A segunda morte de Marielle
Publicado em: 10 de março de 2020
Colunistas
Felipe Demier
Felipe Demier
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).
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Felipe Demier
Felipe Demier
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).
Possivelmente, na tal série do Padilha, quem assassinará Marielle, vereadora socialista, mulher, negra e lésbica, será o tal “sistema”. Nesse “sistema”, como de hábito, teremos polícia, políticos corruptos, indivíduos corruptores e milícia, mas nada de direita, extrema-direita, neofascismo e, claro, burguesia. Os políticos, os corruptos, os corruptores, as milícias e a polícia aparecerão, como de costume, na qualidade de atores socialmente indeterminados, peças de uma engrenagem independente e automática, que nada tem a ver com classes sociais e interesses econômicos concretos que vão muito além de meia dúzia de personagens.
Talvez, quem sabe, nem seja enfatizado devidamente o vínculo de Marielle com a esquerda, com o PSOL, possível determinante central de seu assassinato naquele decisivo ano eleitoral de 2018. E, quem sabe, seus assassinos nem sejam descritos como de extrema-direita, ligados ao bolsonarismo, projeto que só chegou ao poder depois que os mesmos “mecanismos” do Golpe fizeram com que as ideologias das “tropas de elite” ganhassem corações e mentes com a anuência do capital e seus setores “liberais”, incluindo, claro, a Globo. Domesticada, Marielle talvez apareça apenas como uma jovem menina pobre que chegou ao Parlamento como defensora dos genéricos “Direitos Humanos”, contra os quais, evidentemente, não estão a princípio nem o diretor, nem a Globo e nem seus patrocinadores, desde que, claro, o PT não complique as coisas, o que pode levá-los a alçar à Presidência da República o exterminador daqueles e de muitos outros direitos.
Ao que tudo indica, Marielle, para Padilha, será corajosa, humilde, ética, será tudo, menos socialista, e o tal sistema, “parceiro”, será o culpado, será o mandante, será o executor, será “foda”, será “cruel”, será tudo, menos capitalista.
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