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BRASIL

Servidoras do HUAP, em Niterói, farão ato nesta terça, Dia da Enfermagem

Lute como uma enfermeira do HUAP – nosso grito feminista e antirracista

Patrícia Santiago*, de Niterói, RJ
Divulgação

 

Nesta terça-feira, 12/05, será realizado um ato às 14h, em frente ao Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP) em homenagem a duas trabalhadoras do hospital que morreram por Covid-19 no dia 1º de Maio: a técnica de enfermagem Luciana Roberto de Souza e a auxiliar de enfermagem e militante sindical Maria Ignez Marques Procópio.

A mobilização respeitará as medidas de distanciamento social e contará com a participação apenas dos profissionais de saúde lotados no hospital. Niterói e o Estado do Rio de Janeiro estão em lockdown, por conta do covid-19. O ato é convocado pelo sindicato da categoria, o SINTUFF, e tem o apoio dos fóruns de luta da cidade, como o da saúde, o sindical e o de luta por moradia.

O protesto fará parte de uma série de iniciativas que ocorrerão em todo o país no Dia Internacional da Enfermagem que ganhou amplitude depois do último Dia do Trabalhador (01 de maio) em Brasília quando enfermeiras que realizavam uma manifestação pacífica e simbólica de luto pelos mortos do coronavírus foram verbal e fisicamente atacadas por defensores do governo Bolsonaro. Uma das enfermeiras que organizou o protesto em Brasília, Karine Afonseca, da Resistência Feminista, enviou um vídeo apoiando o protesto no HUAP.

No Brasil foram registradas 11.309 mortes provocadas pela Covid-19 e 165.475 casos confirmados da doença. Este aumento da curva epidêmica tem gerado um colapso no sistema de saúde que já não consegue atender as demandas de leitos em UTI, respiradores e testagem para a população. Para os profissionais de saúde a situação é ainda pior, pois muitos precisam expor seus corpos aos riscos da infecção trabalhando com a falta de equipamentos de proteção individual.

Segundo apuração que vem sendo feita pelo Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), mais de 11 mil servidores(as) da enfermagem já foram infectados(as) no País e 91 faleceram. Isso sem contar outras categorias da saúde e a assistência social, que estão na linha de frente.

O preço da privatização

Em 2016, após uma polêmica votação no Conselho Universitário da UFF, sob forte repressão policial, o HUAP passou a ser gerenciado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Nas assembleias realizadas no refeitório do hospital são recorrentes as denuncias da falta de condições de trabalho, incluindo EPIs, problemas no pagamento da insalubridade e assédio moral.

O caso da UFF não é isolado. A privatização do sistema de saúde foi uma política largamente implementada no Brasil nestas últimas décadas de governos neoliberais e significou um aumento do processo de precarização do trabalho para os seus profissionais. Relatos apontam para a existência de enfermeiras que chegam a trabalhar 80 horas semanais, mantendo vínculos com vários hospitais, para garantir o sustento da família. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a jornada de trabalho extensa é um dos indícios de trabalho precário. 

Quem caminha pelos corredores do HUAP em Niterói percebe logo quais rostos estão hoje na linha de frente ao combate à pandemia. Não é mera coincidência que as duas trabalhadoras mortas pelo Covid-19 e que serão homenageadas no ato amanhã, sejam mulheres e negras. A perda de direitos e condições dignas de vida também foi acompanhada da feminização da força de trabalho na área da saúde. 

Pesquisa realizada pelo IBGE revelou que na década de 2000, as mulheres eram 90,39% entre as enfermeiras. Já, entre os profissionais de nível médio elas representavam 78,03% das atendentes de enfermagem e 86,93% das técnicas e auxiliares de enfermagem. (1)

Agora, em meio à pandemia, são estas mulheres, em sua maioria negras, que estão sendo requisitadas para salvar vidas. Mulheres para quem foi historicamente destinado o trabalho do cuidado, justamente por ser socialmente desvalorizado. São elas que vão cuidar diretamente dos pacientes infectados tendo contato físico com fezes, saliva e fluídos. Nossas heroínas com os rostos exauridos pelos baixos salários, terceirização e sobrecarga. 

Por isso, neste dia 12 de maio, é preciso fortalecer o dia internacional da enfermagem como uma ação coletiva de caráter feminista e antirracista. Garantir a visibilidade para o trabalho daquelas mulheres esquecidas pela grande mídia que sempre exalta em seus telejornais a dedicação dos médicos, em sua maioria homens. Lute como uma enfermeira deve ser nosso grito feminista e antirracista pela vida de toda a classe trabalhadora!

Ignez Presente! Luciana Presente!

 

* Patrícia Santiago é servidora da UFF, representante dos técnicos-administrativos no Conselho Universitário e militante da Resistência Feminista.

 

Notas

1 WERMELINGER, M. et al. “Feminilização do Mercado de Trabalho em Saúde no Brasil: focalizando a feminização”. Divulgação em Saúde para Debate, Rio de Janeiro, n. 45, p. 54-70, maio 2010.

 

 

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