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Colunas

Pandemia, os crimes de Bolsonaro e os panelaços

Flávia Mattos

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Estamos em meio a uma profunda mudança no cenário mundial, com a combinação perversa entre “hecatombe” provocada pela pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) e uma forte intensificação da crise econômica internacional, colocando no horizonte a abertura de período histórico de grandes incertezas.

Antes da Pandemia, já estava em curso uma desaceleração na economia mundial, que podia até a levar a uma recessão em alguns meses. Entretanto, a eclosão da atual pandemia, com a força e dimensão com que ela se apresentou, vai acelerar todos os tempos.

A discussão entre os analistas econômicos não é mais se vamos para uma recessão, mas sim qual será a sua real dimensão. E, não está descartada, inclusive, uma queda abrupta e profunda da economia mundial – uma chamada depressão econômica.

Para além das graves consequências econômicas e sociais deste processo, a pandemia da Covid-19 segue seu curso ascendente e cruel. Os números mundiais já chegaram, na última sexta-feira, 20, a mais de 230 mil casos confirmados e ultrapassou os 11 mil mortos.

Lembrando: muitos países, como o Brasil, não realizam os testes de comprovação da doença em larga escala – ou seja, o mais provável é que exista um número de casos muito maior do que aparece nos dados oficiais.

Nosso país já vive as terríveis consequências da pandemia, os números oficiais apontam mais de 1.000 casos confirmados e 18 mortes, até 21 de março. O Brasil não está no mesmo estágio da Covid-19 que assistimos em outros países, principalmente a Itália, onde já se ultrapassou os 50 mil casos confirmados, com quase 5 mil mortos.

Mas, ninguém pode garantir que nosso país não possa viver uma situação gravíssima, com centenas de milhares de casos e centenas – ou até milhares – de mortos. Vários especialistas afirmam, no mínimo, que existe uma grande possibilidade de vivermos uma tragédia também no Brasil, nas próximas semanas ou meses.

A postura criminosa de Bolsonaro

Diante de toda a gravidade da situação que vivemos no mundo e no Brasil, causou um choque a postura irresponsável e criminosa de Bolsonaro. Por exemplo, gerou grande revolta e indignação a ida do atual presidente nas manifestações reacionárias e golpistas do último dia 15 de março, em Brasília, mesmo com a suspeita de estar infectado com a doença, inclusive se aproximando de pessoas presentes.

Mas, o verdadeiro escárnio produzido pelo neofascista Bolsonaro não parou por aí. Sua postura negacionista continuou por toda a semana. Ele seguiu afirmando que os graves riscos da Covid-19 eram exageros da imprensa e de especialistas da saúde. Chegando a falar, na última sexta-feira, durante uma coletiva, que ele já levou uma facada e não seria uma “gripezinha” que iria derrubá-lo. Mais uma atitude irresponsável e criminosa.

Os graves erros de Bolsonaro e de seu governo, seu atraso, suas medidas insuficientes, poderão gerar um contágio ainda maior entre os brasileiros e um número grande de mortes, que poderiam ser evitadas, principalmente entre os mais pobres. Mais um crime político deste governo de ódio.

O que o governo brasileiro deveria fazer, em primeiro lugar, era rever a Emenda Constitucional 95, do teto de gastos, ampliando qualitativamente os investimentos públicos na saúde e demais medidas de combate a pandemia. E, no mesmo sentido, ter decretado uma paralisação geral no país, excetuando realmente os serviços essenciais, dando as condições necessárias para trabalhadores e a maioria do povo ficarem tranquilamente em suas residências.

Concretamente: medidas como a estabilidade no emprego, pagamento integral dos salários e criação de um abono que garanta também a sobrevivência aos desempregados, subempregados e precarizados. O abono de cerca de 200 reais, apresentados pelo governo, é no mínimo um desrespeito com a vida da maioria sofrida da população.

Mesmo as medidas de alguns governadores, como Dória (SP) e Witzel (RJ), que são vistas como mais efetivas do que as do governo federal, não garantem de fato a uma paralisação realmente absoluta, e sobretudo não garantem as mínimas condições para que o povo trabalhador possa ficar em casa.

Ao invés de uma postura realmente responsável com a vida da maioria dos brasileiros, Bolsonaro está preocupado fundamentalmente em manter os lucros das grandes empresas e bancos. Por isso, se reuniu com os grandes empresários, e sinaliza com a autorização para redução das jornadas e dos salários dos trabalhadores, além da destinação de isenções fiscais para as grandes empresas.

O caminho deveria ser o inverso: por exemplo, os bancos, que vêm batendo recordes de lucratividade mesmo com as dificuldades econômicas do país, deveriam ter parte significativa de seus lucros exorbitantes destinados para os investimentos públicos necessários ao combate dos efeitos da Covid-19.

E, o que é pior, Bolsonaro seguindo a defesa de uma escalada autoritária, e de forma oportunista, ameaça usar as forças armadas para impor uma espécie de “quarentena militar”, ampliando os riscos para o fechamento do regime político durante a pandemia.

Esse governo já passou de todos os limites

A completa irresponsabilidade de Bolsonaro diante da pandemia e suas consequências sociais vem gerando também um crescimento do desgaste deste governo em parcelas cada vez mais significativas da população. Existe uma mudança, em curso, na percepção da maioria do povo sobre os efeitos nefastos deste governo neofascista.

Uma expressão genuína desta mudança no cenário político, provavelmente iniciada no último dia 15 de março, foi o surgimento dos panelaços, espalhados em todo o país, principalmente concentrados em bairros de classe média, em grande parte das capitais brasileiras. Um fato que não ocorria antes.

Outra expressão muito significativa, especialmente para a esquerda socialista, foi o aumento da disposição de mobilização de setores importantes da classe trabalhadora, que diante da irresponsabilidade de governos e dos patrões, reivindicam uma paralisação (parcial ou total) dos locais de trabalho, com licença remunerada integral.

Esse processo de luta vem ocorrendo em categorias organizadas, como nos Metroviários de SP, Metalúrgicos do Vale do Paraíba (SP), entre os Operários da Construção Civil de Fortaleza, nos Petroleiros, entre outras, mas chegou a ser sentido em mobilizações espontâneas de parte dos jovens trabalhadores dos Call Centers.

Nossa tarefa é priorizar com tudo a luta por medidas efetivas de proteção social ao povo trabalhador e a juventude, mas sem deixar por um minuto de avançar no debate, com todos os explorados e oprimidos, que precisamos fazer parar este governo. Pois, o governo Bolsonaro é uma grave ameaça aos direitos, às liberdades democráticas e, diretamente, a vida da maioria dos brasileiros.