Os anos bissextos são historicamente cercados por curiosidades. Nascer 29 de fevereiro pode ser traumático para crianças pela simbologia do aniversário. Um bebê nascido nesta data é chamado de “bebê bisexto”. Este é também o Dia Mundial das Doenças Raras. Em alguns países a data é associada à má sorte.
Deixando as crendices de lado, o dia 29 de fevereiro de 2020 para a Esquerda de Guarulhos, em especial para o Psol, ficará marcado por ter sido o dia em que uma decisão política relevante deve significar o atraso no desenvolvimento desta alternativa anticapitalista na cidade. Foi nesta data que, numa decisão de diretório, o Psol definiu apoiar a candidatura de Elói Pietá – PT como pré-candidato a prefeito já no primeiro turno, coligado com o Solidariedade.
Elói Pietá foi prefeito de Guarulhos por dois mandatos (2000-2008). O PT seguiu no governo até 2016. No início do governo de Elói Pietá, ocorre um processo agudo de municipalização do ensino, que enfrentou uma luta dos trabalhadores em educação contra essa política, que abria escolas municipais, fechando escolas estaduais e não atendendo o ensino infantil (creche e pré-escola), exatamente igual a política adotada pelo PSDB. Não fazia sentido oferecer uma modalidade de ensino (fundamental I e II) que já era oferecido pelo estado e não atender a demanda de creches e pré-escolas, obrigação do município segundo a LDB.
Ainda durante seu governo os servidores públicos municipais amargaram 1% de reposição (sempre abaixo da inflação) em total desrespeito aos munícipes, que são atendidos em equipamentos públicos municipais.
Se fosse pouco, em Guarulhos há a ocupação Anita Garibaldi (organizada a época pelo MTST), que se tornou a maior ocupação da região metropolitana. Elói, contrariando sua própria história, não moveu uma palha para regularizar a situação dos moradores, que seguem lá até hoje. Várias manifestações de servidores municipais foram reprimidas pela GCM a mando do prefeito.
Guarulhos é a segunda maior cidade do estado de São Paulo. Nada justifica o PSOL apoiar o PT coligado com o Solidariedade no primeiro turno. O PSOL deve apresentar candidatura própria, assim como fará na cidade de São Paulo. Não é possível construir uma alternativa ao projeto de conciliação de classe do PT, se coligando a ele, numa cidade que foi governada por 16 anos pelo PT.
Os argumentos utilizados pelos defensores desta tática eleitoral não evidenciam nem justificam a pressa de tal decisão. Vejamos:
- O primeiro argumento aponta para a necessidade de uma frente de esquerda para combater o bolsonarismo e seus seguidores. Não estamos subestimando o perigo da instalação de uma nova ditadura no país. Esta possibilidade é real e não podemos descartar. No entando o que devemos discutir centralmente é se há sincera disposição do PT em ajudar a derrotar o Bolsonaro nas ruas, o quanto antes, ou se a intenção de sua direção é apenas desgastá-lo, sem maiores confrontos, na espera da recuperação de fôlego eleitoral em 2022? Até lá, se sobrevivermos, a política nacional anti pobre terá feito mais outros tantos ferozes ataques ao meio ambiente, aos direitos, aos povos oprimidos e aos serviços públicos.
Derrotar o Bolsonarismo passa por construir a Frente Única para derrotar este projeto na luta direta, nas ruas. Esta é a unidade que deve ser o mais ampla possível. Isso é urgente. Para tanto, o Psol tem tido sido um exemplo com seu posicionamento na Frente Povo Sem Medo, nos movimentos, através de seus parlamentares apoiando firmemente as lutas e propondo incansavelmente esta união. A nota do Psol Guarulhos não faz nenhuma menção a esta urgente demanda da classe. Isso é bastante preocupante.
Qualquer projeto de esquerda consequente deve ter este e não outro ponto de partida. As campanhas eleitoras devem estar a serviço deste projeto e não o seu contrário. Mais que isso. As campanhas eleitorais são fundamentais para fortalecermos projetos. Em aliança com o PT qual projeto fortaleceremos? Com certeza não será o projeto do Psol, com um programa que atenda aos interesses da classe, anticapitalista e de ruptura com a burguesia. Em vez de construirmos o Psol como um partido essencial na disputa de um projeto alternativo, nos esconderemos atrás dos escombros do velho projeto de conciliação de classes representado por Elói Pietá.
