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BRASIL

Coronavírus desmascara de vez governo Bolsonaro e extrema direita brasileira 

Frederico Costa*
Reprodução

Campanha pelo isolamento “vertical”

No Brasil, país periférico de passado escravista colonial, convergem duas crises, a da pandemia do coronavírus e a do capitalismo mundial. Para piorar, vive-se sob um governo de extrema direita fruto de um golpe de Estado (2016) e de uma eleição fraudulenta (2018). A emergência do neofascista Jair Bolsonaro à presidência da República deu-se como produto de quatro vetores: 1) uma severa crise do capitalismo; 2) crise das instituições políticas burguesas; 3) uma movimentação reacionária de camadas médias, inicialmente de forma autônoma; 4) o uso pelo grande capital dessa exasperação pequeno-burguesa contra o movimento organizado dos trabalhadores e as conquistas democráticas. Tal padrão foi identificado por Trotsky na ascensão do fascismo na Europa nos anos 20 e 30 do século XX. Para maiores detalhes, conferir “Fascismo: ontem e hoje”

Para implementar o programa do grande capital estrangeiro e interno, o governo Bolsonaro utilizou-se de um complexo de ideologias reacionárias: defesa da ditadura militar, subserviência aos EUA, obscurantismo religioso, meritocracia, valores arcaicos, enaltecimento da economia de mercado, racismo, lgbtfobia, misoginia e anticomunismo. Com isso retirou recursos da saúde e educação; destruiu a previdência pública; atacou sem-terras, sem-tetos; indígenas e quilombolas; aniquilou direitos trabalhistas e aumentou a repressão sobre os movimentos sociais. E, tudo isso com a conivência do Congresso Nacional e do Poder Judiciário.

No entanto, apesar dessa ofensiva que vem aumentando a superexploração da força de trabalho e a restrição crescente das liberdades democráticas, o projeto bolsonarista não saiu ileso.

A economia caminha em marcha lenta, o desemprego explode acompanhado da precarização maior das relações de trabalho e o empobrecimento vem atingido setores mais amplos da população. Até setores da burguesia e das camadas médias, que vestiram o verde-amarelo do neofascismo, sentem o gosto amargo da crise econômica. Crise capitalista, mal resolvida em 2008, e que possui razões que os desejos empreendedores das falanges bolsonaristas desconhecem.

Daí a crise recorrente do núcleo duro do bolsonarismo, sua incapacidade de organizar um partido próprio, as defecções de aliados históricos e as fissuras crescentes em sua blindagem midiática.

Porém, o salto de qualidade foi dado por um fenômeno da natureza: o coronavírus. Um agente impessoal movido por mutações e seleção natural, que vem acelerando as contradições do capitalismo no mundo e no Brasil.

De uma lapada só, como se diz aqui no Nordeste, o coronavírus desmascarou o governo Bolsonaro e a extrema direita. A defesa da família e dos costumes revelaram-se uma casca frágil para incompetência, sadismo, teorias da conspiração e sede de lucros da burguesia. Os espadachins das fake News, da “ideologia de gênero” à “mamadeira de piroca”, estão levando o Brasil para uma catástrofe sanitária e econômica. O lema é: o lucro acima de tudo, a vida de milhões que se dane.

No entanto, a solução para milhões de brasileiras e brasileiros é simples: salvar vidas, não os lucros. Os parasitas, seus políticos e ideólogos que se danem.

 

*Frederico Costa é  professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisa do Movimento Operário – IMO.