Nossos problemas não serão resolvidos por decreto!
Publicado em: 6 de maio de 2020
Colunistas
Paulo Pasin, de São Paulo, SP
Paulo Pasin
Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).
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Paulo Pasin, de São Paulo, SP
Paulo Pasin
Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).
Ouça agora a Notícia:
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
(Paulo Leminski)
É preciso cautela ao antecipar cenários, em especial numa situação onde se mantêm o quadro de ofensiva burguesa, de fragmentação e retrocesso ideológico da classe trabalhadora, agravada por uma catástrofe sanitária, econômica e social sem precedentes. Afinal, por melhor que sejam nossas análises, elas não permitem que a gente adivinhe o futuro, nem preveja o sentido das mudanças bruscas na consciência dos trabalhadores e oprimidos com o aumento do número de mortes e da crise social. Não sabemos se a dor imensa de milhares de mortes despertará a ira do povo contra este sistema perverso.
O que não significa dizer que a esquerda não deve aproveitar o rompimento do bloco de direita que implementou o golpe jurídico-parlamentar-midiático que depôs a ex-presidenta Dilma Rousseff.
Porém, não seria mais prudente, em meio à pandemia do coronavírus, apresentar propostas de aplicação imediata que reforcem as tendências positivas para os trabalhadores na luta contra o capital, ao invés de concentrar no debate de prognósticos?
Seria equivocado uma esquerda fragilizada, frente a um desafio desta dimensão, priorizar medidas concretas que sejam compreendidas pelas grandes massas empobrecidas para reconstruir pela base alternativas de independência de classe?
Tudo indica que a saída do Moro do governo foi premeditada, planejada milimetricamente com a grande burguesia nacional e internacional, para reagrupar o polo da direita tradicional e um setor da ultra direita (não dá para classificar os governadores do Rio e de São Paulo como a direita tradicional) para isolar o desastroso governo neofascista do Bolsonaro, que eles mesmos abraçaram nas eleições de 2018.
Ainda que apoiem incondicionalmente a política econômica ultraliberal do governo atual, quando este transfere o ônus da gravíssima crise sanitária, econômica e social para a classe trabalhadora e oprimidos, parece que enfim, se convenceram que é impossível “domesticar” o bolsonarismo sem aumentar o tom do confronto.
Por outro lado, Bolsonaro ainda não perdeu o apoio do núcleo militar. Não seria então ilusionismo jogar “todas as fichas” num suposto compromisso democrático das forças armadas, cujo histórico de golpes e tentativas golpistas no Brasil é extenso?
O apoio dos militares é mais uma razão para não subestimar Bolsonaro, que nunca escondeu sua intenção de implantar uma ditadura no Brasil. Para atingir este objetivo conta com uma base altamente organizada, motivada e alicerçada em uma fanática militância religiosa e dos setores de segurança pública (mais de 500 mil no Brasil, sem falar dos seguranças de empresas privadas e guardas municipais) que cultuam a violência, as Forças Armadas, as polícias e seus símbolos. E, na questão do enfrentamento da pandemia, Bolsonaro dialoga diretamente com pequenos e médios empresários, trabalhadores precarizados, especialmente quando ataca o isolamento social. Atrasa e dificulta propositadamente medidas emergenciais de socorro para estes setores para capitalizar o desespero com a situação econômica.
Evidente que o governo está mais fragilizado, perdeu popularidade e está bastante isolado na superestrutura política. Porém, falta um elemento decisivo para derruba-lo com algum protagonismo de esquerda: a classe trabalhadora. Nossa classe, até mesmo os setores mais organizados, esta agoniada, preocupadíssima com o sustento da sua família. Num quadro de desemprego monumental, os trabalhadores admitem a flexibilização de direitos. As entidades sindicais, que já estavam desacreditadas, estão mais acuadas com as sucessivas “reformas trabalhistas”.
Por isso, nos parece que a luta para derrotar o projeto neofascista do Bolsonaro continuará árdua, mesmo com o fim do isolamento social, que não sabemos quando, nem de que forma vai acabar.
Todos os mecanismos para depor este genocida são válidos: impeachment, CPI, STF, TSE. Nesse sentido é acertado que todo o PSOL, MTST e outros movimentos sociais, intelectuais e juristas também protocolem um pedido de impeachment, mesmo sabendo da dificuldade do trâmite legislativo e da aproximação do governo com o centrão. O impeachment já, no mínimo serve para desmascarar Rodrigo Maia e Alcolumbre. Mas nossa agitação política pelo Fora Bolsonaro e seu governo deve ser qualificada. Não devemos, nem podemos, abandonar nossa prioridade que é a defesa de um programa emergencial para salvar vidas, continuar e reforçar as ações de solidariedade genuínas de classe, as denúncias das medidas que flexibilizam direitos e o apoio militante às mobilizações dos trabalhadores de serviços essenciais que lutam por melhores condições de trabalho.
Além disso, nossa campanha pelo Fora Bolsonaro tem que estar obrigatoriamente vinculada a necessidade de novas eleições presidenciais, livres e direta.
É essencial a constituição de uma Frente Única entre as organizações que reivindicam representar a classe, com um programa anticapitalista que se contraponha as medidas ultraliberais que unificam as duas alas do andar de cima em conflito atualmente.
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