- O segundo argumento é de que “o cenário eleitoral na cidade caminha para a consolidação de uma candidatura de direita, apoiada pelo governador Dória, e de outra candidatura, também de direita, do atual prefeito em busca da reeleição, assumindo para isso o discurso bolsonarista”. Pelo conteúdo desta leitura, o Psol não teria candidaturas próprias nas outras duas maiores cidades do Estado (Campinas e São Paulo). Todas as três cidades foram administradas recentemente pelo PT e substituídos por partidos de direita alinhados ou não com Bolsonaro e Dória.
- Um terceiro ponto que os companheiros defendem é de que o Psol está nesta frente “como forma de enfrentamento aos setores conservadores de nossa cidade.” Mas não é bem assim. Até a decisão do diretório do Psol, um dos poucos aliados angariados pelo PT era o Partido Solidariedade. Bora recordar! Este último é o partido do Paulinho da Força. O mesmo que, com cartaz verde amarelo escrito “Impeachment Já” puxou o coro de paródia à música de Geraldo Vandré “Dilma vai embora que o Brasil não quer você, e leve o Lula junto e os vagabundos do PT”, cujo triste vídeo pode ser conferido aqui no YouTube.
Sobre método e democracia num novo momento do Psol Guarulhos
Nestes últimos dois anos o Psol Guarulhos cresceu em número de filiados e está presente em todas as lutas de nossa cidade. Se somaram novas organizações e valorosos companheir@s que trazem trajetória de luta, fruto de importantes processos da reorganização da esquerda. Podemos afirmar categoricamente que o atual diretório não representa esta nova dimensão do partido. Reconhecemos os esforços em acomodar em seu interior a presença destes recém-chegados. Dentre estes, assessores do Vereador Edmilson, ex- PT, filiado ao Psol em 07 de março.
Não questionamos a legítima maioria da Primavera Socialista no diretório municipal mas defendemos o direito de ampla defesa e confronto de ideias, com textos, plenárias, convenção, para que a base do partido possa decidir sobre tática eleitoral, como ocorrerá na cidade de São Paulo.
A Resistência apresentou neste diretório uma proposta de resolução nestes termos, com debate nas plenárias e na convenção partidária e não houve nenhuma sensibilidade. Como um rolo compressor, a resolução de Aliança com o PT foi votada. Não há nenhum motivo para o Diretório de Guarulhos não debater nas plenárias do partido a melhor tática.
Uma vez aprovado, pelo diretório municipal o apoio a Elói Pietá, defendemos que o Psol apresentasse como critério a ruptura com o Solidariedade e exigências no programa. Propostas também rejeitadas.
A Resistência defendeu e segue acreditando que a melhor tática para Guarulhos é a candidatura própria do Psol, em aliança com a Frente Povo Sem Medo, o PCB e o PSTU
O Psol de Guarulhos se fortaleceu, pelo destaque nacional do partido, com reconhecimento, fruto não só do desempenho dos seus parlamentares, mas também pela sua atuação no terreno sindical e nos movimentos sociais. Na cidade, temos nos posicionado com protagonismo nas principais lutas da cidade e temos ganhado cada vez mais respeito na vanguarda atraindo para a suas fileiras o que há de melhor na esquerda guarulhense;
Desde o final do ano passado, uma considerável parte da militância deu o bom combate para que apresentássemos para a cidade uma alternativa classista também nestas eleições. Parte desta luta passava por incentivar as mulheres a participarem como uma das formas mais categóricas de fortalecer a luta, o partido e ajudar a avançar a consciência do conjunto da sociedade.
A Resistência colocou o nome da Professora Eliana Nunes, militante histórica da Apeoesp à disposição para representar este projeto, somente porque a corrente majoritária não o fez. Infelizmente em 2020, as mulheres seguirão sem protagonismo. Pior: em aliança com o partido golpista Solidariedade e com um programa desconhecido.
A apressada aliança com o PT e seus “aliados” impede que o Programa do Psol e o próprio partido apareçam com força nestes próximos meses.
A tática aprovada em Guarulhos interessa muito ao PT. Sem os aliados poderosos da velha oligarquia da cidade (com os quais faria coligação sem nenhum constrangimento), será o PSOL que dará a cara idônea para a chapa.
O fatídico 29 de fevereiro só será lembrado pelas redes sociais daqui a 4 anos. Até lá, lutaremos para que o PSOL Guarulhos seja uma alternativa coerente e referência para nossa classe.
Por fim, reafirmamos que essa resolução do diretório municipal do PSOL Guarulhos contraria decisão do diretório nacional do partido, que veta aliança com partidos golpistas, como o Solidariedade. Diante disso, iremos lutar nos fóruns do PSOL (plenárias municipais e convenção) contra essa resolução e iremos recorrer ao congresso nacional do partido.
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