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BRASIL

O Sábado de Aleluia, a carreata dos judas e a resistência nas janelas

Lucas Scaldaferri, de São Paulo, SP 

A Semana Santa é, para o calendário dos cristãos, uma data importante. Na sexta, tem-se a crucificação e morte. No sábado, o luto e, domingo, a ressurreição do salvador, Jesus Cristo.

É também no sábado de Aleluia que o cristianismo popular brasileiro vinga-se do traidor. É o momento de malhar o Judas Iscariotes, o discípulo que entregou Jesus para a tirania dos romanos.

A tradição muito viva nas periferias e nas cidades do Interior é representada pela queima ou enforcamento de um boneco, o Judas. A representação quase sempre ganha contornos políticos com o boneco do Judas sendo apelidado com nomes de políticos que o povo reconheça como traidor.

A pandemia causada pelo novo coronavírus nos impediu de viver a Semana Santa como em anos anteriores. A maioria dos cristãos, e demais segmentos religiosos, ou não, da sociedade brasileira, mantiveram o isolamento social como medida para conter a proliferação da doença. Entretanto, um pequeno setor se aglomerou em algumas cidades.

Como verdadeiros adoradores de Judas, ou de algum Capitão do Exército Romano, uma carreata foi organizada em São Paulo para exigir o fim do isolamento social. Motos, carros, caminhões percorreram a capital paulista numa verdadeira marcha fúnebre e insana identificada com o presidente Jair Bolsonaro.

VÍDEO – Bolsonaristas usam Carro de som no centro do Rio de Janeiro para defender fim do isolamento social

Somente o Estado de São Paulo já é responsável por metade das mortes da covid-19. Caso o frágil isolamento social, que só atingiu metade da população, não seja ampliado,o número de mortes será ainda maior.

Mas nem tudo é desgraça. A batalha das janelas em São Paulo vem ganhando novos elementos. O campo progressista resolveu cantar em resposta às provocações bolsonarista. “Evidências” foi até agora o maior hit, com mais vozes no meu prédio e condomínios vizinhos. Quando terminamos nossas canções eles vaiam e respondemos com palmas e Fora Bolsonaro. Algumas janelas também se manifestam pedindo músicas ou artistas preferidos. Mesmo no isolamento social,e conseguindo nos fortalecer, o que fazemos agora vai contar para quando podermos voltar às ruas.

Neste domingo de Páscoa, fique em casa, se confraternize com os  familiares e amigos por vídeo-chamada ou telefone. E só saia por duas razões nobres. A primeira se você for um daqueles ou daquelas que estão na linha de frente da defesa da sociedade nos chamados trabalhos essenciais. A segunda se você vai ser solidário com quem mais precisa de ajuda neste momento.