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EDITORIAL

Bolsonaro prepara um massacre

Salvar vidas, não os lucros! Fora Bolsonaro e Mourão!

Editorial de 30 de março de 2020

Institutos científicos e especialistas estimam que o Brasil poderá ter centenas de milhares de mortos se não tomar medidas extremas de distanciamento social e não realizar testes em massa.

Até este domingo (29), foram mais de 720 mil infectados e 33 mil mortes no mundo. No Brasil, contabilizavam-se mais de 4.200 casos e 139 mortes. Segundo a Fiocruz, há uma explosão de internações por problemas respiratórios graves no país, o que indica uma significativa subnotificação de casos de Covid-19.

Enquanto a doença se dissemina rapidamente, Jair Bolsonaro se mantém firme no propósito de promover um massacre no país, especialmente da população trabalhadora mais pobre. Contrariando as orientações da OMS, o presidente genocida afirmou que por ele “todo mundo voltaria ao trabalho”, sendo necessário apenas o isolamento dos idosos.

Bolsonaro sustenta a falsa ideia de que “a cura pode ser pior do que a doença”, ou seja, de que as consequências econômicas serão mais prejudiciais que a perda de vidas. Este argumento não resiste à prova dos fatos. Primeiro, porque se a propagação do vírus não for controlada, levando ao colapso do sistema de saúde, os impactos econômicos serão ainda maiores. Segundo, porque é possível proteger a vida e garantir a sobrevivência econômica das pessoas ao mesmo tempo. Bolsonaro e os empresários que apóiam sua proposta assassina também não levam em conta que a livre proliferação do vírus, e as centenas de milhares de mortes que essa situação provocaria, terão por efeito a criação de um “cordão sanitário” internacional contra o Brasil, levando a crise econômica a um patamar ainda mais elevado.

Não precisamos escolher entre morrer de vírus ou morrer de fome. Há recursos disponíveis para sustentar a quarentena remunerada de toda população que não esteja em trabalhos essenciais. Com a taxação dos super-ricos e dos bancos, a suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes credores e a utilização do Fundo Soberano da União, seria possível garantir um renda básica digna para toda população trabalhadora afetada, bem como o socorro a todas pequenas e microempresas em dificuldades. Além disso, com a proibição de demissões, distribuição de cesta básica e isenção de pagamento de água, luz e aluguel, haveria um suporte mínimo para viabilizar o isolamento social necessário.

Mas esse não é o plano de Bolsonaro, muito pelo contrário. Jogando com o desespero das pessoas perante a crise econômica monumental, o fascista busca convencer a população de que é preciso voltar ao trabalho. Assim, atende aos interesses da fração do empresariado que aderiu ao neofascismo. Dentro de carros luxuosos e com janelas fechadas, patrões pedem nas carreatas bolsonaristas que seus empregados voltem ao serviço.

Jair Bolsonaro sabe que a expansão desenfreada da Covid-19 produzirá milhares de mortes, sobretudo dos mais pobres. Mas ele não se importa com a perda de vida humanas. Seu objetivo é manter a horda de seguidores bolsonaristas organizada e ativa, pronta pra ocasião de um golpe que lhe dê poderes absolutos. Por isso, atua estimulando entre seus seguidores a ideia de ações autoritárias.

Mas a política criminosa de Bolsonaro não está passando desapercebida pela maioria da sociedade. Nas últimas semanas, o desgaste do presidente aumentou consideravelmente, como se viu nos panelaços, pesquisas de opinião e monitoramentos de redes sociais. Houve um deslocamento social e político que fez a oposição ao governo crescer em todas as classes sociais, embora Bolsonaro ainda mantenha uma expressiva base de apoio.

A crise política escalou com o enfrentamento público de Bolsonaro com a maioria dos governadores, o Congresso, a grande imprensa e setores do Judiciário. Segundo artigos publicados na imprensa, até mesmo a cúpula das Forças Armadas estaria se distanciando de Bolsonaro.

Nesse momento de maior desgaste e enfraquecimento do Executivo, a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” expressa o sentimento de milhões de brasileiros que sabem que esse governo não pode continuar, sob o custo de perdemos milhares de vidas. E as nossas vidas importam em primeiro lugar.

É tarefa da esquerda, sindicatos e movimentos sociais apresentar, de modo unificado, um programa de medidas emergenciais para salvar vidas e defender a classe trabalhadora da crise econômica. Ao mesmo tempo, é preciso vincular a realização desse plano de salvamento sanitário, social e econômico à queda de Bolsonaro e Mourão e à convocação de novas eleições presidenciais assim que possível.

Como vem alertando o PSOL, o governo da morte precisa ser interrompido antes que seja tarde demais. Concordamos também como a nota do partido quando diz: “Por ora, podemos afirmar com convicção que Bolsonaro cometeu reiterados crimes de responsabilidade (base jurídica para o impeachment) e também crimes eleitorais, como argumenta ação apoiada pelo PSOL que tramita no TSE (o que poderia ensejar a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão e a convocação de novas eleições)”.

Os governadores da direita, como João Dória (SP) e Wilson Witzel (RJ), buscam aparecer como alternativa às políticas criminosas de Bolsonaro, assim como Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Luciano Huck, a Globo, entre outros. É positivo que esses setores estejam se enfrentando com Bolsonaro. Mas não devemos depositar nenhuma ilusão nessas representações da grande burguesia. Ainda que de modo diferente de Bolsonaro, eles também querem que a classe trabalhadora e os mais pobres paguem a conta principal dessa crise. Tanto é assim que Dória e Witzel não determinaram a paralisação de todos trabalhos não essenciais, colocando em risco de contaminação milhões de trabalhadores. E Rodrigo Maia insiste em cortar salários dos servidores públicos, justo agora que o Brasil mais precisa deles, nos hospitais salvando vidas, nas universidades e centros de pesquisa buscando curas, enfim, no conjunto dos serviços essenciais que só os trabalhadores do Estado podem prover.

A esquerda, sindicatos e movimentos sociais precisam se unir para se apresentarem como alternativa política nesse momento de grave crise. Não podemos deixar nas mãos da direita tradicional a direção da oposição a Bolsonaro. A declaração conjunta de vários partidos anunciando que irão entrar na Justiça contra o governo e a declaração dos partidos de oposição e principais lideranças de esquerda apresentando um plano de medidas emergenciais e a necessidade da queda do governo Bolsonaro são iniciativas importantes.

Junto com isso, é preciso avançar nas lutas de resistência e nas ações de solidariedade nos bairros e locais de trabalho. Afinal, diante da barbárie que avança, a esperança está capacidade de luta do nosso povo explorado e oprimido.