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BRASIL

Ritmo de crescimento das mortes no Brasil segue quase o dobro da média mundial

Sistematização: Gilberto Calil

O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. Incluímos também a Coréia do Sul, que já esteve entre os países com maior número de mortes e hoje é o 37º, sendo exemplo bem sucedido de contenção da pandemia. O cálculo do ritmo de expansão é feito pelo número de mortos, já que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil torna precária a comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do que os números absolutos, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes, o que é indicado na última coluna.

O ritmo de crescimento mundial vem diminuindo de forma consistente. Há duas semanas dias era de 2.47 vezes e agora é de 1.50, uma redução muito significativa e que comprova os efeitos positivos das medidas de contenção através de política de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países. 

Dentre os 15 países com mais mortes, nove tem hoje um crescimento abaixo de 60% no período de 14 dias, o que expressa um tendência de diminuição de casos ativos., três tem um crescimento entre 70% e 80%, 3 entre 80% e 95%, e outros tem um crescimento superior a 100%: Canadá (142%) e Brasil (186%) e México (261%). O México entra no quadro dos 15 países com mais mortes depois de ultrapassar a Suíça (que cresceu apenas 29% em 14 dias), e aparece no quadro com país com maior ritmo de expansão das mortes, ainda que deva-se mencionar que parte de uma base bem menos expressiva (546 mortes em 18/4).

 O ritmo de crescimento do número de mortes no Brasil segue muito elevado, sendo praticamente o dobro da média mundial e já sendo o oitavo país com mais mortes, e deve passar a Alemanha hoje. No país, o número de mortes dobrou em 10 dias, enquanto no mundo levou 20 dias para isto, e o número de casos dobrou em 9 dias, enquanto no mundo levou. Estamos no epicentro mundial da pandemia, junto com Estados Unidos e Reino Unido. O Brasil tem o segundo maior ritmo de crescimento de casos e de mortes, é o segundo país do mundo com maior número de pacientes internados em estado grave (16,4% do total mundial), e nos últimos dias, em números absolutos tem sido o terceiro do mundo em novos casos (depois de EUA e Rússia) e também em mortes (depois de EUA e Reino Unido).

Além disto, desde o discurso de Jair Bolsonaro de 24 de março, aumenta dia a dia o afrouxamento das medidas de isolamento social, o que já vem se refletindo nos dados de crescimento de mortes e coloca a perspectiva de maior piora no decorrer deste mês.

Dentre os demais países, os Estados Unidos seguem em uma situação dramática, com um índice de crescimento que continua alto, considerando-se a base já elevadíssima, e tem tido diariamente um terço do total de novos casos e do número de mortos do mundo. Itália e Espanha reduziram bastante o índice de aumento das mortes, mas ainda têm números elevados em razão da base alta que já tinham. Dividindo-se o período em duas semanas, temos que nos EUA o número médio de mortes por dia diminuiu levemente, de 2.132 para 1.921, na Espanha diminuiu de 408 para 314, na Itália diminuiu de 451 para 332, enquanto no Brasil saltou de 240 para 386, superando já Espanha e Itália.

Outros países que ainda tem menor número de casos e de mortes em números absolutos, vem tendo crescimento bastante superior à média mundial, com situação se agravando rapidamente. Dentre eles, tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias Bangladesh (4.07x), Rússia (3.66x), Bielorrússia (3.5x), Arábia Saudita (3.08x), Equador (3.04x), Catar (2.97x), Peru (2.95x), Paquistão (2.5x), Índia (2.44x) e Ucrânia (2.23). A eventual continuidade destas taxas nestes países, vários deles muito populosos, poderia impactar uma nova onda de crescimento do número de mortes no mundo na segunda quinzena de maio.

O número de testes realizados no Brasil segue vergonhosamente muito baixo (1.597 testes por milhão de habitantes). O México tem número ainda mais baixo (707). Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem números ainda pior (3.5 testes por resultado positivo, frente a 4.1 do México).  O Irão tem 3.6 vezes mais testes por milhão de habitantes (5.769) que o Brasil e todos os demais países já passam de 10.000 testes por milhão.

O ritmo de crescimento do número de mortes no Brasil, a despeito da enorme subnotificação e da demora nos resultados dos exames, segue elevadíssimo. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha-se o mesmo (2.86 vezes em 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 19.305 em 16/5, 55.212 em 30/5 e 157.907 em 13.6. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que ocorreria no caso de manutenção do atual ritmo, que mostra a urgente necessidade de diminuir radicalmente os ritmos de contaminação. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas, inclusive com decretação de lockdown em algumas regiões.