Aproveitando-se da calamidade provocada pelo COVID-19, o empresário e secretário de educação do Paraná, Renato Feder, lançou mão de um questionável projeto de “Educação à Distância”, para substituir as aulas presenciais na rede pública estadual. Tentando agradar os educadores com o discurso de que assim não haveria a necessidade de reposição das aulas e, por outro lado, os pais e os próprios estudantes, indicou que o projeto atenderia 90% dos educandos do Paraná. Nada mais distante da realidade.
Com o aval do governador Ratinho Junior, Feder organizou uma equipe às pressas e tenta, de maneira antidemocrática e atropelada, implementar esse projeto. O resultado não poderia ser outro: improviso, baixa qualidade, gastos enormes e desrespeito aos estudantes, pais e educadores(as).
O Diretório Estadual do PSOL vem a público apresentar sua contrariedade ao projeto de Renato Feder, pelos seguintes motivos:
1 – Pedagógico
Educação à distância é uma modalidade de ensino importante, mas em contextos determinados. A maioria dos estudantes da educação básica ainda não têm autonomia para acompanhar essa modalidade. Seus responsáveis não receberam qualquer orientação, muitas vezes não dispondo sequer de tempo para acompanhá-los. Os professores não tiveram uma formação específica. Com um pequeno grupo de educadores gravando aulas para todo o estado, o resultado são conteúdos descontextualizados, sem relação com o que estava sendo desenvolvido em cada escola.
2 – Elementos operacionais
Pesquisas mostram que apenas 30% dos lares possuem computadores. Os celulares, mais comuns, não possuem muitos recursos e a capacidade de armazenamento é pequena. O acesso à internet é limitado. Muitos estudantes da rede pública vivem em casas com apenas uma televisão, tendo que compartilhar seu uso com outros membros da família.
3 – Orçamento
O governo está gastando uma fortuna em contratos sem licitação, com redes de televisão e empresas de telefonia, engordando o bolso de empresários, para impulsionar um programa educacional de baixa qualidade.
4 – Justiça social
Essa proposta reforça as desigualdades sociais, com a maioria dos estudantes sendo excluída ou com pouco aproveitamento dos conteúdos. Não somos contra o Estado oferecer programas de formação científica ou cultural, de modo complementar aos estudos regulares. É mesmo uma de suas tarefas. O problema é considerar que isso pode substituir as experiências vivenciadas no espaço escolar.
5 – Enfrentamento a Pandemia do Covid-19
Todos os esforços dos brasileiros neste momento devem estar voltados para o enfrentamento da pandemia que vem se acentuando com o passar do tempo. Demandar das famílias tempo e energia para garantir cumprimento de grade curricular é menosprezar os assuntos mais urgentes que precisamos debater e informar à população neste momento caótico, em que a maioria das famílias sofrerão com o adoecimento e morte de entes queridos, dentre tantas outras dificuldades que assolam a nossa população.
Conclusão:
Não é de hoje que os empresários que tratam a educação como um negócio e estão de olho no mercado de Educação à Distância para saciar sua sede de lucro fácil. Em momentos de crise essa aposta é redobrada, já que novos mercados precisam ser explorados, os custos diminuídos e os lucros ampliados. Viemos denunciar que milhares de estudantes do Paraná estejam sendo usados como cobaias desse projeto político-empresarial. Isso é um crime!
O PSOL faz um chamado à comunidade escolar e a sociedade para defender a educação pública. Para isso, antes de mais nada é preciso priorizar o cuidado com a vida. Fazer o que Feder e Ratinho Junior querem na educação, nesse momento, significa ferir o direito à educação de qualidade.
Defendemos a reorganização dos calendários escolares de 2020 e 21, incluindo as datas do ENEM e dos vestibulares. Só após tudo isso passar, debater de maneira ampla e democrática com a comunidade escolar as formas de reposição dos conteúdos, com responsabilidade e qualidade.
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