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BRASIL

Brasil tem ritmo de crescimento das mortes quatro vezes maior que média mundial

Gilberto Calil

O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. O cálculo do ritmo de expansão é feito pelo número de mortos, já que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil torna precária a comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do que os números absolutos, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes.

O ritmo de crescimento mundial vem diminuindo de forma consistente. Em duas semanas, caiu de 67% para 34%, uma redução que comprova a efetividade das medidas de contenção através de política de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países. 

O Brasil consolida seu movimento em direção ao epicentro mundial da pandemia, com o maior ritmo de crescimento do número de mortes associado à rápida expansão de novos casos. Chegou ontem a 881, alcançando já os piores dias de Itália e Espanha e desmentindo definitivamente as fake News que alegavam que isto jamais se daria, alegando fatores climáticos, demográficos ou de composição etária. Em termos relativos, o Brasil passa de 2.3% para 4,2% do total de mortos no mundo.

Brasil e México, embora em patamares absolutos distintos, mantém-se com um ritmo de crescimento muito superior à média mundial em 14 dias, tendo crescido respectivamente 145% e 149%, ritmo muito superior ao dos países que vem a seguir: Canadá (81%), Suécia (41%) e Estados Unidos 40%). Os Estados Unidos seguem diminuindo lentamente o ritmo de expansão, mas mantém o maior número de mortes diárias, e tem este decréscimo concentrado em Nova Iorque, mas compensado pela crescente interiorização do contágio. A grande maioria – nove dentre os quinze países – teve um crescimento do número de mortes inferior a 30% no período de 14 dias, associado a uma clara redução dos novos casos e diminuição do número de casos ativos. Já a China completa o período sem registrar nenhuma morte.

Brasil e México são, também, disparadamente os dois países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (3.459) e México (1.048) é absolutamente inexpressivo. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem números ainda piores, com 4 testes realizados por resultado positivo, muito inferior ao mínimo recomendado pela OMS).  

O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil contraria a tendência internacional de melhora da situação e indica um enorme agravamento do quadro nacional. Já com mais de 12.000 mortes, o país teria que estar com números muito mais baixos de novos casos para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes a partir do final de maio. Mas para isto seriam necessárias políticas efetivas de isolamento social e inclusive de lockdown em algumas regiões. Medidas deste tipo foram adotadas por todos demais os países antes de chegarem no trágico patamar em que estamos. Nosso isolamento social continua sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de subnotificação generalizada. No país, o número de mortes e o número de casos dobraram em menos de 11 dias, enquanto no mundo levaram 26 dias para isto. Somos já o segundo país com mais mortes diárias (depois dos EUA), o país com o maior ritmo de crescimento de casos e de mortes, o terceiro país com o maior número diário de novos casos (depois de EUA e Rússia), o segundo país do mundo com maior número de pacientes internados em estado grave (18% do total mundial, mesmo não com números não atualizados há mais de duas semanas)

Os Estados Unidos seguem com um elevado ritmo de aumento das mortes, de 40% em 14 dias, mantendo expressivo número de mortes diárias e inúmeros focos regionais, seguindo com aproximadamente um terço do total de novos casos e do número de mortos do mundo. Itália e Espanha reduziram bastante o índice de aumento das mortes, mas ainda têm números expressivos em razão da base alta que já tinham. Dividindo-se o período em duas semanas, temos que nos EUA o número médio de mortes por dia diminuiu levemente, de 1.858 para 1.567, na Espanha diminuiu de 256 para 187, na Itália diminuiu de 279 para 228, enquanto no Brasil saltou de 408 para 641. Nos últimos dias, o número de mortes no Brasil já foi superior a Espanha, Itália e Franca somados.

Outros países que ainda não estão entre os 15 primeiros em número de casos ou de mortes, vêm tendo crescimento bastante superior à média mundial, com situação se agravando rapidamente. Alguns tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias: Gana (3.07x), Kuwait (3x), Bangladesh (2.58x), Rússia (2.48x), Peru (2.31x), Índia (2.37x), África do Sul (2.27x), Paquistão (2.24x), Chile (2.21x), Arábia Saudita (2.14x), Catar (2.11x), Bielorrússia (2.04x), Egito (2x) e Colômbia (2.06x). Dentre eles, Índia, Equador, Rússia e Peru já estão entre os 20 países com mais mortes.

É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de casos e do número de mortes no Brasil, pois a manutenção destes índices projeta um cenário terrível. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (2.45 vezes em 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 30.390 em 26/5, 74.4551 em 9/6 e 184.241 em 23.6. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir radicalmente o atual ritmo. Para isto, são inadiáveis medidas mais rigorosas de isolamento social, com a garantia de efetivas condições de sobrevivência aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas.