Em meio a uma das maiores crises sanitárias da humanidade, temos um presidente que incita a população a voltar à “normalidade”, atendendo ao chamado de uma elite desprezível que só pensa nos lucros e que desdenha da existência de milhares de pessoas. Não pegou nada bem!
De olho na corrida pela cadeira presidencial, o governador paulista, João Doria, “tenta” aparecer como um gestor responsável, que pensa na vida das pessoas em primeiro lugar.
Não nos enganemos. Doria se elegeu colado na popularidade do capitão e, recentemente, defendeu a proposta de MP da fome de Bolsonaro. Ambos apoiados pela mesma elite que os viram como os melhores agentes públicos a serviço de seus interesses, estão dispostos a sangrar os trabalhadores e servidores públicos sem nenhum pudor para garantir seus lucros. Por isso, a alcunha Bolsodoria segue sendo verdadeira.
Na Educação, Doria e o Secretário da pasta, Rossieli Soares, demoraram a fechar as escolas totalmente; demitiram as cozinheiras terceirizadas e insistem em dar ares de normalidade ao curso das aulas, desta vez à distância.
Ora, o governo e a Secretaria de Educação já não garantiam as condições normais para qualidade na aprendizagem mesmo antes da pandemia. Professores têm sido heroicos e, mesmo com um salário indecente, fazem o possível e o impossível para que os alunos aprendam o máximo. Na maior parte das escolas da rede estadual o que se verifica ao passear pelas salas de aula é o velho trio “giz, lousa e garganta”, em jornadas extensas e salas numerosas.
As tais salas de informática, totalmente sucateadas, e salas de multimídia (salas de vídeo) são poucas, geralmente uma por escola, quando existem e, portanto, disputadas entre docentes e eventos escolares.
Assim, a era digital, da internet das coisas ainda não entraram nem na sala de aula nem no cotidiano profissional dos docentes. Não existe sequer Wi-fi disponível para os professores nas escolas, com exceção de uma ou de outra unidade.
Se nem todos os professores estão integrados ao contexto virtual, por uma série de questões, sejam salariais, sejam culturais ou por falta de profunda formação, tentem imaginar os alunos, em especial aqueles que, antes do confinamento social, tinham na escola sua única refeição do dia?
Então, o ensino à distância que o governo paulista vem anunciando é mais uma medida pirotécnica e, a nosso ver, sem eficácia. Educação é coisa séria, não se faz assim, de improviso.
De boas intenções…
Utilizar o isolamento social profilático para impor uma política improvisada, de resultados duvidosos e de caráter privatista é inaceitável. O EAD significará instruções, em muitas situações, improvisadas. Chegando alguns conteúdos para alguns alunos e nada para outros que não tiverem acesso.
Estudos apontam que diversos alunos que se matriculam nesta modalidade no Ensino Superior (seja pelo preço, ou pela falta de tempo), terminam desistindo ao longo do percurso por não conseguirem se concentrar, por não terem disciplina de estudar o número de horas mínimas por dia ou por não terem a infraestrutura adequada e necessária.
Se é assim no Ensino Superior, espera-se algo diferente na Educação Básica? E quanto ao grande número de alunos que, pela falta de investimento dos governantes, denunciado todos os dias pela sociedade civil organizada, ainda não estão totalmente alfabetizados? Ficam para depois! Depois quando?
Num momento de confinamento, temos sim que apostar que os adultos se aproximem dos jovens e os ajudem a melhor dimensionar o tempo, inclusive culturalmente. Mas todos que estamos no isolamento social sabemos o quão estressante estão estes dias. Diferente do que diz o então presidente, de normal nossos dias não têm nada.
E outra: Qual a qualidade destas aulas, preparadas sob pressão e assédio moral por parte da Secretaria de Educação que pressiona os professores a improvisar aulas e atividades a toque de caixa em meio a cobranças pelas redes sociais.
Esse discurso não tem nada a ver com igualdade ou equidade.
Por trás do Ensino à distância, a privatização.
Os movimentos do governo não são uma novidade. Doria tem uma gestão voltada para o Estado mínimo e abre caminhos para privatização. O plano de gestão: “Educação para o Século XXI”, apresentado no início do ano, foi construído em parceria com organizações não governamentais como o Instituto Ayrton Senna, por exemplo, que vê no setor a oportunidade de lucros com baixos investimentos. Afinal, os professores estão sendo estimulados a compartilharem massivamente suas boas práticas e estes conteúdos podem ser a base de uma mercadoria a ser selecionada e ofertada num negócio altamente lucrativo, que são as plataformas educacionais digitais. Um tiro nos pés dos professores que podem pôr em risco sua profissão num futuro próximo.
Defender as vidas e os serviços públicos
Hoje a principal tarefa é nos manter sãos, física e mentalmente, em defesa de nossas vidas e dos demais. A grande expectativa é voltarmos para o chão da escola em breve e fazer o melhor, sempre defendendo os serviços públicos, onde atuamos. Nossa vocação enquanto trabalhadores da Educação pública, é lutar por espaços escolares cheios de vida, onde a juventude possa se beneficiar da convivência em grupo e da pluralidade de experiências cognitivas, sociais, culturais e afetivas.
Professores, agora é hora de ler bons livros para nos fortalecermos. A melhor coisa à Distância que podemos fazer é estimular laços de solidariedade e, por que não, lançar uma campanha “Doe ou troque livros com seus vizinhos”? Aos que ainda não leem, presenteie com um gibi. Eu aprendi a ler assim, com a Turma da Mônica em casa e uma professora valorosa na escola. Incentivar a leitura é armar consciências.
Professores batam suas panelas e Resistam!
* Professora e militante do PSOL Guarulhos.
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