Pular para o conteúdo
BRASIL

Encontro entre Bolsonaro e Curió é mais uma provocação

Alexandre Barbosa, do Rio de Janeiro, RJ
Imagem: Reprodução/Instagram

Nesta segunda, 04 de maio, o presidente Jair Bolsonaro recebeu o tenente-coronel reformado do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, “Major Curió”, como ficou conhecido. Este senhor foi um dos principais responsáveis por várias atrocidades cometidas pelas forças armadas no combate à Guerrilha do Araguaia. Ele é mais um dos facínoras que se soma as referências politicas do presidente brasileiro que já elogiou o ditador chileno Augusto Pinochet e o ditador paraguaio Alfredo Stroessner, responsáveis por assassinatos e torturas dos que se opunham às ditaduras nesses países.

A ditadura empresarial-militar imposta no Brasil a partir de 1964, regime admirado por Bolsonaro e Mourão, sempre teve nas ameaças, sequestros, torturas e assassinatos seus métodos de perseguição a oposição. Sendo assim uma politica de estado. O terror institucional teve algumas figuras de destaque dentro do aparato repressivo. O delegado Sérgio Paranhos Fleury, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o Major Curió ficaram conhecidos por sua crueldade.

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) diante do fim de todos os meios democráticos de expressão e do aumento da repressão politica, decidiu resistir à ditadura pela via da luta armada. Para isso escolheu a região do Sul do Pará. Ao longo de algum tempo foram deslocados, de forma clandestina, militantes para a região visando preparar a luta guerrilheira. 

Em 1972 a guerrilha é descoberta, prematuramente, e o exército se desloca para a região. Inciando uma verdadeira guerra contra os guerrilheiros e contra qualquer um que não fosse um colaborador do regime. Mesmo assim, foi necessário realizar três operações do exército para derrotar os insurgentes. Mesmo com o uso de milhares de soldados e de armas como napalm (utilizada pelos EUA na Guerra do Vietnã) o exército não conseguia vencer essa guerra. 

A partir de 1973 as forças armadas mudam a tática e começam uma operação de infiltração na mata com uso de mateiros e sustentada com métodos cruéis de “investigação”. As torturas e assassinatos para amedrontar os moradores da região foram amplamente usadas para conseguir localizar os guerrilheiros na mata. Os menos de 100 guerrilheiros existentes foram vítimas de inúmeras torturas que não pouparam nem mulheres grávidas. 

Apos um determinado período do conflito os militares optaram em não fazer mais prisioneiros e começaram uma série de assassinatos. Assim podemos afirmar que houve uma orientação do governo de aniquilar todo e qualquer foco opositor na região e não deixar rastro. Foram muitos militantes assassinados que tiveram seus restos mortais desaparecidos pelas autoridades e centenas de torturados, tudo sob o comando e ou orientação do Major Curió.

O camponês Crispim Manoel de Santana, torturado pelos militares na Região, deu o seguinte depoimento em 2018, na Câmara dos Deputados, no qual acusou Curió de ter dito a frase: “Quem procura osso é cachorro”:

“Tudo que a gente conta aqui é pouco. Além dos homens, tinha o estupro das mulheres. Teve uma senhora que foi estuprada por 20 soldados. Do povo antigo pouca gente ficou. Pais de família eram presos em cisternas com água até o pescoço por oito dias para dizer onde estavam os guerrilheiros. Nossos animais eram mortos por eles. Galinha, cavalo, burro. A polícia passava nas nossas casas proibindo de encontrar com padres. Conhecemos muito o major Curió. Ele mandava matar, torturar e depois aparecia prometendo ajuda no exército, tentava enganar. Era conhecido como morcegão, que chupava o nosso sangue. Era a voz do SNI no sul do Pará. Desaparecia com as pessoas e dizia que quem procura osso é cachorro. Temos sequelas da tortura, até porque não tínhamos tratamento ou remédios. Hoje é o primeiro depoimento em um órgão oficial”.

Mais tarde Curió foi enviado para ser um interventor da ditadura no garimpo de Serra Pelada. Nesse período o oficial do exército se transformou na maior autoridade da região, se elegeu deputado federal, foi prefeito de Curionópolis, cidade com nome inspirado em sua pessoa. Foi também condenado a pagar R$ 1,1 milhão por improbidade administrativa pelo TSE, que considerou que teve enriquecimento ilícito.

Esse encontro entre Bolsonaro e Curió é mais uma provocação do presidente contra a democracia brasileira. Mais uma vez ele faz questão de afirmar que tem lado e que não tem nenhum apreço as liberdades democráticas nem aos direitos humanos sendo então um admirador de regimes autoritários de direita. É necessário denunciarmos esses movimentos contra democracia encabeçados pelo presidente sob pena de termos uma nova ditadura no Brasil. 

 

LEIA MAIS

Os povos indígenas sob ataque: o governo Bolsonaro e a agenda de garimpeiros e mineradores