermeiros-DF

As entidades de classe da enfermagem (FNE, ABEN e COFEN) tiveram papel fundamental na articulação e organização desses atos a nível federal, mas foi a partir da base que essas entidades se sentiram empoderadas a construir o 12 de maio como um dia de luta da enfermagem. Proposta contida na “CARTA ABERTA DA ENFERMAGEM BRASILEIRA À POPULAÇÃO BRASILEIRA” e com mais de 5 mil assinaturas de trabalhadores da enfermagem de todo o Brasil, os egressos da Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem (Eneenf), autores da carta, foram o motor de uma articulação política nacional da enfermagem de luto, mas em luta pela vida de todxs os profissionais de saúde.

Outra iniciativa importante foi a construção de um manifesto no Rio de Janeiro, com mais de 200 entidades, exigindo condições de trabalho e segurança para os profissionais da saúde. O Rio de Janeiro é um dos estados com maior índice de letalidade entre os profissionais da enfermagem. No estado, com cerca de 18 mil casos, 29 profissionais faleceram, segundo o Cofen. Para comparação, em São Paulo, com mais de 47 mil casos, foram 27 óbitos na enfermagem.

Ao entardecer do dia mais manifestações foram acontecendo, agora em Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Palmas e Brasília. Foi na capital federal, um dos momentos mais emocionantes do dia da enfermagem. Em uma vigília, 90 trabalhadores se reuniram em frente ao Museu Nacional. Vestindo seus jalecos, segurando velas e cada um com o nome de um colega que veio a falecer vítima do COVID-19 fizeram uma linda homenagem para aqueles que deram suas vidas no combate a pandemia. O ato contou ainda com a participação dos residentes em saúde, que iniciaram uma paralisação nacional, depois de dois meses sem receber.

Foto: Scarlett Rocha

Ontem, foi um dia memorável para a história da enfermagem brasileira e do mundo. Conseguimos, unidos, construir um forte dia de homenagens e luta por condições de trabalho, em defesa do SUS público, dos direitos trabalhistas e sociais dos profissionais que cuidam da saúde de todos. Continuamos unidos, fazendo a palavra LUTO ser verbo, denunciando a política do governo federal em minimizar as mortes provocadas pela pandemia e seus impactos na vida de toda a população brasileira.

 

*Enfermeira em Brasília, ativista da Resistência Feminista.

 

VÍDEO

Veja o vídeo com o protesto do Bolsocida

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enfermagem / EPIs / saúde