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BRASIL

A escalada golpista não está de quarentena 

Matheus Ribeiro, de Belém, PA

Sob os gritos de “intervenção militar já” e “AI-5”, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez descumpre as medidas de isolamento social como meio de prevenção ao novo covid-19 marcando presença em um ato realizado em frente ao quartel general do exército, em Brasília. O ato reuniu centenas de apoiadores e simpatizantes da ditadura militar, período genocida da história brasileira que deixou marcas profundas em toda uma geração.

Durante uma pandemia mundial, onde o número de mortes já ultrapassa os 2.000 e o número de casos já está na ordem dos 30.000 com promessas de um aumento considerável pela frente, o presidente da República, ao invés de pensar medidas para sair dessa crise com a mínima quantidade de danos a população prefere usar seu tempo para incitar e incentivar atos que atacam diretamente as instituições democráticas e a democracia como um todo.

Assim foi o domingo, 19, dia nacional do exército, marcado por manifestações pedindo a volta do sanguinário regime militar, que torturou, prendeu e matou arbitrariamente seus opositores, que fechou instituições democráticas como o Congresso Nacional, que proibiu a livre organização e que perseguiu ferrenhamente qualquer um que ousasse questioná-lo.

Em uma manifestação que lembra muito a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada em 1964 e que na época deu o aval que os militares precisavam para dar início ao golpe de 1964 e instaurar o regime de terror que se impôs posteriormente, manifestantes gritavam incessantemente pedindo o retorno a esse passado com um ar saudosista, da mesma forma que Bolsonaro quando fala do mesmo período.

Uma das coisas mais inquietantes é a participação do presidente da República nesses atos, visto que no papel de um chefe de estado, deveria zelar pela democracia e mostrar respeito pelo processo que o colocou nessa posição. Bolsonaro nunca teve pudores ao se referir ao período cruel que foi a ditadura militar, já chegando a defender publicamente o AI-5 e homenageando torturadores como na sessão que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff.

Bolsonaro quebra protocolos e ignora recomendações de organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde ao incitar aglomerações de caráter antidemocrático e negar a necessidade do isolamento social para conter a crise aberta pelo covid-19. E faz isso sob o silêncio das instituições que ataca, que resumem suas “respostas” à tweets de desaprovação às atitudes do presidente, em vez de empreenderem medidas mais enérgicas frente aos crimes de responsabilidade que vem cometendo.

Diante disso, precisamos continuamente denunciar todo e qualquer ataque às instituições democráticas e defender a democracia das ameaças de lunáticos que querem o retorno a um tempo de censura e repressão. Precisamos ainda defender as medidas de isolamento social e as recomendações da OMS diante do negacionismo crescente e que se traduzem na figura do presidente, que não encara a crise com a responsabilidade e seriedade que ela requer. Pelos que tombaram e foram torturados nesse regime de horror gritemos: ditadura nunca mais.

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