Pular para o conteúdo
BRASIL

Duas trabalhadoras morrem salvando vidas no Hospital Universitário da UFF

Gabriel Moreira Thomaz*, Patrícia Santiago* e Reginaldo Costa*, de Niterói, RJ
Divulgação / Jornal O Fluminense

No 1º de Maio, Dia de Luta dos Trabalhadores, faleceram duas trabalhadoras do Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP), da Universidade Federal Fluminense (UFF). A enfermeira Luciana Roberto de Souza e a auxiliar de enfermagem e militante sindical Maria Ignez Marques Procópio morreram combatendo a Covid-19.

Luciana Roberto trabalhava como técnica de enfermagem na UTI Coronariana do hospital, e era querida e admirada pelos seus colegas de trabalho. Ela iria completar um ano no HUAP – foi convocada pela EBSERH em abril do ano passado. A auxiliar de enfermagem Maria Ignez, de 72 anos, trabalhava há 40 anos na universidade e era uma ativista da categoria, já tendo sido delegada de base e coordenadora do SINTUFF, que divulgou nota informando: “Perdemos Inês para o Covid-19, doença potencializada pela negligência e pelo negacionismo do governo e de gestores”. Toda a nossa solidariedade aos familiares e amigos das duas trabalhadoras.

LEIA MAIS Servidoras do HUAP farão ato nesta terça, Dia da Enfermagem

Não é mera coincidência que sejam duas técnicas, mulheres, ambas negras, pois, dentro da precariedade da vida universitária, imposta pelos cortes do governo federal, são os setores que mais sentem essa dura realidade. O congelamento dos salários, aumento da jornada de trabalho, assédio moral, péssimas condições de trabalho, perseguição à livre organização sindical são alguns dos obstáculos cotidianos que esses trabalhadores enfrentam.

Mulheres e negros sofrem mais intensamente a precariedade da situação da educação pública federal, pois estão na linha de frente no combate da pandemia. Mulheres adoecidas pelo trabalho cuidando de outros trabalhadores e expondo seus corpos aos riscos da infecção pelo vírus. Durante o enfrentamento a pandemia os trabalhadores da UFF seguem arriscando suas vidas, pois não há número suficiente de Equipamento de Proteção Individual (EPI), fundamental para não haver contaminação durante o tratamento dos pacientes. Essa condição precária é acentuada por uma administração privada (EBSERH) sobre o Hospital Universitário da UFF, Antônio Pedro (HUAP), que persegue trabalhadores que não aceitam sua administração autoritária. Mesmo assim, Luciana e Maria continuaram salvando vidas. 

O discurso privatista prega que não trabalhamos o suficiente. Dizem que somos uma categoria de servidores públicos privilegiados. Nos rotulam de malandros, como se fosse possível a universidade pública continuar funcionando sem os seus trabalhadores, sem investimentos ou mesmo conduzida por empresários, como propõe o governo federal. Irresponsáveis e desonestos, dizem que o problema da crise econômica atual são os gastos com o funcionalismo público, mas esse episódio trágico só mostra o oposto. Luciana e Maria não eram mero “gasto”! Eram profissionais dedicadas a salvar vidas, independente de quanto as pessoas doentes tinham no banco. Elas e tantos outros profissionais do setor público da saúde e das universidades federais e estaduais atuam orientados pelo interesse público! Garantem a qualidade de vida do povo! 

Enquanto isso, os planos de saúde e a indústria farmacêutica atuam de acordo com as regras de mercado, enxergando vidas como possibilidades de lucro, fazendo lobby no governo para destruir o SUS, a pesquisa, a tecnologia nacional, a produção de conhecimento nas universidades e os serviços públicos que atendem o povo pobre. Realmente nos dá uma sensação contraditória de esperança, mas também de muito ódio. 

Esperança porque, ainda temos milhares de profissionais da saúde, pesquisadores, professores trabalhando para o público, para o povo. Pessoas que defendem a urgência de garantirmos saúde pública para a população. Por outro lado, sentimos profundo ódio porque vemos pessoas pedindo a deus que salve a todos da Covid 19, mas continuam a apoiar esse presidente lunático, que quer destruir a saúde pública e as universidades cortando verbas, congelando salários e vendendo serviços de saúde para megacorporações como se fossem picolés, enquanto pessoas como Luciana e Maria arriscam a vida para salvar pessoas. 

Por isso, Luciana e Maria não eram mero “gasto”! Elas faziam parte da verdadeira base de uma sociedade que se pretende humana de fato, que se preocupa com as vidas. Precisamos de mais estrutura nos hospitais, centros de pesquisa públicos e melhores salários para que não percamos mais profissionais de saúde, como Luciana e Maria Ignez e tenhamos melhores condições de salvar vidas. 

Luciana e Maria Ignez representam a luta do povo brasileiro contra o Covid-19, a resistência ao obscurantismo de Bolsonaro, que nega a doença e joga o país numa catástrofe; mas acima de tudo, representam a luta dos profissionais da saúde do setor público e o papel estratégico das universidades públicas na promoção de qualidade de vida dos trabalhadores pobres. 

Quando vierem com esse palavrório de que as universidades públicas são apenas “gastos”, que o funcionalismo é caro pros cofres públicos, lembremos dessas duas lutadoras, dessas trabalhadoras da universidade pública, Luciana e Maria Ignez, que salvaram vidas, enfrentando as dificuldades impostas por esse governo. 

Por elas duas e todas e todos, vamos continuar organizando a esperança em todos os lugares. Nossas trabalhadoras e trabalhadores do Hospital Universitário da UFF serão sempre lembrados como expressão da solidariedade entre os trabalhadores, do amor à vida.  Vamos transformar este momento de luto em luta! Dar a volta por cima! 

IGNEZ E LUCIANA, PRESENTES!

 

* Gabriel Moreira Thomaz é estudante de graduação em Serviço Social da UFF e militante do Afronte!.
Patricia Santiago é Conselheira Universitária da UFF, representante da bancada dos técnicos. Também é mestre em Sociologia e Direito UFF e ativista da Resistência Feminista e do movimento 8M de Niterói.
Reginaldo Costa é professor da Faculdade de Educação da UFF e diretor do Sindicato dos Docentes da UFF (ADUFF).

 

LEIA MAIS

Servidoras do HUAP farão ato nesta terça, 12, Dia da Enfermagem

Por uma campanha em defesa da segurança dos profissionais de saúde